3 espetáculos de teatro de Salvador chegam a Natal neste mês

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O projeto “Três em Bando” realiza ocupação artística em Natal, de 18 a 20 de janeiro, no Espaço Giradança, no bairro da Ribeira. Serão três espetáculos que refletem questões raciais e sociais vividas pelo negro na história e atualidade.

Temas como violência, racismo, desigualdade social e memória permeiam os espetáculos “O Contentor (o contêiner)”, com direção do artista Ridson Reis; o espetáculo “En(cruz)ilhada”, do ator Leno Sacramento; e “Esqueça”, de autoria de Ridson Reis e Roquildes Junior, com direção de Luiz Antônio Sena Junior.

Aproximando as questões e pesquisas nas artes cênicas, o projeto oferece oficinas para artistas, estudantes e público interessado nas propostas que permeiam a dramaturgia para a cena; o corpo negro em cena e o jogo físico na cena – práticas físicas para a prontidão corpórea. Os espetáculos tem valor de entrada de R$ 20 e R$ 10 (meia). Para as oficinas, 1 oficina custa R$ 20 e as 3 oficinas R$ 50.

ENTRECRUZAMENTO DE ATORES

A ideia do projeto surge ao perceber o entrecruzamento dos atores componentes dos espetáculos, que tem suas carreiras pautadas em atuações cênicas nos grupos Bando de Teatro Olodum e A Outra Cia. de Teatro, ambos de Salvador, que se lançam em obras cênicas independentes, paralelas as atividades exercidas nos grupos de teatro.

Nas três obras, que são independentes, existe uma versatilidade cênica, onde as funções e organizações de atuação/direção/escrita são entrecruzadas. Um que dirige uma peça, na outra está atuando; outro ator que atua e realiza a direção musical e codireção de outra peça; um terceiro que escreve e atua numa peça e na outra atua, configurando um jogo de cena teatral, corroborando as diversas facetas de possibilidades cênicas.

Percebendo esse formato, as três obras partem para estratégias de fomento, intercâmbio e difusão de seus fazeres artísticos, independentes, mas conectadas.

O projeto foi idealizado pelo ator e músico Ridson Reis, produção de Inah Irenam e completando o bando os artistas Roquildes Junior, Luiz Antônio Sena Junior, Leno Sacramento, Ricardo Andrade, Cell Dantas, Israel Barreto e Marcos Dedé.

Com o primordial apoio dos grupos e parceiros A Outra Cia. De Teatro, Bando de Teatro Olodum, ExperimentandoNUS Cia. de Dança, Grupo Giradança, Espaço Giradança, Celso Filho, Ernany Braga. O projeto foi contemplado na 3ª chamada do Edital Mobilidade Artística e Cultural da SECULT/BA e conta com o apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.

Serviço:

O que é: Projeto Três em Bando

18 de janeiro
Às 9h – 12h – Oficina: “O corpo negro em cena” – conduzida por Luiz Antônio Sena Junior e Ricardo Andrade.
Às 20h – Espetáculo: Esqueça

19 de janeiro
Às 9h – 12h – Oficina: “O Jogo Físico na Cena – Práticas Físicas para a Prontidão Corpórea” – conduzida por Leno Sacramento e Israel Barretto.
Às 20h – Espetáculo: O Contentor (o contêiner)

20 de janeiro
Às 9h – 12h – Oficina: “Dramaturgia para a cena” – conduzida por Roquildes Junior e Cell Dantas.
Às 20h – Espetáculo: En(cruz)ilhada

Onde: Espaço Giradança (R. Frei Miguelinho, 100 – Ribeira, Natal).
Valores:
Oficinas: 1 oficina R$20 ou 3 oficinas R$50.
Inscrições: através do email inahios@gmail.com e nos dias das oficinas no local, a partir das 8h30.
Espetáculos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Contato: Inah Irenam | (71) 99296-6887 | inahios@gmail.com

ESPETÁCULOS

En(cruz)ilhada

Solo de Leno Sacramento reflete a extermínio do povo negro

En(cruz)ihada é uma obra de arte complexa. Sem massagem, a peça monta um painel com diversas formas de morte do povo preto. Com dramaturgia e atuação do ator Leno Sacramento a peça transcorre em textos, sons e ruídos em off. São 38 minutos em que mixa uma série de personagens sem voz. Como um DJ talentoso que nos conduz de uma música a outra sem pausa nem ruptura rítmica, a peça nos leva de um drama a outro sem linhas de corte.

