Oswin Lohss, mestrando na Escola de Música da UFRN, participou como ouvinte de aulas sobre microcontroladores na Escola de Ciência e Tecnologia da UFRN (C&T), para entender o funcionamento básico das placas de Arduino.
Em seguida desenvolveu um dispositivo, usando componentes do mundo Maker e da robótica, como uma placa Arduino Due e quatro controladores de motor L298N, além de um display OLED e um encoder rotativo, que opera oito eletroímãs, posicionados sobre algumas das cordas do piano, fazendo-as vibrar.
Nesta sexta-feira (13), às 19h, Oswin vai apresentar esta forma de preparação eletromagnética do piano em forma de recital no Auditório Oriano de Almeida (Mini-Audiotório, no primeiro andar) da Escola de Música da UFRN com entrada franca.
Para quem gosta de inovação, é uma oportunidade de ver a aplicação de um protótipo nas áreas das artes.
Além da sonoridade inovadora gerada pelos atuadores, terá participação de cantores, violoncelo, trompa e violão, num repertório que na sua maioria é autoral, com várias estreias.
Neste projeto de pesquisa artística a composição passa pela expansão de um instrumento musical, o piano, e a invenção de um recurso-instrumento.
O piano expandido não se refere somente à expansão das possibilidades instrumentais, mas também a partir de uma situação de performance estendida. A plateia, por exemplo, vai presenciar situações em que o pianista precisa interromper o fluxo da performance para mudar a posição dos eletroímãs posicionados sobre algumas cordas do piano entre as músicas.
A preparação eletromagnética das cordas de aço do piano possibilita gerar sonoridades inovadoras, como demonstrado pelo pesquisador britânico Andrew McPherson desde 2009. Mas o seu uso é pouco difundido ainda, principalmente na América do Sul.
Este projeto desenvolveu um dispositivo de baixo custo para a preparação eletromagnética do piano. Aproveita conhecimentos e procedimentos da cultura Maker, como descrito pelos autores Giuliano Obici (2014) e Alex Ribeiro Maia Baroni (2021). Um protótipo usando uma placa Arduino Due e oito eletroímãs foi construído.
O projeto realiza demonstrações do uso do acionamento eletromagnético em gravações e performances ao vivo. Insere-se numa linha de projetos da Escola de Música da UFRN que exploram micro-controladores como o Arduino para fins musicais, tutorados pelo professor Alexandre Maiorino e foca na pesquisa de processos e dimensões da produção artística, sob orientação da professora e pianista Joana Holanda.
“Neste último recital do meu mestrado, investigamos como o som gerado por eletroímãs nas cordas do piano combina com os sons do piano convencional, com a voz humana e com a sonoridade de instrumentos acústicos como o violoncelo, a trompa e o violão, numa linguagem musical tonal. Inseri os novos sons descobertos em composições de canções, sendo a canção um dos meus gêneros musicais prediletos”, comenta Oswin.
]No caso de “O Sorriso Cadente”, com letra de Antonella Yllana, os sons eletromagnéticos foram acrescentados a uma composição recente preexistente. “Pedi a Gabriel Evangelista que a interpretasse.
Já em ‘A dor é ser’, parti da sonoridade do piano eletromagnético, criando uma célula musical que intercala som eletromagnético e som convencional. Procurei uma letra que dialogasse com a ideia musical inicial, e a encontrei num poema de Wagner Vieira. Em seguida, continuei montando a composição, usando as palavras como fio condutor. O barítono Lailson Toscano se dispôs a interpretá-la, e Saulo Silva Oliveira contribuiu de forma magistral com o violoncelo”, ressalta
Embora fosse possível usar os eletroímãs também na canção “Spuren”, com letra do avô do músico, Friedrich Wilhelm Willecke, a canção será apresentada de forma convencional para reduzir o tempo necessário às mudanças entre as peças. “Compus essa canção em 2018 com incentivo da professora Cláudia Cunha. Como a peça era muito curta, para este recital, acrescentei um violoncelo e aumentei a duração. Mostramos, nessa canção, o piano no seu habitat convencional”.
A “Improvisação” para piano solo, que abre o recital, pretende apresentar a nova sonoridade. Gerará momentos meditativos, explorando mais a consonância do que a dissonância, e mais a lentidão do que o pulso. Outros tipos de expressividade seriam possíveis, como o clima de “filme de terror”, e também o uso de todos os oito eletroímãs numa corda só, brincando com os harmônicos, como demonstrado em gravações anteriores.
Essas possibilidades não fazem parte deste recital devido à limitação de tempo, pois para cada constelação, a posição dos eletroímãs e da estrutura de suporte precisaria ser readequada.
O “Esboço para violoncelo, trompa e piano com eletroímãs” busca respostas para a pergunta se, e até onde, a constelação desses instrumentos e recursos-instrumentos é viável. Caso o resultado sonoro em sala de concerto seja interessante, a composição, feita de poucas ideias, poderá ser expandida futuramente. Felipe Daniel representará os instrumentos de sopros com o som delicado da trompa.
“De maneira semelhante, experimentamos a combinação desses instrumentos na consagrada “Coisa no 4”, do compositor pernambucano Moacir Santos, para fechar o recital.”
Oswin Lohss
Oswin Lohss é compositor e pianista e realiza gravações de áudio. Nasceu em Hamburg, Alemanha em 1969 onde em 1998 fundou o Hamburger Geburtstagslieder Service, e em 2003 o stúdio TONHOTEL.
Mora no Rio Grande do Norte desde 2005 onde já trabalhou – entre outros – com Esso Alencar, Eduardo Juarez, Tonny Semente, Deka Silva, Fátima das Ondas Oliveira, Sky Dladla, Nkosewathi Koela, Haley Peltz, Nino Costa, Romildo Soares, Carlos Bem, Antônio Francisco, Abaeté, Agda Eumesma, Leonardo Costa, Zé Hilton, Flor de Macambira, Khrystal, Sérgio Groove, Jhonny Csanova, Felipe Magno, Antônio de Pádua, Eduardo Taufic, Geraldo Carvalho, Sílvia Sol, Carlos Zens, Renato Carvalho, Dudu Galvão, Gabriel Tomalá.
A parceria mais duradoura se articula acompanhando o casal Mazinho Viana e Regina Casaforte.
Em 2013 lançou o CD autoral “conjunto SCHÖN” com Isaque Gurgel (saxofone), Edilton Costa de Lima (vulgo Barbosa, no contrabaixo) e Matheus Jardim (bateria), que contou ainda com participações de Haley Peltz, Venicius Viana, Claudia Cunha, Lysia Condé, Dekis do Akordeon, Peter Imig, Anton Dräger, João Paulo Araújo.
Participou dos Festivais Agosto de Teatro, MPBeco, Fest BossaJazz, Som do Mar, Cientec, Glomus, Chuva de Bala, Abril Poético.
Na Escola de Música da UFRN fez o curso técnico em piano popular com prof. Leonardo Saldanha, o curso de bacharelado em Música com ênfase em composição musical com prof. Anderson Pessoa. Atualmente cursa o mestrado na linha de Performance sob orientação da pianista Joana Holanda, pesquisando sobre preparação eletromagnética do piano, usando este recurso nas suas composições, e para mostrá-las, por exemplo, neste segundo recital de mestrado.