Sou feliz, alegre e forte
Tenho amor e sorte
Aonde quer que eu vá
Sou feliz, alegre e forte
Tenho amor e muita sorte
Aonde quer que eu vá
Marisa Monte, Pretinho da Serrinha e Rachell Luz
O dia amanheceu nublado e por alguns instantes pensei que a programação daquela terça-feira seria alterada. Compromisso: praia com uma amiga. Motivo: ela está deixando o Brasil e quer curtir os últimos dias de sol em Natal. Ízala Sarah vai fazer doutorado em Lisboa, Portugal, e está tentando fazer vários encontros individuais com as amigas para se despedir de cada uma delas de forma única. Isso sem falar na festa de despedida no trabalho e na despedida com as amigas, que será realizada no Mahalila, um charmoso café de Natal que abriga diversos eventos culturais como exposições de desenho/pintura, exibição de filmes, lançamentos literários, shows musicais. Ela não poderia ter escolhido melhor lugar para esse evento. Um lugar intimista, como ela mesmo diz. A noite será abrilhantada com o talento musical de Clara Menezes, que terá o acompanhamento luxuoso do violão de Ricardo Menezes, seu pai. No repertório, muitos clássicos da MPB.
Voltemos ao dia de praia com minha amiga Sarah. Como é bom poder quebrar a rotina de vez em quando e pegar uma praia no meio da semana! Coisas que meu ofício me permite porque meu expediente como revisora na UFRN é de vinte horas semanais e, de vez em quando, posso trocar de horário e fazer programações do tipo com as amigas. Monalisa Medeiros que o diga. Quantas vezes não vamos caminhar às seis da manhã em Ponta Negra!? A caminhada sempre termina com uma água de coco bem geladinha. Às vezes, tem café da manhã na padaria.
Sarah escolheu uma praia que ela ama, Camurupim. Uma praia do litoral sul potiguar, localizada no município de Nísia Floresta, famosa principalmente por seu banho morno e tranquilo. Já havíamos feito essa programação na terça-feira de carnaval de 2023. Foi uma delícia repetir esse passeio com alguém que ama a natureza e se conecta com ela de uma forma tão bonita. Você é essa “gente que chega pra ficar”. Um dia único. Um momento ideal para celebrar a amizade, as conquistas de quem a gente ama. Um dia para celebrar a vida, com suas dores e delícias. Um momento ideal para me reconectar comigo mesma, com a natureza e, sobretudo, com a grandeza/infinitude de Sarah, que é sinônimo de alegria, leveza, equilíbrio…
E por falar em leveza, equilíbrio, nossos momentos na Praia de Camurupim poderiam ser traduzidos com essas palavras. Lembro que em certo momento até falei pra Sarah: “Estar aqui sentada, contemplando o mar e sentindo essa brisa, é uma definição de felicidade”.
Nosso dia foi cheio de momentos marcantes, a começar pelas canções que estavam tocando no rádio enquanto fazíamos o percurso de ida a Camurupim e o de volta a Natal. Gal, Bethânia, Cazuza, Ney Matogrosso, Cidade Negra, Skank, Marisa Monte… Os assuntos giravam quase sempre em torno da viagem de Sarah, dessa grande conquista que é fazer um doutorado e ao mesmo tempo poder desbravar um novo mundo, das novas possibilidades, das viagens, da sua nova vida em Portugal (como estudante de doutorado e viajante/cidadã do mundo), as oportunidades acadêmicas (o doutorado é interinstitucional e será cursado em três universidades lusitanas), novos professores, novas metodologias, produção acadêmica, novos amigos. São inúmeras mudanças, possiblidades, descobertas, aprendizados. E no meio de tanta alegria e empolgação, é claro que tem aquele friozinho na barriga perante a possibilidade de encarar um novo país, uma outra cultura, um clima diverso. A saudade da família, dos amigos, o afastamento do trabalho, a mudança de rotina. Mas isso faz parte da jornada. Afinal, como diria o poeta espanhol Antonio Machado, “não há caminho, faz-se o caminho ao caminhar”. Voa, Sarah! O mundo é pequeno pra você, amiga!
A verdade é que em um momento como esse os amigos e familiares são tomados por sentimentos paradoxais: de um lado, a tristeza da partida, a saudade antecipada, a distância, do outro lado, projetos para o futuro, planos para novos encontros em terras distantes com o amigo que agora nos deixa. Como diria a canção de Fernando Brant e Milton Nascimento, “A hora do encontro é também despedida”. Aliás, já me imagino flanando pelas ruas de Lisboa com Francisco, meu companheiro. É um sonho nosso conhecer Portugal e alguns países da Europa e, quem sabe, não é o doutorado de Sarah que vai nos estimular a fazer essa viagem daqui a algum tempo. Além disso, temos nossa amiga Mara Castro, que vive em Amsterdã. Uma observação importante: a afinidade de Francisco e Sarah nasceu antes mesmo de eles se conhecerem pessoalmente, pelo que eu falava de um para o outro. Mistérios da amizade. Aliás, enquanto falávamos dos quatro anos que Sarah vai morar em Portugal, lembrei de um evento importante que deve acontecer nesse período, meu casamento. Um evento ao qual ela não pode faltar porque será nossa madrinha.
Na volta pra casa, mais um momento feliz pra guardar na lembrança. Paramos em Ponta Negra para tomar um sorvete italiano. Enquanto saboreávamos o gelato, Sarah resolvia questões da sua festa de despedida. Cássia, também assistente social, e uma grande amiga que trabalha junto com ela, é quem está fazendo o convite da festa. Uma antecipação da nossa saudade, mas também uma celebração pela conquista de Sarah e por esse novo mundo que ela está prestes a desbravar.
E quando a saudade apertar, lembre que você é muito amada e que estamos aqui torcendo por você, por sua felicidade, acima de tudo, por seu sucesso profissional/acadêmico. Quando bater a saudade da praia, do sol, lembre daquele nosso banho de mar em Ponta Negra com Iasmin, Margô… Um dia inesquecível. Quando bater a saudade do samba, lembre dos nossos momentos na Segunda de Vagabundo, nas Rocas, e daquela alegria contagiante que a gente encontra por lá. Quando bater a saudade de casa, lembre do aconchego do seu lar e do quanto você é amada por seus pais e por seu irmão. Lembre da comida gostosa que Aurita vai preparar quando você voltar (ou quando for lhe visitar em Lisboa). Lembre das palavras de sabedoria de seu Francisco, seu amado pai. Lembre do afeto que você dá e recebe de Floquinho, seu adorável cãozinho. Lembre, também, de uma canção que já fez morada em você e talvez lhe defina muito bem: “Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça / É preciso ter sonho sempre / Quem traz na pele essa marca / Possui a estranha mania de ter fé na vida” (Fernando Brant e Milton Nascimento).