Depois de Salvador e Ouro Preto, talvez seja São Luís a cidade histórica brasileira com o maior e mais harmonioso conjunto arquitetônico remanescente da era colonial. Pena que grande parte desse riquíssimo acervo acha-se em mau estado de conservação.
Disse “riquíssimo”, em termos. Ninguém espere encontrar lá a suntuosidade dos sobrados e igrejas de Salvador – primeira capital do Brasil – ou de Ouro Preto, a Vila Rica das Minas Gerais. São Luís impressiona pela milagrosa preservação da cidade antiga.
É na Rua Portugal que se acha o maior número de sobrados, quase todos com as suas fachadas azulejadas. O azulejo de procedência portuguesa é característico da arquitetura civil ludovicense, das eras colonial e imperial.
Essa encantadora Rua Portugal (o nome é por demais significativo) faz-me lembrar algumas ruas do Bairro Alto, de Lisboa, onde o azulejo também se apresenta nas fachadas antigas.
Felizmente, proibiu-se a construção de espigões no centro histórico de São Luís, de sorte que apenas dois grandes garajaus, anteriores à proibição – suponho – destoam da paisagem urbana.
ROTEIRO
Um bom passeio a pé deve começar na Av. D. Pedro II (mais parece uma praça), onde se localizam importantes monumentos arquitetônicos: Palácio dos Leões, antiga sede do Governo do Estado; Palácio La Ravardiére, sede da Prefeitura Municipal (o nome é homenagem a Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, fundador de São Luís, sob o domínio francês); Tribunal de Justiça; Palácio Episcopal e a Catedral Metropolitana. Nesta, o altar-mor, por si só justificaria a visita de um amante das artes à capital maranhense. Todo em talha dourada, sobressaindo-se dos demais altares do templo, num nível qualitativo muito superior, só pode ser definido numa palavra: magnífico.
Da Av. D. Pedro II siga para a vizinha Praça Benedito Leite e daí desça pela Rua da Nazaré e Rua da Estrela em direção à Rua Portugal e, depois de admirar, no caminho, alguns pontos interessantes, termine o giro na Casa do Maranhão. Aí se encontra uma grande exposição, de caráter permanente, sobre o Bumba-meu-boi, o auto popular ou dança dramática, que é uma das mais típicas manifestações culturais maranhenses.
Se eu pudesse expressar toda a magia de São Luís em apenas três palavras, diria:
SOBRADOS
AZULEJOS
BUMBA-MEU-BOI
Após almoçar num dos restaurantes do centro histórico (uma boa pedida: peixe com cuxá), prossiga no passeio a pé. Vá até a Igreja do Desterro, simples e bela, na pureza de suas linhas originais, a frontaria com curiosas sugestões bizantinas. Bem perto, veja o antigo Convento das Mercês (1654), que abriga o Museu da Memória Republicana e Memorial em honra do ex-presidente José Sarney, com objetos pessoais e presentes ofertados a este, quando no exercício da presidência. Uma das peças aí expostas (imagem em madeira de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro) tem indicada a origem (“Rio Grande do Norte, 1987”), mas não a autoria. Trata-se de uma das mais belas obras de Luzia Dantas, grande artista popular norte-rio-grandense. Injusta, a omissão do seu nome.
POESIA DOS NOMES DE RUAS
O pernambucano Ascenso Ferreira poetou:
“Dos engenhos de minha terra
Só os nomes fazem sonhar:
– Esperança!
– Estrela d’Alva!
– Flor do Bosque!
– Bom Mirar!”.
Que diria o poeta dos nomes ludovicenses?
Rua da Palma, Rua da Cotovia, Rua do Giz, Rua da Inveja, Largo do Desterro, Rua do Apicum, Rua da Manga, Beco da Pacotilha, Rua dos Afogados, Travessa Feliz, Rua do Precipício, Rua dos Veados, Rua Alegre, Travessa da Trindade, Rua das Crioulas, Beco do Quebra-bunda.
Nenhuma outra cidade brasileira tem nomes tão bonitos.
A Rua Grande, hoje, não faz jus ao nome, mas é lá que se concentra o comércio popular. Grande é o movimento.
Na Rua do Sol, três atrações culturais imperdíveis:
Teatro Arthur Azevedo, em estilo neoclássico, primorosamente restaurado;
Museu de Arte Sacra;
Museu Histórico e Artístico do Maranhão.
Este último deveria denominar-se, de modo mais apropriado, Museu de Arte Decorativa. Instalado no belíssimo Solar Gomes de Souza (1836), expõe mobiliário, porcelanas, cristais, etc., reconstituindo ambientes de residências aristocráticas do séc. XIX e início do séc. XX. Peça das mais interessantes, uma grande estante, doada ao Estado do Maranhão pelo presidente Júlio Roca, da Argentina.
OS RIOS
São Luís antiga deixa-se abraçar por dois rios que, na maré baixa, expõem as vísceras em suas longas margens. Seus nomes ressumam poesia: Rio Anil e Rio Bacanga.
Uma ponte salta sobre o Anil, unindo o centro histórico ao bairro de São Francisco, caminho das praias e da cidade vertical, que se adensa, inteligentemente, em determinado local, longe do centro, no bairro da Renascença.
ATENAS BRASILEIRA
Não se poderia falar sobre São Luís sem dizer da importância dos seus escritores e poetas. A Atenas Brasileira, como já foi cognominada, doou grandes nomes à literatura nacional. Cito de memória: João Francisco Lisboa, Gonçalves Dias, Sousândrade, Artur Azevedo, Aluísio Azevedo, Raimundo Correia, Coelho Neto, Humberto de Campos, Graça Aranha, Josué Montello, Odylo Costa Filho, Ferreira Gullar, José Louzeiro.
Na obra de Montello se faz presente, de modo especial, o sentimento da terra e da gente. Livros como “Os Tambores de São Luís” e “A Noite sobre Alcântara” são exemplos dessa ligação telúrica.
Na Rua das Hortas, visite a Casa de Cultura Josué Montello.
A Academia Maranhense de Letras, instalada, condignamente, no antigo prédio da biblioteca pública estadual, em pleno centro histórico, mantém livraria com edições regionais.
1 Comment
Matéria infeliz, descontextualizada, com grande pitada de preconceito e completo desconhecimento de causa. Autor mal informado para quem tem cadeira em uma academia de letras (Obviamente não igual em estatura e valor ao de uma Atenas brasileira porque passa longe dessa, de seus escritores e de seus poetas). Não, São Luís do Maranhão, em termos de conjunto arquitetônico colonial, está a frente de Salvador e Ouro Preto, pois possuo, simplesmente, o MAIOR ACERVO ARQUITETÔNICO COLONIAL PORGUGUÊS DE TODO O HEMISFÉRIO SUL DO PLANETA. Informe-se com a UNESCO, pois é ela quem afirma isso. No mais, se alguns prédios não estão conservados, o mesmo pode ser dito de Salvador e Ouro Preto, citados a esmo para mostrar o decinhecimento geral o qual isola outras importantes cidades nesse contexto e, mesmo Natal e seu patrimônio histórico decadente, tanto quanto o centro histórico de Recife, hodiernamente abandonado.