Croniketa da Burakera #9, por Ruben G Nunes
TAKE 1 – LUZ! CAMA! AÇÃO!
Marlon chega da viagem 1 dia antes. Sem avisar. Estacionou o carro em frente de sua casa.
Entrou em silêncio. Pela hora Mariza devia estar vendo novela na TV do quarto.
Queria fazer uma surpresa pra esposinha Mariza. Esposinha nada. Esposona, boy! Mulherão mesmo.
Dessas que – ancas-ondulando-passando – fechava trânsito, bancos, shoppings, o escambau.
Greve geral, mano!
Mas a surpresa foi dele. Porta do quarto entreaberta, Marlon espiou sorrindo.
Luz! Cama! Ação!… Zings!
Pegou no flagra a esposa em sua, deles, cama
num tremendo vuco-vuco com outro cara.
“Na minha cama! Bandida!” – gritavam em coro os neurônios de Marlon.
Pior: o “outro” tava afundando-se-acabando no suculento traseiro de Marisa. Um traseiro que possuía
de nascença aplicativo especial de massagem peniana: um alucinante esfíncter-piscante. E a danada
gemia no ritmo bate-estaca do desafeto.
“Me traindo pelo cu, a desgraçada… logo pelo cu…”.
Neurônios latejando, Marlon sacou a Berettinha-22 da cintura. Com cuidado pra não ser percebido pelos dois
fidaputas. Engatilhou. E já ia se crispando de raiva pra meter bala e acabar a novela. Quando, sem-quê-nem-pra-quê,
num intempestivo close espiritual baixou o caboclo Zé Corneta. Nêgo-véio que sabia das coisas engripadas e engalhadas.
Ôgunhê! Xanavá! Suncê tá carregado com a macaca xifreira, mizifio! Sapralá, macaca-véia! Tira-o-time, mané!…
( Marlon vez em quando uisk-incorporava uns caboclos de responsa )
TAKE 2 – DE CORNO BRABO A CORNO MALANDRO
Marlon espantou-se consigo mesmo. Sacudiu a cabeça. Saiu do transe. Respirou fundo. Desengatilhou rápido
a Berettinha. E engatilhou aos trancos uma dúvida muito da troncha na porra da dor-de-corno …
“Osh!, Peraíporra!.. peraí… cumêquié essa merda?”.
Tudo passou muito rápido na telinha das xifrâncias de Marlon. Uma avalanche de imagens meio duvidosas mas até
que prazerosas. Foi lembrando como sua vida de casado havia melhorado nos últimos tempos.
A esposa já não pedia dinheiro pra comprar carne. Aliás, nem para comprar vestidos e sapatos.
Apesar de, vez em quando, aparecer com vestido novo, um colar novo, uma sandalinha da moda.
Calcinhas então era de montão. Todas tanguinhas sexys e perfumadas. Que só cobriam a grande racha do xibíu
inchado dela.
Os meninos mudaram da escola pública do bairro para uma escola “das-zelite“.
O supermercado, então, nem se fala. Eles nunca tiveram tanta fartura quanto nos últimos meses.
E as contas de luz, água, telefone, internet, celular, cartão de crédito? Fazia tempo que ele nem ouvia falar delas.
O caso é que Mariza era um aviãozão. Toda gostosura. Mesmo com dois filhos o tempo não passava pra ela. Coisa
de louco, sô! Sabia tudo de sexo na vertical, horizontal, de “bandinha” e de linguinha. Tava sempre no cio.
Uma deusa da sacanagem doméstica.
Marlon guardou a arma. Foi saindo devagar com muito cuidado para não ser percebido.
Não queria atrapalhar o bunda-lê-lê dos dois. Entrou no carro estacionado. Arrancou.
Ele ia resmungando pra si mesmo: – “O fidaputa paga o aluguel, o supermercado, a escola das crianças, as contas da
casa, a gasolina, o shopping, todas as despesas… e eu? e eu?.. com toda essa mordomia eu tô é por cima da carne
seca e molhada dela… todo dia tô lá na cama com ela… todo dia… daí… hum… daí, meu camarada… daí…
Dobrou a esquina. Acelerou. De repente, um sorriso-suspiro manso-alegre, iluminou Marlon.
