Um encontro inesperado

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Gosto muito do clima festivo de final de ano, dos encontros que essa época nos proporciona e dessa coisa meio mágica que é pensar na possibilidade de um novo ano para fazermos novas coisas, deixarmos outras para trás e, sobretudo, acreditarmos que dias melhores virão. Sim, acreditar que dias melhores virão é um dos combustíveis para seguirmos em frente quando perdemos o emprego, rompemos uma amizade, não alcançamos um objetivo pelo qual lutamos muito, sofremos uma decepção amorosa, perdemos um ente querido… Se por um lado são inúmeros os motivos que nos causam angústias, incertezas, por outro, também são muitas as razões que nos fazem seguir acreditando na vida, nas pessoas, no amor, na amizade…

E esse clima bom de final de ano acaba se estendendo um pouco até o mês de janeiro, em que muita gente está de férias e promove festas/encontros para reunir amigos e familiares. Aqui no Rio Grande do Norte, isso é muito comum nas casas de praia, onde famílias inteiras costumam veranear durante os meses de dezembro e janeiro. Deve ser maravilhoso passar um/dois meses na praia. Alguns grupos de amigos também costumam alugar casas de praia para promover esses encontros, e não precisa necessariamente haver um motivo para isso, como um aniversário, por exemplo.

E foi nesse clima de festa que tive a alegria de reencontrar pessoas queridas e fazer novos amigos no dia de Santos Reis, durante a festa de aniversário de Pedro Vitor, meu sobrinho, que comemorou trinta anos junto aos amigos, à namorada, Marília Ribeiro, e alguns familiares. Anderson Franklin e a companheira dele, Cibelle Andrade, Luísa Oliveira e sua filha Joana, Yuri Carvalho e Vitor Fernandes foram alguns dos amigos de Pedro com quem conversei um pouco durante a festa. Foi uma alegria reencontrar essa galera e trocar tantas ideias interessantes. Uma noite memorável.

E por falar em trocar ideias, lembrei de um momento em especial. Conversando com Yuri e Vitor naquela noite sobre as complexidades do ser humano e coisas do gênero, Yuri disse algo muito interessante, que vou tentar reproduzir aqui: o ser humano que comete as mais terríveis atrocidades é o mesmo que também é capaz de atitudes sublimes (referindo-se à solidariedade humana em especial). Esse nosso papo deve ter durado umas duas horas ou mais. E haja assunto! Filosofia, história, literatura, ciência e arte foram algumas das pautas da noite, regada a cerveja e comida boa. Um papo que aliás eu gostaria de repetir por ter aprendido tantas coisas importantes com esses meninos.

Yuri, estudante de Direito, eu já conhecia há alguns anos, e Vitor, biólogo, conheci naquela noite. Vitor é amigo da faculdade e Yuri é um dos muitos amigos roqueiros de Pedro. Juntos, já viajaram para diversos shows Brasil afora e mantêm firme uma amizade que teve início na adolescência. Tive a oportunidade de conversar poucas vezes com ele ao longo dos últimos anos e fiquei impressionada com sua erudição. Eu não fazia ideia do conhecimento que esse menino tem. Foi apaixonante aquela nossa conversa. Não sei mensurar o tanto que aprendi naquela noite sobre a história e a política de alguns países, sobre a literatura e arte universal. E tudo ia sendo transmitido com tamanha naturalidade que o sono e a necessidade de ir pra casa foram adiados algumas vezes. A promessa de um novo encontro me deixou animada porque quero continuar trocando ideias e aprendendo com eles. Da próxima vez, espero conhecer Priscila, a companheira de Vitor. Ele nos convidou para passar um dia em Búzios e isso me deixou muito feliz. Convite aceito.

Ainda sobre a conversa com Yuri e Vitor. Em meio a outros assuntos, voltamos a falar sobre algumas questões existenciais e ressaltei minha paixão pela vida, meu encantamento pelas pessoas que vou conhecendo ao longo do caminho e suas histórias, motivo que me leva a escrever constantemente. Como já disse em outros momentos (crônicas, palestras), umas das coisas que mais amo na vida, é ouvir e contar histórias. Isso é algo que dá sentido a minha existência. Aliás, se pudesse viver da literatura, acho que publicaria uma crônica por dia, assim como faziam os cronistas que ocupavam as páginas dos jornais antigamente.

