Marlene Engelhorn continua bilionária mesmo após renunciar a 90% de sua herança, deixada por sua avó Traudl Engelhorn, dona da indústria química BASF, uma das maiores do mundo no setor. O valor total herdado está próximo dos 22 bilhões de reais, dos quais a jovem Marlene, de 30 anos, reterá apenas dois bilhões.
“Apenas dois bilhões” transforma o acontecimento em algo mais assustador do que curioso, pois imaginar um mundo em que alguém possa ter em seu espólio tanto dinheiro – e, com isso, todo o poder associado a ele – nos obriga a refletir sobre o contexto terrível em que este mundo está jogado.
Marlene é estudante de Letras e Literatura alemã e acredita que não precisa ser tão rica e que grandes fortunas precisam ser taxadas, o que é louvável e certamente tem muita diferença, por exemplo, do brasileiro que financia um HB20, compra uma máquina de café em cápsula e passa a acreditar que pertence a esse grupo de pessoas ricas ao ponto da imoralidade.
Os 22 bilhões de reais, convertidos de euros, será devolvido à sociedade, segundo declarou a jovem. Isso está longe de deixar Marlene pobre ou qualquer coisa que o valha. Aliás, ela continua bilionária e não me parece que dirigirá um HB20 financiado em 48 meses. Mas o que é imoral em torno do caso é pensar que uma única pessoa possa ter dinheiro suficiente para comprar um país inteiro, caso queira.
Ainda mais imoral é pensar que a avó de Marlene, que lhe deixou a herança, ocupa somente a 687ª posição no ranking de mais ricos do planeta organizados pela Forbes.
É preciso dizer em voz alta a informação na tentativa de compreender algo tão absurdo: existem 686 pessoas no planeta com mais de 22 bilhões de reais no bolso.
Para pôr esses números em perspectiva, são mais de 33 milhões de pessoas em situação de risco alimentar em 2022 só no Brasil.
Não tenho dúvidas de que seja uma ação generosa da jovem bilionária Marlene Engelhorn, que até cita Brecht ao falar de sua indignação contra os que são ricos demais. Porém, o que me assusta de fato é que nos chame mais a atenção essa tal generosidade do que o absurdo de haver tanto dinheiro concentrado nas mãos de tão poucos, enquanto trabalhadores deixam de viver para poderem sobreviver ao dia a dia ou ainda enquanto tantas pessoas morrem por não terem o que comer nem as mínimas condições de saúde, uma vida de alguma dignidade ou segurança.
É como se nos encantassem mais esses 22 bilhões de migalhas do que alguém que nunca fez nada para merecer tanto – são palavras dela – possa simplesmente se desfazer de todo esse dinheiro e continuar rica o suficiente para não conseguir gastar tudo em uma única vida.
As coisas andam erradas há muito tempo e não há o menor sinal de mudança. Por isso, quando dizem que o comunismo deu errado e o capitalismo deu certo, posso afirmar com tranquilidade: para Marlene Engelhorn o capitalismo deu muito, muito certo.
CRÉDITO DA FOTO: Courtesy RedEco
8 Comments
[…] Herdeira do fundador da Basf: Tirem esses bilhões daqui […]
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[…] Saiba mais […]
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Parece até que o capitalismo foi feito para dar certo para todos, menos para alguns.
Pois é!
Uma temática bem oportuna, Theo. Excelentes conclusões.
Obrigado, meu amigo!