Bingo! O peso da xifrância inesperada foi ficando levinho. A galera dos neurônios de Marlon
pulava que nem gol do Flamengo.
“Pupariu! É nós, malandro! É nós…!
Marlon saudou o caboclo Zé Corneta: – “Xanavá, meu pai! Valeu nêgo-véio! Xanavá!
Deu uma cusparada e concluiu aliviado: – “… eu não sou corno não!!!…o CORNO É ELE, PORRA!!!”
TAKE 3 – O REVERTERE DO XIFRE
Saúdo os gramatiqueiros e peço passagem para escrever xifre com x.
Seguinte: chifre com ch é chifre de boi, de cabra, do cão, por aí…
Agora, se tem xana no meio, mago-velho, o xifre precisa ser com x, pra caracterizar a complexidade da coisa.
Tem vezes, cumpadi, que dá um revertere desgramado. O xifre acaba uma questão de ponto de vista.
Ponto de vista duplo e até triplo. Ou mais. Coisas de identidade. Coisas de “quem é quem?“.
Sacumé: quem é o xifrador? quem é o xifrado? Sei lá, camarada.
A coisa toda vira um cu-de-mula, sô! Uma bagunçaria dialética do ninguém é de ninguém.
É mané!.. a cornagem tem dessas coisas de vai-e-vem de identidade. Que nem bola de ping-pong.
O xifrador vira xifrado e o xifrado vira xifrador. E versa-vice de acordo com os dias da semana, do
ciclo menstrual e da TPM.
Daí que, o Revertere do Xifre traz em si um mantra cornodialético de tronchuda moral:
– “Quem com xifre fere com xifre será ferido!”.
Se tem três ou mais na jogada a coisa toda vira um rebu daporra. Uma quase guerrilha entre sócios anônimos.
Mas se a Xana é competente na sedutora xavecagem e na resiliência, então fica tudo na Santa Paz da cornice
mansa. Cada um na sua. Cada sua no um. E vamuquevamu! Com as bençãos dos orixás.
Pois é isso, mano, o revertere do xifre além dos multi pontos de vistas sobre “quem é quem“, é também um
fenômeno complexo de arte-ciência em certos enroscos duplos ou triplos.
O revertere do xifre é quase uma arte de con-vivência ética, moral, econômica, financeira.
Tem até ajuste fiscal, reforma da previdência e orçamento doméstico. Mexe com tudo. Dos bagos ao Imposto
de Renda.
Mariza, a super-mulha-cornofágica da história é de uma competência impressionante nessas paradas.
Alma de putadoméstica, ela consegue com dupla abertura de pernas-e-nádegas, at-home-out-home, organizar e
sustentar o lar. Ao mesmo tempo gozar adoidada.
E ainda aplicar objetivamente o mantra inescapável do Revertere do Xifre, que leva à surpreendente PazdoXifre.
É mané!.. não é pra qualquer uma essa competência de equilíbrio e paz no lar e fora do lar.
O maridão acumula as funções de cornuto e cafetão.
O amante acumula o papel de corneteiro e coronel.
Todos felizes na doce ignorância de suas xifrâncias e competências!
Todos são chifreiros, todos são chifrados!
Que é um enrosco genial do gozo bem temperado e mocosiado não há dúvida: o amante não sabe que o marido sabe;
e o marido não sabe que a mulher sabe. Mariza é que tudo sabe e administra entre coxas e lençóis.
Mulha sábia, mulha sábia.
Domina o meio-de-campo e distribui jogadas de gênia.
Mantém 2 corneteiros, na mansidão do revertere, só com o gingado de sua iluminada xana devoradora!
É amadamante e amanteamada, num só tika-taka!
Porra, velho, é uma semideusa. Orgástica! Orgiástica! Vaginástica!
Com as bençãos, of course, dos orixás, do caboclo Zé Corneta e de sua, dela, Santa Xereca!
Nénão?!