Um dia foi o biquíni e hoje é o Maiô e a liberdade moderna do TalmaeGadelha

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No fim da década de 1940, Natal vivia um momento de aculturamento oriundo da presença norte-americana na cidade. Havia um clima de vanguarda; de pensamentos e atitudes ousados. E no verão de 1948, Leda Wanderley “causou” na capital potiguar ao desfilar com um inédito biquíni pelas areias da praia da Redinha. 65 anos depois e a vanguarda não se desgrudou de Natal. Nos próximos dias essa vocação à liberdade virá em novo formato, mais moderninho: um CD, com músicas para download gratuito na internet.

Moderno? O nome do novo álbum do Talma&Gadelha se chama Maiô. Ora, Maiô é mais retrô do que o biquíni de Leda Wanderley nos cenários preto e branco da memória. É que a banda passeia entre esses dois universos – do antes e do tempo-hoje – com propriedade. Mas há que se concordar: o clamor pela liberdade atravessou esses 65 anos de maiôs, biquínis e nudez. Está em voga. E essa é a mensagem subliminar do novo e esperado álbum do quinteto potiguar – uma liberdade dos dias de hoje, relacionada à falta de afetividade.

Primeira foto publicitária do novo álbum

“Maiô está presente em uma das canções do disco. A música fala da vida corrida de São Paulo, da correria do metrô, da falta de afeto e da falta que o mar faz. Então, Maiô remete à saudade de casa, mas também à liberdade; uma liberdade sonora; uma liberdade do amor, de amar abertamente. Não é tanto o amor romântico. É o amor às pessoas, à natureza”, conta o compositor e vocalista Luiz Gadelha. E a parceira nas composições e também vocalista Simona Talma, brinca: “Como você vê, o Maiô é muita coisa”.

E não poderia ser diferente. O Talma&Gadelha arrebanhou uma legião de fãs em Natal –novidade ao cenário musical da cidade afeito ao “de fora”. Público fiel e com letras do primeiro álbum ‘Matando o Amor’ na ponta da língua. O trabalho também ganhou repercussão fora. A banda excursionou pelo Nordeste, Norte e Sudeste, tocou em festivais de música, concedeu entrevistas e, o melhor, presenciou fãs em Estados onde sequer pensava que sua música fosse minimamente conhecida – uma viagem sonora por bytes e downloads sem fronteiras.

“Anderson Foca disse pra gente que se tocássemos na Rússia pelo menos cinco pessoas já teriam ouvido nossa música. É a força da internet”, se orgulha Simona. “Nos surpreendemos com a quantidade de gente cantando nossa música em Maceió; em Feira de Santana, no meio da Bahia, gente chorando e nos deixando desconsertados. Eram pessoas já íntimas do nosso trabalho. Até os jornalistas quando nos entrevistavam conheciam bem nossa trajetória. Talvez isso aconteça porque tudo que fazemos é muito aberto, participativo”, disse Talma.

Matando o Amor de Maiô

Além de retrô e de libertário, o novo álbum do Talma&Gadelha é também um recorte real e mais atual do quinteto; quase um disco de estreia. “A banda surgiu pelo projeto Incubadora (promovido pelo Combo Dosol) em 2011. Eu e Simona jogamos ali o que tínhamos pronto, chamamos os outros e concluímos o Matando o Amor. Depois vieram as vivências enquanto banda, as viagens, a troca de experiências com outras bandas, nosso próprio relacionamento. Então, o Maiô é resultado dessa identidade enquanto banda; não fomos Talma&Gadelha no nosso primeiro álbum”, pontifica Luiz Gadelha. E brinca: “Não significa que amadurecemos, mas agora temos mais certeza do que somos e do que queremos”.

Capa do primeiro álbum, Matando o Amor

Luiz Gadelha e Simona Talma predominam na autoria das 10 faixas do disco. É pura letra, melodia e entrosamento. Mas as canções são mostradas e aprovadas pelos outros três integrantes (Henrique Gela, Emmilly Barreto e Cris Botarelli) antes da mixagem. “Não terminamos na composição; ao contrário: nós iniciamos ali. Depois vêm as sugestões propostas pelos outros”, conta Gadelha. Simona acrescenta que neste novo trabalho também procuraram compositores conhecidos nas tais vivências. “Queríamos trazer ao álbum essas sensações e linguagens disso que a banda viveu nesse período”. A primeira música mixada é letra de Gadelha e melodia de Khrystal, e se chama O Mais Esperto.

