Outra Copa do Mundo

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

É Copa do Mundo, maior evento do esporte mais popular do mundo, e jogam Argentina e México. A Argentina de Lionel Messi, um dos mais importantes jogadores de todos os tempos e certamente entre os dois maiores da atualidade. A mesma Argentina elevada a desafeto máximo do futebol brasileiro, o nosso antagonista favorito.

Pela janela, ouço os meninos na rua gritarem “um a zero, um a zero”, mas não é ao jogo da Copa que se referem.

É fim de tarde ameno de um sábado bonito, a rua tranquila, boa parte do país em frente a alguma tv ou computador por aí, vidrados, como se o destino da parte escura do mundo estivesse na iminência de ser decidido. A tarde perfeita para ver um jogo de Copa.

Mas o “um a zero” que os meninos comemoram não está sendo transmitido pela tv nem jogado num estádio que brotou no meio do deserto catari, sob o sangue de milhares de trabalhadores.

Estão jogando na rua, com a bola de borracha e traves improvisadas com chinelos e paralelepípedos. Estão decidindo o mundo no meio da rua enquanto o mundo se resolve num campo de outro lado do planeta.

Correm, entregam uma infância inteira no campo impossível, numa tarde que engrossará o caldo da memória entre tantas outras quando, em um futuro ainda imperceptível por agora, recordarem-se de um tempo em que viver era algo tão natural e distante do sofrimento mesquinho de toda a rotina massacrante do universo tacanho em que vivem os adultos.

O sonho dos meninos não se mostra na tv. E a Copa do Mundo é muito, muito maior na cabeça e coração de cada um deles.


CRÉDITO DA FOTO: Luiz Neto

Theo Alves

Theo Alves

Theo G. Alves nasceu em dezembro de 1980, em Natal, mas cresceu em Currais Novos e é radicado em Santa Cruz, cidades do interior potiguar. Escritor e fotógrafo, publicou os livros artesanais Loa de Pedra (poesia) e A Casa Miúda (contos), além de ter participado das coletâneas Tamborete (poesia) e Triacanto: Trilogia da Dor e Outras Mazelas. Em 2009 lançou seu Pequeno Manual Prático de Coisas Inúteis (poesia e contos); em 2015, A Máquina de Avessar os Dias (poesia), ambos pela Editora Flor do Sal. Em 2018, através da Editora Moinhos, publicou Doce Azedo Amaro (poesia).

Como fotógrafo, dedica-se em especial à fotografia documental e de rua, tendo participado de exposições que discutiam relações de trabalho e a vida em comunidades das regiões Trairi e Seridó. Também ministra aulas de fotografia digital com aparelhos celulares em projetos de extensão do IFRN, onde é servidor.

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

1 Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidos do mês