Há cerca de 10 anos, saí de Barcelona para a pequena cidade de Figueras, na província de Girona, na Espanha. Após uma tranquila e curta viagem de trem, cheguei à cidade natal de Salvador Dalí, com o intuito de visitar o Teatro-Museu de Figueras, o qual abriga o maior número de obras-primas desse famoso artista catalão. Era um domingo e, ao final do dia, retornei à estação de trem, a fim de fazer o percurso de volta a Barcelona.
O Teatro-Museu de Figueras é uma obra de arte, criado sob a orientação do próprio Dalí. Em 1960, o prefeito da cidade solicitou ao artista uma tela para um museu local. Ele respondeu que daria não somente uma tela, mas um grande centro de estudos e de exposição da obra daliniana. Assim, no local das ruínas do antigo Teatro de Figueras, bombardeado durante a Guerra Civil Espanhola, ergueu-se esse monumento à arte surrealista, com o apoio do poder público, inaugurado em 28 de setembro de 1974.
Salvador Dalí nasceu em 11 de maio de 1904, em Figueras, perto da Costa Brava catalã. Um ano antes, morrera seu irmão mais velho, fato que levou a família a superprotegê-lo. Atribui-se a essa superproteção, o lado extravagante, polêmico e egocêntrico do artista.
Em 1916, conheceu o impressionismo de Ramon Pichot e, mais tarde, de autores franceses, que muito o influenciou. Três anos depois, realizou sua primeira exposição e, em seguida, mudou-se para Madri, a fim de estudar na Academia de Belas Artes. Sua pintura, então, inclina-se para o pontilhismo e para o cubismo. Nessa época, conviveu em uma residência estudantil com Luís Buñel e com Frederico Garcia Lorca. Garcia Lorca (1898-1936), poeta e dramaturgo, foi uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola.
No final da década de 20, Dalí conhece e passa a viver com Gala Éluard, a mulher da sua vida e sua musa inspiradora. É o período em que o surrealismo começa a dominar sua arte e, assim, recebe consagração mundial. Pouco tempo depois, Salvador Dalí é capa da revista Time, na edição do dia 14 de dezembro de 1936.
O surrealismo recebeu forte influxo das reflexões de Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, principalmente da sua obra A Interpretação dos Sonhos, de 1900. No entanto, o surrealismo tem um marco temporal e conceitual, que é o Primeiro Manifesto Surrealista, de 1924, do pensador francês André Breton.
Certa vez, andando pelas ruas de Veneza, deparei-me com uma galeria que realizava mostra do grande artista catalão. Estava lá a obra Persistência da Memória, com os impressionantes relógios derretidos, disformes. Certa feita, fui até a cidade de St. Petersburg, na Flórida – USA, para visitar o Museu Salvador Dalí, e contemplar uma das melhores coleções do pintor, inclusive a tela Aparelho e Mão, na qual se revela o autoerotismo. Esse tema se repete no quadro O Grande Masturbador, exposto no Centro de Arte Reina – Sofia, de Madri. Também admirei originais de Dalí no MoMA, de Nova York, na Tate Gallery, de Londres, além do Espaço Salvador Dalí de Montmartre, em Paris, com especial acervo de esculturas.
Mas nada se iguala ao Teatro-Museu de Figueras, onde o corpo do artista está sepultado, conforme sua vontade. Após a morte de Dalí, em 23 de janeiro de 1989, essa pequena cidade da Espanha tornou-se famosa, por abrigar a riqueza maior desse gênio, a quem o mundo cada vez mais admira, à medida que o tempo passa.
FOTOGRAFIA: postada no blog hbarcelona