Esse continuum exasperado só ganha uma pausa para o respiro na cena conduzida por um doce canto em iorubá, único momento de fala direta do ator. Um mergulho na memória da infância e adolescência. Numa espécie de passarela em forma de cruz, ele apresenta seus simulacros de brincadeiras de um tempo bom. Bola de gude, amarelinha, esconde-esconde, pega-pega, condução de arco com vareta, carrinho e o volante do automóvel. Não há dúvida que a peça fala de uma herança coletiva. Um oásis no painel de aridez racial e racismo escaldante que corta na carne da plateia.

Lembra, com muita dor que, desde o tataravô branco colonizador até seu tataraneto, a violência racial é ininterrupta, adaptável e evolutiva. Nos traços estéticos e código ético. En(cruz)ilhada, A palavra “cruz” aparece incrustada na palavra “en(cruz)ilhada”. Encruzilhada, cruz, ilha, ilhada. Polissemia que reveste a peça. Diferentes experiências de vida negra em conflito.

A montagem tem direção de Roquildes Junior, integrante d’A Outra Companhia, e explora as valências físicas do ator para construir uma dramaturgia cênica calcada na expressividade de Sacramento. A ambientação espacial fica a cargo da iluminação desenhada por Marcos Dedê, e a caracterização é uma criação de Agamenon de Abreu.

Ficha técnica

Textos e atuação – Leno Sacramento
Direção – Roquildes Junior
Trilha sonora – Gabriel Franco
Iluminador – Marcos Dede
Figurino – Agamenon de Abreu
Poesia final – Nelson Maca
Produção – Leno Sacramento e Luciene Brito

ESQUEÇA

Espetáculo com Ridson Reis e Roquildes Junior repensa a história do Brasil

Teatro, amizade, política e a história (mal contada) do Brasil: esses são os ingredientes do espetáculo ESQUEÇA, montagem com Ridson Reis (Bando de Teatro Olodum) e Roquildes Junior (A Outra Companhia), dirigida por Luiz Antônio Sena Junior (também d’A Outra Companhia), e com dramaturgia assinada pelos dois atores e pelo pernambucano Giordano Castro (Grupo Magiluth).

Bebendo na fonte do texto “A Descoberta das Américas”, de Dario Fo, o ESQUEÇA aborda de maneira crítica e lúdica o evento do descobrimento do Brasil e o colonialismo. Os dois atores se dividem em diversos personagens, refletindo e recontando a chegada dos portugueses em solo brasileiro sob outro ponto de vista.

Atritando a relação com a história e valendo-se do jogo cênico, a montagem traz elementos da cultura pop e referências do cinema para contar os primeiros episódios do “descobrimento” de forma ficcional e ácida.

Em cena, tudo é jogo. E as escolhas estéticas da direção, dramaturgia e visualidade privilegiam a dinâmica dos atores, construindo um ambiente limpo para a ressignificação de objetos e referências, que ajudam a pensar na seguinte questão: o Brasil foi mesmo descoberto?

Ficha técnica

Textos – Giordano Castro, Ridson Reis e Roquildes Junior
Atuação – Ridson Reis e Roquildes
Direção – Luiz Antônio Sena Jr.
Iluminação – Luiz Antônio Sena Jr.
Visualidade – Luiz Buranga
Comunicação visual – Ton Shübber (Azul Designers)
Produção – Ridson Reis, Roquildes Junior e Bruna Taiss

O Contentor (o contêiner)

Espetáculo reflete sobre o processo de imigração de africano

Três homens africanos, de diferentes países, decidem imigrar ilegalmente para a Europa. Durante a viagem, feita no porão de um navio, compartilham suas histórias de vida e elaboram planos para um futuro próximo, mas, na chegada, são descobertos e aprisionados dentro de um contêiner (ou “contentor”, no português de Portugal). Este é o mote da peça “O Contentor”, escrita em 1994 pelo dramaturgo angolano José Mena Abrantes a partir de um fato real que aconteceu no Porto de Lisboa, em 1989.

