O monstro da grana preta

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Meu caro leitor, mude o horizonte da sua vida: invente um monstro. Outros já fizeram isso e da noite para o dia conquistaram fama e fortuna. Um monstro é uma escandalosa cordilheira de dinheiro.

O diretor do filme “A Forma da Água”, o mexicano Guilhermo Del Toro logrou a maior boiada criando um monstro que parece um peixe e que arrebata o coração de uma mudinha. Bingo, bingo total e já está tudo dominado para o monstro do Guilhermo levar a cesta nada básica de 13 Oscars.

O sujeito que inventou o Frankenstein até hoje está sentado numa mina de pepitas douradas. O diretor de King Kong comprou o Empire State e da cobertura ao térreo, depositou em cada andar centenas de baús abarrotados de barras de ouro graças ao sucesso do filme do gorilão negro que, solto por Nova York, destruía a cidade até se apaixonar perdidamente por uma moça loira e ficar mansinho que nem um pintinho.

Em todos os lugares do mundo é uma joia criar um monstro. No Japão, os donos do Godzilla, em cada sorriso, transpiram diamantes raros e gigantescos.

Para nós brasileiros, inventar um monstro é a coisa mais fácil do mundo. Aqui os monstros abundam porque é só copiar a realidade.

Tem o monstro da inflação que está vivinha da silva, camuflada, mas está. Tem o monstro da desigualdade, poucos com muito e muitos sem nada. Tem o monstro da Paraíso do Tuiuti, escola de samba vice-campeã de 2018, aquele vampirão chifrudo, o monstro do neoliberalismo, a praga que está desunindo o mundo. Tem o monstro da prescrição que perdoam os ladrões, todos soltos, todos soltos. Tem o monstro da ignorância, o nosso povo é o povo mais mal informado do planeta. Tem o monstro da bala perdida, conhece monstro mais traiçoeiro? Tem o monstro da corrupção, o maior disparate porque quem deveria combater a corrupção se locupleta do malandro auxílio-moradia mesmo residindo em casa própria. Tem o monstro da fome, o povo está saqueando supermercados, semana passada limparam o Pão de Açúcar do Leblon. E, por fim, tem o monstro da Globo, o canalha histórico.

Os monstros do Brasil se escondem atrás de mil faces. Ontem convidei meu enteado para comprar um jornal na banca vizinha a sua casa no bairro de Petrópolis. Quando me dei conta estava com ele, na garagem do prédio. Então lhe perguntei: ”Pra quê ir de carro?” Subindo a rampa, Chico respondeu: “Só louco anda a pé em Natal à noite”.

Com mil caracóis, raios me partam, só dizendo assim. O monstro da paranoia pira todo mundo. Eu mesmo me confesso bem atrapalhado. Tem horas que acredito piamente na última frase da peça “Édipo Rei” do velho Sófocles (427.a.C.): “Nenhum homem é feliz até morrer”.

Marcius Cortez

Marcius Cortez

Cinco livros publicados e o jogo ainda não acabou. Escrever é um embate que resulta em vitórias, derrotas e empates. O primeiro livro de Borges vendeu apenas 37 exemplares. O gol é quando encontramos um significado que melhore a realidade.

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