Hey, Kiddos!
É bem provável que em alguma mesa de bar com os amigos alguém já tenha soltado a inexorável assertiva: eu só bebo puro malte! Talvez, bradado algo similar: puro malte é melhor que as demais. Ou qualquer outra bravata semelhante.
O texto de hoje parte do questionamento: puro malte é sinônimo de qualidade? Ou seja, ter estampado no rótulo da cerveja em letras garrafais, em negrito, em itálico, cintilando e com uma plaqueta em neon: PURO MALTE, garante algo a mais para a cerveja?
Vamos descobrir logo abaixo.
Puro o Quê?
As definições de puro malte remetem a uma “pureza” propriamente dita, que seria de um dos componentes básicos da cerveja: o malte, o qual, somado ao lúpulo, à água e à levedura (fermento), compõem esse líquido que apaixona as multidões.
De uns anos para cá (talvez 3 ou 4, quiçá um pouco mais), os deuses do mercado cervejeiro (será Mamon agindo?) resolveram lançar no mercado algumas cervejas com o rebranding de puro malte. Ou seja, cervejas de massa, como, por exemplo, Bohemia e Devassa (dentre outras), passaram a estampar uma nova composição, nomeada “marketeiramente” de “puro malte”.
Antes essas cervejas não eram “puras”, ou seja, continham alguns adjuntos (na maioria delas, milho, mas na Budweiser, a maior proporção de adjunto, até hoje, é de arroz), além do malte de cevada (o elemento básico já mencionado). Daí depreende-se que essa mistura de malte (de cevada) com outros cereais era a receita base dessas cervejas populares até então.
A Inspiração na Reinheitsgebot de 1516
A Reinheitsgebot (não tentem pronunciar isso em casa sozinhos, pode ser que a loira alemã do banheiro apareça para te carregar), usualmente traduzida do alemão como “Lei de Pureza” da Cerveja, foi uma lei tributária bávara promulgada pelo duque Guilherme IV da Baviera, em 23 de abril de 1516.
Essa lei estabelecia que a cerveja só poderia conter: água, lúpulo e cevada (e fermento, obviamente). Apesar de seu escopo ser o de uma norma indutora de comportamento (seu cerne era uma determinação tributária para que não faltasse trigo para fazer pães no inverno), ela foi absorvida no imaginário popular recente (e por parte da “cultura cervejeira”) como sendo uma “regulamentação de um padrão qualidade”, coisa que ela nunca se pretendeu ser, nem no passado muito menos no presente.
Nem em sua gênese no século XVI o intuito era criar um regramento de qualidade, e sim, apenas garantir que o trigo não fosse utilizado na cerveja, e sim na fabricação dos pães. Muito menos hoje em dia essa “determinação legislativa” é “válida” para fins qualitativos (tampouco “vigora”, isso sem falar que o Brasil não é regido por leis alienígenas de outros países).
O que o mercado cervejeiro de massa fez foi “traduzir” essa lei para termos mais modernos e a “promulgou” sob a nomenclatura de “puro malte”.
E a qualidade?
Quando se fala de lucros, provavelmente, a qualidade está em segundo plano (isso se não estiver em terceiro, quarto ou quinto…), o importante, no caso citado, é tentar trazer uma aura “gourmetizada” para algo que não melhorou, muito em termos de qualidade e/ou de receita. Tenta-se agregar valor (ou mais valor) a algo por meio do adágio: puro malte.
As cervejas de massa puro malte, após a mudança na receita, passaram, de fato, a não contar mais com os famigerados adjuntos já mencionados.
Todavia, isso não representou um salto qualitativo expressivo, em parte porque os demais insumos são de qualidade duvidosa, e em parte também porque nunca foi o objetivo mudar tanto assim o conteúdo, já que o “brasileiro médio” adora sua cerveja estupidamente gelada, cor de palha, suave e refrescante; ou seja, o malte não precisa aparecer tanto assim no resultado final do gosto cervejeiro popular nacional.
Por causa dessa necessidade de se manter o mesmo padrão gustativo, e, ainda assim, “inovar” no marketing do puro malte, as mudanças efetuadas foram mínimas, talvez apenas aquele seu tio que só toma Brahma de Agudos (o famoso Sommelier de Buteco) seja capaz de asseverar a diferenciação das versões antes (com adjuntos) e depois (puro malte).
Vamos dar o desconto que as “puro malte” costumam ser ligeiramente mais doces e terem o corpo um pouco menos leve que as com adjuntos, mas para a finalidade as quais elas servem (ou seja, “litragem” alta a baixo custo) esses detalhes não são nenhum tour-de-force, isto é, não são nenhuma proeza.
De modo que não há ganho significativo de qualidade, tampouco estampar os dizeres PURO MALTE significa algo de concreto, qualitativamente falando. Deve servir para gourmetizar algo massificado, ou para que aquele seu amigo do início do texto possa bradar algo que ele julga peremptório, mas em termos de análise sensorial, é algo despiciendo.
Ou seja, o “puro malte” é só um afago psicológico em quem acha que está bebendo algo realmente bom (mas, de fato, está bebendo um produto qualitativamente semelhante ao que já bebia).
As artesanais e o puro malte
É engraçado perceber que nem mesmo na Alemanha essa antiga lei é representativa. Muitos dos estilos clássicos alemães (alguns deles foram até ressuscitados) não seguem essas determinações restritivas nos elementos utilizados, vide a Gose, que tem adição de sementes de coentro e sal marinho, dentre outros estilos locais menos conhecidos ainda. Aliás, a própria Weiss leva trigo não-maltado em sua composição, em clara ofensa contra legem ao que Guilherme IV legislou.
