Eleanor Rigby é das canções mais orquestráveis dos Beatles. O original já apresenta um octeto de cordas providenciado por George Martin para este clássico de Paul McCartney. Mas na noite desta terça-feira (e nesta quarta tem de novo!), ganhou arranjos orquestrais de Willames Costa e executado pela Orquestra Beatles, criada pelo Spalla André Kolodiuk. Foi a abertura de uma noite mágica para beatlemaníacos ou não, no Teatro Riachuelo. Um programa luxuoso com acesso gratuito.
The Fool on the Hill veio na sequência para apresentar também a decana banda Mad Dogs, mestres na interpretação beatle. Outra canção já bem adaptada à música erudita. Mas os arranjos da Orquestra surpreenderam sempre. E vou adiantar uma vez só: em todo o setlist as novas roupagens orquestrais as interpretações da banda foram fantásticos. Something apresentou uma introdução belíssima, mais uma vez executada apenas pela Orquestra.
Na sequência a banda volta com Come Togheter adornada pelo carisma do vocalista CBI e a linha mágica de contrabaixo criada por Paul para essa música e fielmente repetida por Paulo Sarkis. E antes de I Feel Fine, a cantora e compositora Simona Talma adentra o palco pela primeira vez como uma espécie de mestre de cerimônia, com ótimos textos introdutórios da próxima peça, que rendiam uma emoção a mais ao público dada a contextualização e curiosidades sobre a canção.
Michelle foi talvez dos grandes momentos da noite. Claro, outros clássicos sempre são mais emocionantes, mas o arranjo em ritmo de tango e a tiração de onda de CBI foram diferenciados e animaram a plateia. Na sequência, outra música que poderia manter o ritmo, mas ganhou outra conotação foi Help. Embora mais agitada, o dueto do teclado de Zé Marcos e a voz mais melancólica de CBI ficou sublime, combinado com a letra: um verdadeiro pedido de ajuda de Lennon.
Oh! Darling talvez tenha sido a menor ótima do repertório. Uma versão meio bossa nova quebrou um pouco a magia da voz rasgada de Paul para a música, que poderia ser bem interpretada pela banda e pela orquestra. Clássico de George Harrison que abre o álbum Revolver, Taxman também rendeu homenagem ao saudoso maestro Neemias Lopes, lembrado por CBI e com foto no telão.
Let it Be seria certeza de corações tocados. Simona lembrou o motivo da canção, a partir do sonho de McCartney e da mensagem recebida de sua mãe, que o deixou aos 14 anos. Os solos de contrabaixo e flauta deram um contorno mais singelo, mais doce à canção. Na sequência, outra balada, And I Love Her (o primeiro Yesterday de Paul, segundo ironizou Lennon em entrevista). E para manter a pegada, a própria Yesterday, que fez este editor escorrer lágrimas no rosto.
Para quebrar o ritmo das baladas, Day Tripper, seguido por Stramberry Fields Forever e uma pegada mais rocker para Here Comes The Sun com solo de guitarra de Carlos Suassuna que me lembrou Mark Knoffler, de início, e aí compadre, it’s all right. All You Need is Love foi apresentada por Simona, que lembrou a poeta Civone Medeiros e sua frase símbolo “Mais Amor por Favor” e também pelo maestro Linus Lerner e o desejo sempre de mais amor. Também uma música já bem orquestrada, com naipes e metais que recebeu uma roupagem ainda mais bela.
Hey Jude trouxe a plateia para cantar junto o grudento “na na na na na na na na na na” e já vislumbrar que o sonho estava prestar a acabar. E de fato. Get Back veio para fechar a conta. Ou quase. Após o pedido de bis, um repeteco de Michelle em formato de tango. E a vontade de ver/ouvir outras tantas canções orquestradas. The Long and Winding Road e Blackbird talvez merecessem uma atenção. O medley de Paul que fecha o Abbey Road seria também um gran finale em tanto para a noite.
Ficam as sugestões para uma Sinfonia Beatles 2, evento criado e produzido pela produtora Tatiane Fernandes e prometida pelo maestro em breve. Enquanto houver, estarei lá.