Poemeto da Burakera #12
Canto 4 do porrapoema “Vida! Vida!”, composto por 6 contos e 11 páginas
vida! vida!
corrente de rio fluindo em mim
arrastando sujeitos e objetos
girando e regirando coisas vivas
e lembranças semivivas
vozes e gritos
corpo e gesto
alma e passión
esquinas esquinas esquinas!
massa de gentes nas ruas
passos de passos de passos
de passos
encontro e perdas
olhos velozes
momentos urbanos de solidão e pedra
mas de que é feito o momento?
de coisas inacabadas
de coisas sem começo
de sim, de não
ou dum olho humano aberto?
conversando com os momentos…
que me diz este momento, este só-momento vagabundo?
árvores tristes
postes parados
igrejas contra o céu
e os passos da tarde imensa
– fluindo –
por entre ruas, praias, relógios, roupas, bares, carros, camelôs, buzinas, lojas, mendigos, letreiros, traseiros mastigando a tarde, desejos desejando desejos, carne e ritmo, cama e kamasutra, carros de som, músicas, ereções, a tosse dos ônibus, bancos, lojas, shoppings, buracos, calçadas, fios, postes, é proibido estacionar, jornal velho, ventre-inchado, fachadas, becos, frios, calafrios, folhas, fumaças, bolhas, filas, pivetes, estradas, subúrbios, ruas, ruas, ruas, antenas, telhados, um riso solto, olhapipoca! sorvete, algodão doce! milho assado! sinal vermelho, coroa enxuta, olhos-sim!, olhos-não? sinal verde, acelera, acelera, ops, uma fechada! fidaputa! fulêro! galado! acelera, acelera, mar, mar, mar, azulatlântico, brancocinza, nuvens imensas, sombras, prédios altos, namorados, hotdog, construções, ferro batendo, vitrines, oi!, como vai?!, tudo bem! motel-sim, motel-não, motel-já, rostos-em-close, janela, chuva caindo, goteira, pingo pingos pingos, tempo, toques, bicas, bicos, ruídos, corpos nus, coxa entre coxas, gemidos, murmúrios, chiados, cochichos, salivas, bocas sugando, mãos, nádegas, desejos, por trás? si si, suspiros, tudo em tudo, si si si, toda que te quiero toda, zut, zooom! gritos em si menor, corpos jogados, cigarros sugados, sol caliente, latidos, azul, azul, azul, filme pornô, água de coco, cheiro de terra, cheiro de esperma, pés descalços, pele contra pele, gosto de mar, de mar, de mar, êi garçon! mais uma, aquele bolero,
si si si
tragofumando
tragobebendo
língualinguando
sim, comprar o livro, sim comprar remédio, algo esquecido, onde-quem?
flores de plástico azul, marujos de porre, sim, sim, cinema ou bar do Louro? lembranças, cartas, butiques, si si, artezanatos, revistas, loteca, flamengo e Vasco, coluna um, pagar água, pagar luz, puhhh, a prestação, a prestação! o cartório, opa! desculpe! televisão ligada, notícias, filme aquele filme, novelas, fome, violências, guerras, grana, internet, gasolina, petróleo, crianças, risos, aquele empréstimo, o salário, o aumento, riso mental,, desejos, preces, passar mal, pressão lábil, o pique, 16X9? 15X10! stress stress, saudades, arroto, dentes brancos, pupariu! que traseiro! mexendo mastigando mexendo apertando… uah! hay que tener, hay que tener cullones rojos! andar andar andar, grades, gramas, greves, gritos, grupos, grogues, mãos em aceno, seios pulando, coxas de fora, a bela da tarde, um navio ao longe, dunas mansas, sorriso manso, gaivotas, lenços brancos, alguém que se foi, alguém que vai vir, la passión, la passión, ainda?
si si si
ainda ainda ainda,
esquinas da vida
– súbito, um olhar mulher na multidão! –
um olhar dentro de mim!
olhos de destino
olhos se esticando que nem chicletes
que ânsias buscam teus passos?
que fios te movem na cidade suada?
Este foi um dos 15 poemas premiados no 4º Concurso Luís Carlos Guimarães, de 2004 e publicado na antologia “15 Poetas do RN” (Fundação José Augusto, 2005).
1 Comment
Premiação merecedíssima. Poema-porreta. Uma avalanche! Parabéns, Rubão!!