Palavras que nunca lhe direi

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Quando quis lhe falar você me olhou com olhos de anseio. Parei. Perturbei-me. A timidez me fez buscar o chão e não o céu. Queria lhe contar da minha pressa de ficar. Mesmo os sentimentos construídos sob tijolos subjetivos, imprecisos e confusos, alguma coisa lhe falaria. As certezas gritam. Mas acredite: a vergonha abafa os sons da alma.

A agonia é a do silêncio; do silêncio que sempre está à escuta. As frases estão formadas e decoradas. Querem soltar-se aos ventos. Nada que modifique as cores da estação. São apenas palavras que nunca lhe direi. Guardarei nos porões do meu sentimento tudo que me deu. Talvez sussurros inaudíveis para desobstruir a dor das palavras contidas.

Como gostaria de falar-lhe de meus medos. De como me arde lhe ver perfumada em querências de palavras. Gosto-lhe. Sua respiração profunda quando me beija seca minha coragem. Fico entregue, banhado de você. E nesse instante passo a conhecer uma lágrima despida de tristeza. Durou o tempo de um pôr do sol inteiro. E mais uma vez quis lhe falar. E mais uma vez tropecei antes de chegar ao fim.

Só enquanto eu respirar lembrarei do seu beijo. Se ao menos conseguisse escutar os sons da paixão em meu silêncio… Quando me olhas percebo um procurar além. Envergonhado, tento proteger aquele sentimento em gestação. Talvez um dia descubra alguns mistérios nestas tuas sondas indiscretas. Como disse, as certezas gritam.

Mas há o que não é mistério. É apenas silêncio. Uma frase muda, terna e verdadeira. E não adiantam olhos de anseio ou lunetas a escrutar os labirintos dos meus sentimentos. Sabes bem o amor é covarde e nos assalta quando desprevenidos. Por isso, guardo as frases minhas que são tuas, em um rancho escondido da minha alma. Quem sabe um dia, desprotegido, seja vítima do amor algoz e despeje sobre o papel as palavras que nunca lhe direi: sim, eu amo você.

* Publicado em 29 de julho de 2007, em O Poti
Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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