POETA DA SEMANA: Antônio Ronaldo

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Antônio Ronaldo é compositor e poeta, atua na cena cultural de Natal desde os anos 1970. Participou ativamente do movimento de Poesia Mimeógrafo (também chamado de Poesia Marginal), do Laboratório de Criatividade da UFRN, do Teatro Novo Universitário (Tonus), da UFRN, do Trabalho de Música Popular Potiguar (TRAMPPO), nos anos 1990, e também de festivais de Música e Literatura em geral e do Prêmio Núbia Lafayete da FJA.

Tem livros de poesia editados em 2000, Badulaques, Bombons/Stars Afins/Certas Canções Insertas e 2003, Jeans Avariado. Em 2009 lançou o cd “Sátiro”, com canções de sua autoria e com parceiros poetas e músicos. Em 2011, ganhou o 1º lugar no MPBeco, com a música “Tango do Hospício Encantado”, em parceria com o Maestro Franklyn Nogvaes. Tem músicas gravadas por Cida Lobo, Geraldo Carvalho, Lene Macedo, Donizete Lima, Clara Menezes e vários outros intérpretes renomados da música popular potiguar.

Antônio Ronaldo é nosso POETA DA SEMANA:

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ANOS CINZA

O rato rói
A alma do herói
Com calma
E o poeta constrói
Um verso que dói
Na tarde

Não me aguarde
Na quarta-feira
Quando eu
Já estiver à beira
De outro carnaval

(Poema contido no livro Matéria Plástica (1982) edição mimeógrafo, reeditado na antologia Jeans Avariado (2003) ed. Sebo Vermelho, também classificado no Festival de Música e Poesia da UFRN em 1982 (segmento poesia))

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MAIS QUE SECRETO

O fogo do céu
É seu
O fogo do céu
É meu

O fogaréu
O escambau
E o escarcéu

A chama acesa
No breu
O mais crepita
No créu

O sumo poder
O mais que secreto
O vermelho e o negro
O Orfeu

O afã do saber
E da santidade
E toda a cidade
Ardeu

(poema inédito)

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O VENTO DA VIDA

O vento da vida sopra
Em todas as direções
Mas nunca ao mesmo tempo
Isso não

O vento como a vida
É promessa
É vontade que se arrisca
No tempo

O vento devasta
A vida tem pressa
Pra que, afinal?

A vida
Como o sol
É verdade que se atreve
A cumprir
Tudo que houve
De promessa

(Texto inédito)

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POR QUEM OS SINOS DOBRAM

Os sinos não gemem
De prazer próprio

Os sinos gemem
Para que os humanos
Os escutem

Durante as orgias
Em que esses seres
Se lambuzam de prazer

Esses seres
Que somos nós
E os nossos próprios gemidos
Do nosso próprio prazer

Gemidos que anunciam
Sempre com muito alarde

Em ocasiões quiçá impróprias
Soluços do nosso gozo
Mais íntimo
E por demais retumbante

(Texto inédito)

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PREGO

Não me pregue peças
Pra sofrer não me peça
Esqueça do que eu sou
Eu não seco
Rio
Do que eu sou esqueça
Não me pregue peças
Pra sofrer eu não seco
Esqueça
Não me peça
Pra sofrer do que eu sou
Não me pregue peças
Rio eu não seco
Esqueça

(Poema contido no livro Amante Ladino (1985) Lumiar edições e reeditado na antologia Jeans Avariado (2003) ed. Sebo Vermelho. Musicado e posteriormente gravado no cd Sátiro, com a participação de Geraldo Carvalho na respectiva faixa)

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REFLEXIDADE DO ESPONTÂNEO

Espelhos do invisível
Quando quebram
Espalham cacos intermináveis
De espanto

Espelhos do invisível
Intransponíveis
Fustigam as imagens
Falando sempre a verdade

Sobre infernos e céus
Intercambiáveis
Batevoltam viagens
No apoteótico deboísmo
De seus reflexos

(Texto inédito)

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SAUDADE DAS CUCAS LEGAIS

Ó tempora, ó mores
Amores atemporais
No templo das tempestades
E das flores
Reciclam-se majestades
E seus valores
Universais versáteis e inúteis
Tocam-se dores indizíveis no rádio
Mas eu preciso dizer é da saudade
A infinita saudade
Dos tempos das cucas legais
Quando a massa encefálica era o diferencial
Mas que esses músculos hoje proeminentes demais
Templo das massas tão-somente fálicas
E do beabá dos bossais
Mas eu só queria dizer é da saudade
Das guitarras que hoje quase não solam mais
Um tempo bom de festivais memoráveis
E de um rock n’Roll que quase já era jazz

(Poema contido no livro Badulaques, Bombons/Stars Afins/Certas Canções Insertas (2000) Timbre Editorial e musicado pelo compositor e instrumentista Jorge Macedo (versão musical inédita))

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TAMBORINS

Sou lavrador da palavra
Meus versos desequilibram as torres
Espelha a simplicidade das flores
Espalha o ranço dos botequins

A minha pena
Desestabiliza
A bolsa de valores
E assusta os gatos do morro
Salvando a pele desses
Tamborins

(Poema contido no livro Badulaques, Bombons/Stars Afins/Certas Canções Insertas (2000) Timbre Editorial e musicado pelo compositor e instrumentista Jorge Macedo (versão musical inédita))

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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