A cidade de Natal é formada por quatro regiões administrativas: norte, sul, leste e oeste, cada uma delas com vários bairros que, por sua vez, têm suas características, suas tradições, seus costumes.
A Cidade Alta foi o local onde Natal nasceu, em 25 de dezembro de 1599, sendo considerado o berço da nossa capital. O historiador Itamar de Souza, no seu livro Nova História de Natal, afirma que o bairro da Ribeira “começou a delinear a sua fisionomia entre o fim do século XVIII e o início do século XIX.” Depois da Cidade Alta e da Ribeira, nasceu o bairro das Rocas, fundado em 1877. Com o tempo a cidade cresceu e novos bairros surgiram.
De todas as regiões administrativas de Natal, a maior é inegavelmente a zona norte, cujo número de habitantes supera o da cidade de Mossoró. Por outro lado, a zona leste é bem menor do que a zona norte, mas tem um dado que a diferencia de todas as outras regiões administrativas da nossa capital: deu ao Brasil o único potiguar a se tornar presidente da República. Nascido nas Rocas, no dia 3 de fevereiro de 1899, João Fernandes Campos Café Filho foi eleito vice-presidente da República, assumindo a presidência em 1954, com a morte de Getúlio Vargas.
Além de ser o berço de Café Filho, o bairro das Rocas se tornou conhecido pelos pescadores, por reunir adeptos de religiões tradicionais cristãs (católicos e evangélicos), de religiões de matrizes africanas e por sua diversidade cultural: foi lá que surgiu a primeira escola de samba de bairros, a Malandros do Samba.
Além dos bairros da zona leste já citados, os bairros de Brasília Teimosa, Santos Reis e Mãe Luiza são praticamente ligados às Rocas, destacando-se pela proliferação de atividades culturais e por serem berços de personagens ligados à nossa cultura. Mãe Luiza é o berço de dois gênios das artes plásticas: o falecido Pedro Grilo (que ganhou uma estátua na escadaria de Mãe Luiza) e Marcelus Bob, que, em 2005, foi considerado “um dos 100 maiores artistas de vanguarda do mundo” pela revista alemã Neue Blätter.
Nascido no Passo da Pátria, mas criado em Mãe Luiza, bairro onde mora, Marcelino William de Farias (nome de batismo de Marcelus Bob) concluiu seus estudos na ETFRN (atual IFRN) e não pertence oficialmente a nenhum movimento artístico: tem seu próprio estilo. Dácio Galvão, imortal da Academia Norte-rio-grandense de Letras e ex-secretário de Cultura de Natal, no seu livro lançado recentemente, Aqui Alhures, afirma que a pintura de Marcelus Bob é explosiva nas cores, tem traço fino e evoca a marca da tinturaria da Pop Art (movimento que foi criado no início dos anos 50 por um grupo de artistas ingleses e que ficou mundialmente famosa nos anos 60 a partir dos trabalhos de Andy Warhol).
O bairro de Santos Reis, – contíguo ao bairro das Rocas – situado na zona leste também tem seu destaque cultural…
Depois de residir por alguns anos na Cidade da Esperança, o militar Christiano Gomes de Lima, que tinha vários filhos, mudou-se para o bairro de Santos Reis. Seus filhos, todos com tendências para a música, começaram a tocar em bandas muito cedo. Nos anos 80 fizeram parte dos Impossíveis e depois de alguns anos na estrada, em 1988, resolveram mudar de nome: passaram a se chamar Grafith. A partir de então adotaram um repertório sem limite de gêneros e sem preconceito contra nenhum estilo musical; com a mudança, começaram a conquistar um público cada vez maior, nas mais diversas camadas sociais, o que deu origem a um público que se autodenominou “nação grafiteira”. Desde então, sob a liderança empresarial de Júnior, a banda Grafith fez uma espécie de releitura do seu repertório e começou a conquistar fãs no Ceará, Pernambuco, Sergipe, Paraíba e até mesmo no Rio de Janeiro. Se antes grande parte das músicas era cantada por Joãozinho (que tem um falsete extraordinário e canta grandes sucessos internacionais nos tons originais), com o passar do tempo, Kaká passou a compor e cantar as músicas compostas por ele, que passaram a ser gravadas pela banda e fazer grande sucesso.
Hoje, Júnior, Joãozinho, Kaká e Carlinhos têm um público formado por adultos, jovens e recentemente conseguiram o que antes parecia algo inimaginável: conquistaram um grande público formado por crianças.
Com certeza, “seu” Christiano, onde estiver, tem orgulho dos “meninos de Santos Reis”. Seus filhos.
Instagram:@fernandoluizcantor
————
Foto: Os “meninos” do Grafith ainda como banda Sui Generis
1 Comment
[…] artigo recente falei, entre outras coisas, sobre alguns personagens da zona leste de Natal, mas, para que o texto […]