É preciso resgatar o patrimônio histórico martinense

patrimônio histórico martinense

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Cidade histórica de certa importância, Martins possuiu até meados do século XX, um dos mais interessantes conjuntos arquitetônicos, remanescente da era colonial. Toda a praça da matriz e algumas ruas, com seus casarões, faziam de Martins, a nossa Ouro Preto. Sem a magnificência da antiga Vila Rica, é claro.

As casas de cumeeiras altas, ligadas umas às outras, tinham portas e janelas arqueadas, abrindo para as calçadas, onde, tardezinha, colocavam-se cadeiras, para as rodas de conversa.

O conjunto era muito simples, mas harmonioso e característico de uma era. E, embora um tanto rústico, agradava à vista; se tivesse sido bem conservado, despertaria, hoje em dia, interesse turístico, além da sua importância histórica.

Eu tive o privilégio de viver a infância nesse cenário encantador, mas, ainda menino de calças curtas, fui testemunha das primeiras agressões ao patrimônio histórico martinense. Dois ou três casarões derrubados para dar lugar a construções em pretenso estilo moderno. Depois veio a mania das “plásticas” desfiguradoras de belíssimas fachadas coloniais.

Na ausência de uma mentalidade preservacionista, quase todas as casas do centro histórico tiveram suas linhas originais alteradas, daí resultando um pot-pourri modernoso e brega. Salvaram-se o velho sobrado da Rua Cel. Demétrio Lemos, atual sede do Museu Histórico Municipal; a casa do Dr. Pelópidas Fernandes (primorosamente restaurada, tiveram a má ideia de pintá-la de amarelo berrante) e a do farmacêutico Emídio Carvalho, hoje pertencente aos herdeiros do Dr. Francisco Xavier de Lucena (Dr. Laci). Outras edificações de valor artístico e histórico: o prédio da Escola Estadual Almino Afonso; a antiga residência do Sr. Agostinho Veríssimo, restaurada pelos seus herdeiros e a de D. Alcídia Moreira Dias, atualmente pertencente ao Sr. Jaime Costa.

Por último, mas não menos importante, a igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, um dos mais bonitos templos do Estado, e o nicho de Nossa Senhora do Livramento.

Todas as edificações mencionadas são verdadeiros monumentos da arquitetura nordestina. Motivos de orgulho pага Martins.

É preciso protegê-los, deixá-los a salvo da sanha remodeladora.

A CASA DE PEDRA

Sem dúvida, a maior atração turística de Martins, além do clima serrano, é a exuberância da natureza, o verde profuso, que cerca e, não raro, invade a cidade. Outros atrativos vêm sendo criados pela mão do homem: museus, hotéis, restaurantes, parque aquático, etc.

Não devo esquecer, dentre as maravilhas da natureza, a famosa Casa de Pedra, cujo potencial turístico ainda não foi, devidamente, explorado. Essa enorme caverna, cadastrada na Sociedade Brasileira de Cavidades Naturais como a segunda maior do país, em mármore, tem formato de casa, com salão, salas, corredores e quartos, inclusive um misterioso quarto escuro. Embora situada em local de difícil acesso, no sopé de serra, tem atraído visitantes das redondezas e de outras partes do Estado. Lá estiveram pesquisadores da UFRN, à frente o Prof. Armand François Laroche, efetuando explorações arqueológicas, com resultados impressionantes. Cerca de cinco mil peças, inclusive uma ossada humana, coletadas dentro e fora da caverna pelas equipes de pesquisadores, constituem valioso acervo.

Afora os cientistas e outros visitantes, também estiverem na Casa de Pedra personalidades, como o sábio Adolpho Lutz, o escritor Câmara Cascudo e o poeta Henrique Castriciano. Este último deixou escrito na própria pedra um belo poema, depois publicado no jornal “A República”, de Natal, e transcrito em antologia.

A Casa de Pedra por si só vale uma visita a Martins.

GRUPO ESCOLAR ALMINO APONSO

Em Martins, o Grupo Escolar criado pela Lei Estadual nº 249, de 22-11-1907, recebeu a denominação de Almino Afonso, em homenagem ao grande tribuno abolicionista, e sua instalação deu-se em 1909, adaptando-se, para este fim, o antigo prédio da Intendência Municipal. Anos depois, por iniciativa do Intendente Pedro Regalado de Medeiros, construiu-se um edifício, especialmente para sediar o Grupo, inaugurado a 7 de setembro de 1922, dentro dos festejos comemorativos da Independência. Esse prédio, belíssimo, por sinal, abriga atualmente a Escola Estadual Almino Afonso e o Museu Demétrio Lemos.

Em 19 de abril do corrente ano, realizou-se, na Escola, evento festivo para comemorar os seus 115 anos de existência, com apresentação da banda escolar, danças por um grupo de estudantes, encenação de peça teatral e palestra do autor destas linhas (ex-aluno do Grupo) e do crítico de arte e colecionador Manoel Onofre Neto. Na mesma ocasião, alunos apresentaram trabalhos escolares sobre a Exposição “Chão dos Simples”, que se realizou no Museu Histórico Municipal, de 26-12-2023 a 20-04-2024, com curadoria de Onofre Neto. Por último, foram distribuídos, gratuitamente, 20 livros de teor literário.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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