PAPO RETO com Anderson Foca: El Rock, Dosol, bairro da Ribeira…

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O Centro Cultural Dosol marcou época na cena cultural de Natal. É clichê, mas é verdade (clichê é sempre verdade?). Foram 15 anos de rock e festa, mais de cinco mil shows com bandas e artistas locais, nacionais e internacionais. Alguns memoráveis (fui para um do Dead Fish de pura loucura!). E para uma Ribeira nem tão velha de guerra assim, mas ainda carente de investimentos, de atenção e de público.

Aquele início de século ainda respirava a rebarba deixada por Paulo Ubarana com o lendário Blackout. Mas houve um hiato, se lembro bem, entre o fim do Blackout e outros estabelecimentos como o Downtown, até a abertura de novas casas que esfriou um já combalido movimento cultural na Rua Chile. Até que o CCDosol, a Casa da Ribeira e outros poucos abnegados resolveram reerguer o fuzuê.

Mas aí vem aquele outra máxima cascudiana de que Natal não consagra… Consagra, sim! O CCDosol e a Casa da Ribeira são consagrados, estão no livro de história da cultura natalense. A bronca é consagra só por uma época. Natal é cidade de moda. E a moda de uns tempos para cá são os pubs, os inferninhos com cerveja artesanal, cardápio bacana e ambientação inspirada nos bares irlandeses. E assim se disseminou esses locais pela cidade.

E o velho Dosol, na velha Ribeira, ficou velho. Mas no outro lado do balcão, o carinha que arrendou o espaço numa Ribeira desacreditada e no vislumbre de fazer música para revitalizar o bairro, é um quarentão moderninho. Anderson Foca ainda impressiona pelo empreendedorismo que o diferenciou de outros tantos músicos e bandas daqueles meados de 90, que se perderam nas garagens de casa ou nos poucos shows nos raros espaços da época.

E a gente bateu um papo com o moço para saber um tico mais sobre essa migração de um espaço adequado a mais de 400 bichos-grilos ao inferninho do El Rock, em Candelária.

PAPO RETO COM ANDERSON FOCA

Por que o Centro Cultural Dosol abriu?

Não havia nenhum lugar pra bandas autorais se apresentarem quando abrimos. E a gente já tinha o selo Dosol, já fazia shows há cinco anos. Então o movimento mais correto pra época era ter o próprio espaço de shows em vez de convencer as casas a receberem os shows que eu queira fazer.

Shows mais fuderosos nesses 15 anos?

Vários shows memoráveis. Um do Mukeka di Rato que tava muitooooo lotado. Os primeiros shows do Plutão e do Far From Alaska; do Jane Fonda gravando dvd; do Autoramas, do Wander Wildner, do Against Me… São inúmeros!

E por que o Centro Cultural Dosol fechou?

O Dosol não fechou. Apenas optamos por não abrir mais. São coisas diferentes. “Fechar” pode parecer que estávamos no vermelho, dando prejuízo e não era o caso. Na verdade, o espaço estava mal utilizado, pelo menos nos últimos três anos, com pouca opção de show para produzir lá. E um espaço icônico como o Dosol não merecia ficar mal utilizado, então melhor não abrir mais. O Circuito Cultural Ribeira terminou ano passado… E agora estamos levando nossos shows para o El Rock, com atividades de palestras, oficinas e tudo mais.

E por que ficou obsoleto?

Não acontece só em Natal. Muitas casas se ajustaram para um público menor, com relação mais direta com o público, e o Dosol é uma casa para quase 500 pessoas. Então, artistas muitos grandes não cabem lá e para os menores fica grande demais. E também nos ajustamos a essa mudança de cenário de show dos últimos tempos. Lembrando que a sala abriu em 2004. Foram muitas muitas mudanças comportamentais no período e por isso o espaço ganhou esse ar cult, mas mal utilizado.

Nesse período também se formou plateia em Natal, a Ribeira cresceu junto com a cena artística. Não deveria ser o inverso?

A experiência do show mudou muito nesse período, o tipo de show que atrai mais gente ou menos gente e o CCDosol, até onde deu, seguiu essa evolução. Lógico, o que fazemos agora é bem mais acessado do que em 2004, mas o espaço ficou fora desse movimento. A rigor, todos os espaços da Ribeira ou mudaram de nome ou deixaram de existir nesse tempo e a própria Casa da Ribeira também ameaça fechar a cada novo ciclo. É a demanda natural da cidade e outros tempos de acesso à música e à cultura que influenciam mais nesse tipo de decisão.

E qual o destino do CCDosol a partir de agora?

O espaço é arrendado, então vamos devolver ao dono e ele resolve o que fazer. Já tem interessados da cultura em assumir o local. Tomara que um novo ciclo de gestão ocupe o prédio, porque temos um amor enorme por ele. Foi difícil desapegar.

Você citou o Circuito Ribeira. Qual previsão para este ano?

O Circuito depende de patrocínio e o que tínhamos acabou em dezembro. Espero que consigamos apoio novamente. A Ribeira nunca precisou tanto do Circuito como agora.

Por que você acha isso?

Justo porque restaram poucos espaços abertos e os que estão abertos têm dificuldades. E o Circuito ajuda a potencializar a narrativa do bairro. Quando a Ribeira está movimentada, o Circuito complementa. Mas não está. Então é fundamental resgatar esse projeto.


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Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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