Um cabaré no teatro?

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Alguém ligado ao meio artístico nacional, me falou há alguns dias que Amado Batista não faz show em nenhum evento que tenha na denominação a palavra brega. Achei estranho, porque todo mundo sabe que se existe um cantor que canta Brega, com certeza é Amado Batista.

Amado Batista, natural de Davinópolis, em Goiás, surgiu na vida artística no vácuo deixado por Odair José, também goiano da cidade de Morrinhos. No final dos anos setenta, Odair, depois de uma apresentação no evento Phono 73, quando cantou Eu Vou Tirar Você Desse Lugar com Caetano Veloso, passou a ter como empresário Guilherme Araújo, na época, também empresário de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Betânia. Depois de um projeto fracassado, uma ópera-rock denominada O Filho de José e Maria, Odair José trocou suas baladas românticas bregas por um repertório mais identificado com o rock’n roll. A vendagem dos seus discos caiu vertiginosamente. Foi aí que seu conterrâneo goianiense se deu bem: gravou um disco com a música Fruto do Nosso Amor, que contava a história dramática de uma mulher que morre de parto, ao dar à luz seu primeiro filho: “No Hospital, na sala de cirurgia, pela vidraça eu via você sofrendo a sorrir / Vi seu sorriso, aos poucos se desfazendo, então vi você morrendo, sem poder me despedir… A narrativa da música perde de longe para a estória contada em Coração Materno, de Vicente Celestino, que fala de um camponês que mata a própria mãe e arranca o coração dela atendendo um pedido da sua amada. O ponto alto do drama narrado na canção é que a pobre mãe estava ajoelhada rezando aos pés do altar. Caetano Veloso regravou Coração Materno. E a elite intelectual adorou…

Grande número das músicas de cantores populares faz sucesso exatamente porque são inspiradas em fatos ocorridos na realidade ou em situações inverossímeis imaginadas pelos autores, sempre com um profundo apelo popular, visando alcançar sucesso e render dividendos financeiros, o que é absolutamente admissível, pois a quase totalidade dos artistas que compõem e gravam canções com apelo popular, geralmente são de origem humilde. Um exemplo de artista humilde e com pouca escolaridade – mas que tem sensibilidade para interpretar canções românticas com  forte apelo popular – é José Maria Teixeira do Nascimento.

Nascido de uma família humilde, José Maria aos dezoito anos começou a cantar nos bares de Natal. Com um ouvido apurado, bom gosto na escolha do repertório e amante de músicas de serestas, teve a ideia de gravar um CD “pirata” com antigos sucessos românticos como A Noite do Meu Bem (Dolores Duran), A Volta do Boêmio (Nelson Gonçalves) e Alguém Me Disse (Anisio Silva). Depois gravou um CD com sucessos românticos dos anos 80, entre os quais Devaneios (Júlio Iglésias), As Rosas Não Falam (Cartola) e Amor, Amor (Reginaldo Rossi). Em seguida, adotando o nome artístico de Zezo dos Teclados, gravou um CD com xotes. A partir daí, passou a gravar xotes e boleros e começou a se projetar para além do Rio Grande do Norte. Chamou a atenção do empresário Geraldo Proença, da Gravadora Gema, que o contratou. Desde então ficou conhecido em todo o Brasil como Zezo, o Príncipe dos Teclados. Em 2017, passou a gravar apenas músicas românticas, usando uma banda completa para acompanhá-lo nos shows, que passaram a contar com cenário, iluminação especial e painéis de LED; desde então, adotou como nome artístico apenas Zezo.

No dia 20 de setembro passado, Zezo fez mais um show no Teatro Riachuelo: O Cabaré do Zezo. Casa cheia mais uma vez, com um detalhe que poucas pessoas conhecem: nos shows que Zezo faz no Teatro Riachuelo, o bar tem o maior faturamento, batendo até mesmo o consumo de bebidas durante eventos com atrações nacionais.

Um cabaré invadiu o teatro. Todos cantaram e aplaudiram … e beberam.

Parabéns, Zezo, por sua história, por sua luta e por seu sucesso. Você merece. Parabéns também por ser um defensor da causa dos animais.

Instagram:@fernandoluizcantor

Fernando Luiz

Fernando Luiz

Cantor, compositor, produtor cultural e apresentador do programa Talento Potiguar, que é exibido aos sábados, às 8 horas pela TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.

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