Respeitável público!

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Croniketa da Burakera #17, por Ruben G Nunes

O Ser Humano é um circo total. Ri e chora de si mesmo. De seus próprios costumes. De sua própria moral e ética. E, claro, de suas próprias leis e justiça.

Também é emérito xingador dos outros e de si, que nem palhaço desbocado. O Homem é, aliás, o único ser que xinga com raiva e mil pragas anexas.

Ou, como diz Dostoievski-velho, em “Memórias do Subsolo” (livro perigoso pra imaturos e que influenciou Nietzsche): “somente o homem pode amaldiçoar (é um privilégio seu, a principal das qualidades que o distinguem dos outros animais)”.

Mas circo é sonho, alegria, palhaçadas, piadas, xingações, fuzuês, magia e absurdos.

Daí que, como povão, o Ser Humano, tanto é um respeitável público, quanto uma desrespeitável e incontrolável massamarginal de egos e superegos, em eterno jogo de sonhos-e-paixões, de interesses-e-artimanhas, e de danações e porralouquices crônicas. Daí a pulsão sonhadora e perigosa de transgredir tudo e a si próprio. A revolução da revolução é crônica coceira no DNA humano.

Como espetáculo mambembe, a vida escorre interagindo picadeiro, platéia e diretoria. Somos todos, ou solenes apresentadores de fraque e polainas, ou palhaços com imensas risobocas coloridas. Ou o respeitável público comendo pipoca.

Somos, também, domadores e domados, bailarinas, trapezistas, músicas, leões, elefantes, tigres, macacos, estalos, assobios, balões, pirulitos, palmas, vaias, risos.

Somos, ainda, o fascinante mágico arrancando ilusões e coelhos de sua cartola. Tudo de cambulhada. Tudo num turbilhão de fusões e confusões do senso comum. Tudo no rastro da louquidão e do espanto boquiaberto.

A VidaViva, na esfera humana, é pura magia circense. Que aparece em toda sua profunda ilusão mágica quando a gente para. Toma um uísquetrago. E escuta o tempo.

Na queimação do trago – by Appointment to her majesty – algo surge de repente. Uma fresta alucinatória se abre em nós. A gente se dá conta que cada dia de vida é menos um dia de vida.

Ou seja: a coisa toda vai rolando enrolando e desenrolando como lona de circo.
Ou seja: vamos vivendo ao mesmo tempo que vamos morrendo.
Ou seja: a gente vivemorrendo.

Enquanto nossa galáxia despenca no infinito a 550 milhões km/h. Assim, num horizonte do nada, o dia-a-dia se move num vivermorrer estilhaçado de sentido. O que tem lá no fim? Tem um muro? Uma porta? Um borrão? Um lava a jato? Ou um penúltimo buteco nos conformes? Quem sabe, negão?

Mágica e absurda, a coisa toda. Daí o palhaço dentro do picadeiro boquejar em safadoso tom:

Hoje tem marmelada? Tem simsinhô…
Hoje tem goiabada? Tem simsinhô…
Hoje tem xavascada? Tem simsinhô…
E o palhaço o que é?… É ladrão de mulher…

“Ô porra! Que puta marmelada é essa, maluco?!”. E a arquibancada escancara a bocarra, zurra, assobia.

O Velho-Dostô dizia nas “Memórias do Subsolo” (e repito: livro perigoso pra imaturos) que “2 mais 2 são 4, isto é, o começo da morte”. E remata: “… só existo enquanto existem meus desejos”.

Ou seja: a vidaviva está sempre pra lá do rigor estéril de uma equação matemática. Está mais para os ziriguiduns e bagunçarias da circalhada. Sem sentires, amares, desejos, sonhos, magias, gaivotas, e biringuelas, o vôo do Homem vira uma chatura de voo de galinha choca. Perde a alegria de viver!

Enfim, o cotidiano é um picadeiro movido por emoções e pipocas. Que voam, incham, se corrompem, explodem. Como balões coloridos em sua incontrolável leveza. Nisso reside a absurda e louca beleza fugidia da VidaViva!

Tempus fugit… carpe diem…

Fiz toda essa longa divagação desfilosófica, uiskmeditando forte com meus caboclos. Lá na tardemansa do Cais-43, Ponta do Morcego, Natal-RN. Frente ao mar imenso e amigo.

Mas o que quero dizer é que os sintomas dessa circalhada estão todos por ai, nas esquinas e botecos. Dentro e fora de nós. O Circo Humano não para. É sessão contínua.

Olhe só: tava lendo sites e jornais e, de repente, a manchete inusitada: “Assaltante processa vítima por assédio moral e estupro qualificado”.

Cumaé, brother? Ondecomo? Foi na Rússia de Dostoievski. Foi mais uma bizarra sessão do Circo Humano e da desfilosofia da VidaViva.

Mas o que aconteceu na Rússia de Dostoievski para o assaltante processar sua vítima após o assalto? Diz aí

Seguinte: o meliante Viktor Kuruschenko invadiu o salão de beleza de Olga Rustinov. Pistola em punho, assustando as clientes, anunciou num provável russo de buteco: “É assalto, mulherada! Mãos ao alto!”.

Olga, cabeleleira exímia, mas também exímia lutadora de Kung Fu, mulherona eslava, de Novgorod, coxonas grossas, mãos e bunda pesadas, partiu pra cima do meliante com gritos marciais histéricos e o secador de cabelo. Dominou o assaltante com uma chave daquelas coxaças vigorosas e técnicas. O nariz de Viktor se escarafunchou pela xavasca-GGG de Olga. Que o trancafiou todo amarrado e nú num quarto dos fundos.

Tu vais ver, mujique feladaputa, o que é bom pra tosse”, ameaçou ela, na sua gíria de russa injuriada. E obrigou Viktor a tomar Viagra. “Pênis ao alto, infeliz!”, ordenou.

Daí rematou, ajustando castigo com desejo: “Teu castigo seo bandido fidaputa vai ser me comer até o cú fazer bico, entendeu? E se broxar leva porrada!”

Durante dois dias Olga assaltou Viktor com sua assaltada xana russa, a perigo. Tudo ao som de balalaicas e czardas que Olga Rustinov colocava no som; e uns goles de vodka de reforço. Um verdadeiro espetáculo pornocircense particular com xingamentos eróticos e tudo.

Crime, castigo e estrupo… diria voinho-Dostô

Ambos – Viktor e Olga – deram queixa de ambos. Uma verdadeira trapalhada circense. Polícia, Ministério Público e o Movimento Feminista, russos, estão ainda meio confusos sobre quem é mais criminoso ou mais sortudo – a valente xana tarada ou o desgraçado pênis bandido?

Assim é a VidaViva!

Ruben G Nunes

Ruben G Nunes

Desfilósofo-romancista & croniKero

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