Sou uma pessoa apaixonada pela vida e algo que me fascina no ser humano é justamente a sua capacidade de fazer o bem, de se doar, de se comover com a dor do outro, mesmo quando se trata de um desconhecido. E quantas vezes não choramos ao ler no jornal/revista ou assistir pela tv/internet a história de famílias que tiveram sua moradia destruída durante uma enchente ou outra catástrofe natural, por exemplo. Foi o caso de uma enchente que aconteceu em Jaboatão dos Guararapes, na grande Recife, em 2022, e deixou dezenas de mortos e desabrigados. Naquele momento, parece que somos parte de um mesmo núcleo familiar; o sentimento é de empatia e o desejo mais urgente é poder ajudar de alguma forma a diminuir o sofrimento daquelas pessoas.

E por falar em comoção perante algumas histórias de vida, ainda que em contextos diferentes, sempre escuto algumas dessas histórias quando vou à praia de Ponta Negra, onde um grande número de ambulantes passa o dia vendendo comida, bebida, roupa de banho, óculos de sol, bronzeador, protetor solar, chapéu… Impossível não se emocionar com alguns vendedores que passam o dia andando de um lado para o outro, debaixo de um sol escaldante, para vender seus produtos e garantir o sustento da família. Vez por outra, gosto de conversar com esses vendedores e conhecer um pouco de sua história. Do vendedor de água de coco ao de ginga com tapioca, fico sabendo um pouco da história desses homens e mulheres e aprendo com eles lições importantes que não quero esquecer. Pessoas que mesmo trabalhando em condições adversas, estão sempre com um sorriso estampado no rosto e prontas a atender o cliente com alegria, cordialidade e respeito. Pessoas que têm toda minha admiração. Vinicius, que vende cocada, é um desses vendedores com quem gosto de conversar quando estou com Monalisa Medeiros e Marcela Ribeiro na praia. Mona adora cocada e não resiste quando ele passa na barraca onde estamos.

E antes que alguém possa pensar o contrário, um esclarecimento importante: não estou aqui romantizando a pobreza e/ou o trabalho precarizado e as condições difíceis de milhares de brasileiros que lutam incessantemente para que não lhes falte o pão de cada dia. Milhares de brasileiros que aliás merecem ter um trabalho digno e melhores condições de vida. O que quero mostrar com esses relatos é que essas pessoas podem nos ensinar muito sobre resiliência, determinação, coragem e tantos outros valores que fazem delas pessoas únicas. Pessoas que nos ensinam o valor das pequenas coisas e a alegria contida nas coisas mais simples.

E por falar em alegria das coisas simples, coisa que gosto é tomar uma água de coco bem geladinha depois da caminhada com Mona e conversar com o vendedor enquanto ele se prepara para iniciar mais um dia de jornada intensa arrastando seu pesado carrinho pela areia da praia. Com seu corpo frágil e o rosto envelhecido pelo sol, aquele homem preto que é a cara do Brasil, me ensina, também, que apesar de suas dores, da desigualdade social que o faz trabalhar em condições tão precárias e com uma remuneração tão baixa, a vida é fascinante e deve ser vivida intensamente. Mesmo prestes a se aposentar, cansado daquela rotina exaustiva e com alguns problemas de saúde, ele precisa continuar trabalhando para complementar a renda da família. E, durante o período crítico da pandemia, teve de contar apenas com o auxílio do governo para que o pão de cada dia não lhe faltasse à mesa. O que desejo para esse vendedor, assim como para todos os idosos do nosso Brasil, é que eles possam ter uma velhice digna, com direito a alimentação, moradia, saúde, arte, lazer e qualidade de vida.

Voltando à conversa com Yuri e Vitor, agradeço pelo diálogo tão edificante e pelo encontro inesperado. Que venham outros encontros (e outros aprendizados e reflexões). Desejo que vocês sigam firmes na luta pelos seus objetivos e realizem seus projetos acadêmicos e/ou profissionais. Até breve, meninos!

Andreia Braz

Andreia Braz

Escritora e revisora de textos.

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1 Comment

  • Como sempre, Andreia consegue “costurar” vários relatos de encontros com pessoas interessantes; através dessa narrativa fluente, essa cronista amiga nos encanta. Andreia, é sempre uma alegria renovada ler suas crônicas… Afetuoso abraço…

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