Isso sem se falar que tal dispositivo legal vigorou apenas na “Alemanha” (que nem era um Estado propriamente dito na época, tal como conhecemos hoje), e muitas outras escolas, principalmente a belga, sempre fizeram questão de ignorar tal premissa legalista, usando muitas frutas, condimentos e outros elementos e métodos nada convencionais em suas cervejas.
Por causa dessa variedade enorme, hoje em dia, é pouco comum que se veja uma cervejaria artesanal (que seja séria) estampando os dizeres “puro malte” em seu rótulo, simplesmente porque essa “lei” sequer faz sentido hoje em dia (não precisamos poupar o trigo para fazer apenas os pães) e também não agrega nenhuma qualidade intrínseca às cervejas que são produzidas de acordo com esses ditames.
A Saideira
Palavras e frases de efeito são bem persuasivas, e são um belo atrativo de marketing! Essa é a premissa (falsa) por trás da ideia de que “puro malte” significa algo de melhor qualidade ou algo (pretensamente) gourmet.
Entre beber litros de uma “puro malte” de massa qualquer, e umas poucas artesanais, ainda que com um valor superior, a segunda alternativa é bem melhor e denota uma qualidade muito mais apurada. Fica a dica!
Em síntese, puro malte não é sinônimo de qualidade, ou de um “algo a mais” cervejeiro de maneira alguma. É apenas mais uma forma de vender cerveja para as massas.
Música para degustação
Como recomendação musical de hoje, já que falamos de Reinheitsgebot, deixo como indicação a música Du Hast, da banda alemã Rammstein, uma das mais representativas do seu país (e de muito mais qualidade que qualquer “puro malte”).
Saúde!
19 Comments
[…] Elas não são melhore sou piores por serem (ou não serem) puro malte (leia mais sobre isso AQUI). […]
[…] como já foi debatido acerca do puro malte (clique aqui para ler mais sobre isso), o norteamento dado ao vocábulo duplo malte vai na mesma esteira: não é um sinônimo de […]
[…] apego ao saudosismo chauvinista reinheitsgebotiano que brada pelo “puro malte” (leia mais aqui: https://papocultura.com.br/puro-malte-sinonimo-de-qualidade/). O mundo das artesanais é justamente aquele que preza pela expansão de aromas e sabores, […]
Realmente a escrita ” puro malte ” não é sinônimo de qualidade, porém, na minha opinião, o que fez crescer a procura pelas cervejas puro malte, foi uma forma de escapar dos antioxidantes e estabilizantes acrescidos nas cervejas baratas do povão, sendo que várias marcas populares, agora retiraram estes produtos químicos da lista de ingredientes e substituíram os “carboidratos não maltados” por milho.
Exato, Rodrigo, puro malte não pode ser tido como selo de qualidade.
Querido Jorge, não sou químico e o artigo não é científico. Entendo que esses aditivos pioram a qualidade da cerveja, mas também acho que não seria uma informação que mudaria muito o panorama do que eu quis que fosse passado. Abraços!
Nada fala dos quimicos adicionados como conservantes e estabilizantes…..
“Puro maltistas”, unidos, jamais serão vencidos! kkkkkkkkkkkkkkkkk
E viva a Skol trincando!
Kkkkk é como falou um leitor, puro-malte mais doce? Kkk o que percebi nessa matéria é o seguinte, a cerveja que vc acha que devemos tomar é a que venha assim: gosto e cor artificiais kkkkkk
Ser-con-ek, ser-con-tábil, ser-sem-nenhuma-noção do que é uma boa cerveja. Está sobrando “ser” e faltando noção mesmo.
Mas como diria o grande “Carlos Marques”: “skolzeiros mimizentos de todo o mundo, uni-vos!”. Ou algo parecido com isso naquele manifesto famoso.
Apesar da Skol ter linha puro malte, nota-se sua ligeira falta de conhecimentos acerca do assunto a que se atreveu a opinar, somente com seu último rebote. Bohemeiros talvez tivesse soado mais próprio que skolzeiro.
Filósofos não poderiam se adentrar em coisas que não pertencessem à linha conjectural do “eu e o ser”, vez que gosto por ser indiscutível, porém lamentável, somente se filosofa por botequeiros sentados nos botecos ou por “sommeliers” (da elite para a elite).
A lei da pureza alemã que é levada a sério no mundo todo, principalmente na Alemanha, mas não é levada a sério por você. Mas eu concordo em um ponto. Existem ótimas cervejas que não são puro malte (Budweiser por exemplo).
Não ganho dinheiro com as postagens, não é publicidade paga, não tenho vínculo com nenhuma cervejaria nem com “fabricantes”. A opinião é totalmente independente e não passo pano para ninguém. Se ainda não está claro, o problema cognitivo e de interpretação é dos skolzeiros que estão de mimimi.
Bom, uma matéria muito franca,complicou mais que explicou isso se dá a uma pessoal sem conhecimento nenhum da matéria cerveja , acho que seja uma pessoal qur postou apenas para ganhar dinheiro de alguns Fabricante.
Amigo, o artigo (não é uma matéria, como vc afirmou) não tem absolutamente nenhum vínculo comercial. Gostaria da sua opinião a respeito do tema.
Leu errado, isso não é uma reportagem, não sou repórter. É um artigo de opinião. Releia com as premissas certas dessa vez, sr. “Edilvan”.
Principiante cervejeiro, mas vai chegar la se adotar um pouco de humildade.
Que matéria lixo, feita por uma pessoa que com toda certeza, não entende nada de cerveja!
Cara, estava levando a reportagem até a sério, aí você disse que as cervejas “puro malte” serem ligeiramente mais doces? Por favor, reveja seu trabalho, pois quando cheguei nessa parte abandonei o resto da leitura e vim até aqui avisá-lo!!!!