IRONIA DA SORTE
O mundo é sempre assim: a desgraça e a ventura,
O esplendor da grandeza e a miséria sem nome;
Uns cativos da sorte, a perecer de fome,
Outros, da sorte a rir, na pompa e na fartura.
Aqui – se exalta o Vício ao fulgor de um renome
Além – doíra a Virtude a consciência pura;
Se este implora a Jesus que lhe acalme a tortura,
Aquele nutre o mal que o devasta e consome.
Treva e luz: Yma afronta ao lado de um carinho
A serpente a profanar a maciez de um ninho
E a alvorada da paz e o tripudio da guerra,
E quando a alma porcura a eterna Soledade
Bem feliz o que deixa um clarão de saudade,
E um vestígio de dor a palpitar a terra.