De Pedro Nava ao “Segredo da Igreja” relacionado à Covid-19

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No livro Galo-das-Trevas, Pedro Nava relata que, após quase dois anos em Juiz de Fora, médico recém-formado, retornou a Belo Horizonte e foi trabalhar na Santa Casa, com o ex-professor Ari Ferreira, na condição de assistente voluntário da 2ª Cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Minas Gerais.

Seguia o seu professor, que se louvava no grande Miguel Couto, ou seja, o exame clínico do doente devia ser minucioso e até exaustivo. Transmitia aos seus primeiros alunos que a arte médica é instável, tudo que é verdade hoje, amanhã pode virar uma dúvida ou um engano.

Pedro Nava, então, remete o leitor ao conto Le Secret de l’Eglise – O Segredo da Igreja, do escritor Villiers de l’Isle – Adam. É a história de um padre obcecado por jogo, no qual perdeu todo o seu dinheiro e todas as suas posses, e passou a apostar os objetos da sua paróquia: alfaias, candelabros, ostensório, vasos, cibórios, também sem obter qualquer sucesso.

Segredo da Igreja

Sacrílego, não hesitou em encarar seus algozes e apostar o Segredo da Igreja, o qual revelaria, se outra vez não tivesse êxito. Os seus parceiros ficaram na ânsia de saberem o Segredo da Igreja, apostaram e ganharam.

O Cúria devia expressar o tal segredo, e lívido revelou:  “Le secret de l’Eglise c’est qu’il n’y a pas de Purgatoire” – O segredo da Igreja é que não existe Purgatório.

De início, os parceiros riram, mas logo caíram na real, e perceberam a ideia da irremessibilidade, da ausência de perdão, pois a frase conduz à punição inapelável.

O autor cita o primo e amigo, José Egon, seu alter ego, para dizer que ele pensava no quanto a humanidade se sentiria em desamparo, quando soubesse do Segredo da Medicina. E revelou:  “O segredo da medicina é que todas as doenças são incuráveis”.

Sem perdão e sem cura

A cicatriz deixada pela “cura” já pode ser outra doença. Um simples resfriado deixa seu rastrinho de nada, mas deixa. “O cirurgião que tira um pedaço do corpo e com ele a doença, deixa atrás dele uma falta que, em sã consciência, devia impedi-lo usar a expressão “alta curado”. As doenças não têm cura, mas todas têm tratamento.

Ao saber da ação maléfica do vírus da Covid-19, o Sars-Cov-2, sobre os diversos órgãos e tecidos do corpo humano, fiz a conexão com essa passagem viva do livro Galo-das-Trevas. Ora, sabe-se o quanto o Sars-Cov-2 se difunde, de forma rápida, por todos os órgãos do corpo humano:  nariz, traqueia, pulmões, coração, intestino, fígado, rins, enfim, não há barreiras para deter a invasão do novo coronavírus.

Estudos mais recentes comprovam que os neurônios sofrem também severos danos.  Até casos de Parkinson têm sido associados à Covid-19. A revista The Lancet, recente, publicou o caso de um homem – 45 anos – que apresentou sinais e sintomas da Doença de Parkinson, dois meses depois de se tratar da virose Covid-19.

Estava certo o médico Pedro Nava, quando revelou, cerca de 40 anos atrás, o segredo da medicina: “Todas as doenças são incuráveis”.

Daladier Pessoa Cunha Lima

Daladier Pessoa Cunha Lima

Primeiro reitor eleito da UFRN. Exerceu o cargo de 1987 a 1991. Graduado em Medicina pela UFRN (1965), tem especialização em Medicina do Trabalho e Administração Universitária, com vivência em instituições universitárias no exterior. Ao se aposentar, abdicou da Medicina e optou pela Educação, tendo se dedicado à instalação da FARN, atual UNI-RN, no ano de 1999. É, ainda, membro da Academia de Medicina do RN e do Instituto Histórico e Geográfico do RN. É autor dos livros Noilde Ramalho – uma história de amor à educação e Retratos da Vida, além de outras publicações. E em abril/2017 foi eleito para a cadeira nº 3, da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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