Ao todo são dez faixas com início, meio e fim. “Se fossem 11 eu repensaria todo o álbum. Há uma sequência nas mensagens que queremos passar”, explica Gadelha. Henrique Geladeira, responsável pelas guitarras e mixagem do álbum, acrescenta: “Há um conceito musical na maneira mesmo como se escuta; embora cada música tenha sua peculiaridade, há um padrão de posicionamento na instrumentação. Usamos os mesmos instrumentos que tocamos nos shows porque o CD tem de ser o retrato do nosso show, do que a banda é. Hoje dá para se fazer isso. O show, na verdade, tem que ser melhor do que o CD”. Mais um retrato moderninho da banda, quando o disco é apenas mais um artefato de divulgação.

Lançamento, single e solos

O CD é o de menos mesmo. Tanto que as dez faixas serão disponibilizadas antes do lançamento do álbum físico. Início de Maio, o Maiô estará livre para escuta na internet. No fim de Maio virá o show de lançamento do CD. Mas no fim de Abril já há uma mostra do novo trabalho do Talma&Gadelha. O single Em Nome do Amor, parceria de Luiz Gadelha e da baiana Andrea Martins, da banda O Canto dos Malditos na Terra do Nunca. A capa ainda está em processo. Sabe-se apenas que será uma ilustração de Gustavo Rocha, o mesmo que pintou a fachada da Casa da Ribeira. “Será algo relacionado à distância do mar, ao urbano. Por aí”, adianta Simona.

Simona e Gadelha vêm de álbuns solos. E a reportagem quis saber como se dá esse processo de distanciamento estando tão próximos e expectativa para o 2º CD:

COM TALMA&GADELHA

Como se dá o processo de composição de vocês?

Simona: A gente tem de se libertar de vergonhas e liberar o ridículo. Porque compor é uma coisa muito particular. E quando isso se dá em conjunto é preciso muita intimidade para interferir no outro, pra jogar o que você pensa.

Gadelha: A composição é a atividade número um. Todo o resto decorre disso. Eu não paro de compor; sempre arrisco alguma coisa. Se o álbum é solo, reúno tudo o que fiz que mais combina com aquela proposta. E você sabe qual o público vai ouvir aquilo. Você sabe direcionar.

Quando terminam uma canção já sabem se encaixam no trabalho da banda ou se parece mais com a carreira solo?

Simona: No trabalho solo a gente faz o que quer…

Gadelha: Gostamos de fazer os dois: o solo e a banda. Mas o Talma&Gadelha tem mais alcance. É a banda toda. Tem mais força. No trabalho solo não temos a mesma entrega. Há uma colaboração conjunta. Então, se uma letra não representa essa força conjunta, não vale para a banda.

E qual o papel de Anderson Foca nessa trajetória?

Henrique Gela: Foca ajudou a gente a começar…

Gadelha: Ele foi nosso produtor executivo. A imagem do Combo Dosol é muito forte lá fora. E ele vendeu a gente como se fosse eles. Então sempre fomos bem recebidos aonde chegamos. Sempre tinha alguém sabendo do nosso trabalho. E até então, só o Henrique tinha experiência com turnê (com a banda Calistoga), e essa força serviu para facilitar a nossa vida.

Esperam a mesma recepção com este segundo CD?

Simona: Estamos muito tempo parados. Esgotamos o primeiro álbum em shows e viagens. Estamos produzindo este segundo disco e estamos com muita vontade de viajar…

Gadelha: É uma construção. Cada canto que fomos formamos público. Antes, fizemos um disco e não sabíamos no que ia dar. Gravamos para os mais chegados. Hoje a galera cobra o novo disco; já há uma expectativa.

A net tem grande papel nisso tudo também…

Gadelha: Sim. Essa relação não é só feita nos shows. A foto que abrirá a capa, por exemplo, nós abrimos discussão na net para a galera escolher, fazemos vídeos para os cenários dos shows. Então há todo um envolvimento…

Simona: E o que vem depois só agrega: entrevistas, shows. Não temos como investir na divulgação. Então a net é o caminho. Vamos direto ao ponto.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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