Com palco nu e sem cenário o espetáculo se ampara na tensão criada pela dramaturgia do angolano José Mena Abrantes, e vivenciada com intensidade pelo três atores que compõem o elenco. Tendo como principal combustível o jogo entre os atores, a montagem explora a simplicidade e a falta de elementos cênicos como metáfora para o vazio interno do contêiner no qual os personagens são aprisionados. Colocando o espectador hora como testemunhas, hora como cúmplices, hora como refugiados, a peça suscita uma reflexão profunda sobre a temática da imigração, sobre os direitos humanos
e a busca por melhores condições de vida.

Ficha técnica

O Contentor (o contêiner)
De: José Mena Abrantes
Com: Cell Dantas, Leno Sacramento e Ricardo Andrade
Direção: Ridson Reis
Co-Direção e Trilha Original: Roquildes Júnior
Preparação Corporal: Israel Barreto
Produção: Inah Irenam

OFICINAS

Dia 18 de janeiro

Às 9h – 12h – Oficina: “O corpo negro em cena” – conduzida por Luiz Antônio Sena Junior e Ricardo Andrade.

Sinopse: O corpo do ator negro em suas diversas similitudes. Suas experiências baseadas em memórias ancestrais e vivências práticas. Um corpo político no mundo, na cena.

Metodologia: Com recursos de jogos cênicos, os ministrantes irão propor aos participantes o diálogo entre corpo e cena, para a interpretação e criação de personagens. O corpo político em construção, hora em processo de decolonização e emancipação estética.

Objetivo: Instruir os participantes na construção de personagens cênicos em diversas vertentes e modelos de realização cênica.

Público Alvo: a partir de 16 anos, atores e não atores, músicos e não músicos, interessados em arte.

Quantidade de Público para a oficina: 25 pessoas

Dia 19 de janeiro

Às 9h – 12h – Oficina: “O Jogo Físico na Cena – Práticas Físicas para a Prontidão Corpórea” – conduzida por Leno Sacramento e Israel Barretto.

Sinopse: Dedicada à investigação da linguagem de criação corporal, a oficina trará exercícios e jogos coletivos, tendo como princípios de trabalho: exercícios de alongamento, flexibilidade e hiperventilação, exaustão física, consciência corporal e espacial, construção da presença cênica e do estado de jogo, que ajudarão na construção de personagens e na criação de cenas.

Metodologia: A proposta da oficina é trabalhar as valências físicas, através de dinâmicas e exercícios, de modo a condicionar o ator para o trabalho em cena. Inicialmente, os participantes executarão um treinamento que se estende a preparação física. Em seguida, serão trabalhados jogos de improvisação e composição física, estabelecendo o diálogo entre os atores, com objetos e o espaço no qual está inserido.

Objetivo: Desenvolver e experimentar técnicas que estimulem a criação (através do corpo) do aluno/ator, gerando metáforas físicas como ferramentas para a criação cênica e a construção de personagem.

Público Alvo: a partir de 16 anos, atores e não atores, músicos e não músicos, interessados em arte.

Quantidade de Público para a oficina: 25 pessoas

Dia 20 de janeiro

Às 9h – 12h – Oficina: “Dramaturgia para a cena” – conduzida por Roquildes Junior e Cell Dantas.

Sinopse: A dramaturgia de obras teatrais e a composição de trilhas para as cenas. A construção de cenas a partir de elementos fundamentais do teatro e vivências pessoais dos integrantes. Dramaturgias negras como elemento disparador da construção cênica indenitária. Ambiente de falas e gestualidades. Construção, através da fala e musicalidade. A fala do outro. O lugar do Outro.

Metodologia: Utilizando-se de jogos cenográficos, e percepção musical, os participantes serão instigados a desenvolver a criatividade cênica, desenvolvendo senso crítico e estético sobre a concepção de obras teatrais e musicais. Utilização de textos e manuseio de instrumentos musicais estarão inseridos na oficina.

Objetivo: Desenvolver o potencial crítico e estético dos participantes, através de recursos mínimos, desejos cênicos e criatividade.

Público Alvo: a partir de 16 anos, atores e não atores, músicos e não músicos, interessados em arte.

Quantidade de Público para a oficina: 25 pessoas

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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