… Ôa boa!…discrição ao abrir!

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Croniketa da Burakera #42, por Ruben G Nunes

É de babar! Meu mano-velho Enoch Domingos, de mais de 30 anos de boa amizade, músico, escritor, poeta, pintor, especialista nos mistérios de criar o belo, me envia um vídeo com uma dessas coroas de fechar comércios, Bolsas e Commoditties.

Tem que fechar tudo, velhão. Tem que baixar MedidaProvisória de feriadão em homenagem às SuperBarangas. Quarentena geral!

Ô corôa boa, sô! De uma boazura carnespiritual! Tanto que cutucou bregas bagas poeteiras desse velho desfilósofo nerudiano:

bela
velha
mulha
que mistérios escondes
nas tuas ancas nuas?

Mas pera lá!

A mensagem lá embaixo vem com um aviso moral caretóide: “discrição ao abrir”.

Como assim discrição ao abrir, cumpadi Enoch?

A “ôa-boa” nem nua está.

Tá de blusa, calcinha, colarzão, piercing no biguinho, sandalinha, cabelão pentecostal.

E mais a marca branquinha de fio dental cobrindo “suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam.”, como escrevia Mestre Caminha em sua célebre Carta sobre o fashion-look das indiazinhas.

Quer dizer, tudo nos conformes da moral natural, desde o Descobrimento do Brasil. A portuguesada sabia da coisas. Ancas são ancas.

Sem essa de “discrição ao abrir”. Discrição o escambau, véi!

Abertura total! Não há nada de pornô nessa belezura maturada de mais de 50 anos.

Mas tem sempre a pseudomoralia que vem e diz:

“Mas as crianças! As crianças!”

As crianças? As crianças?

As crianças são diariamente encharcadas em suas libidos infantis pelos programas pôrno-apelativos das Tvs abertas e do mundo digital.

Aquela enxurrada de BBBs se esfregando, de Panicats sapudas, de bundas, melancias, abóboras, morango, dançando o kuduro, etc.

Ora, a criançada já está a cada dia sendo conscientizada na marra, pelos admiráveis avanços tecnológicos da TV e do mundo digital.

Cujos programas e aplicativos, para além de qualquer moralia teórica engessada, trazem em si a prática de abertura total e irrestrita: indiscrição ao abrir”.  E sempre trazem um mundo novo.

O mundo está em eterno trabalho de parto, mizifio. Desde as primitivas cópulas das cavernas, Tempo, História e relações sociais estão sempre em trabalho de parto. Gestando o novo com antigos espermas, sementes, culturas, contradições e absurdos.

Mas não é isso a Vida? Vida sustentando a Vida.

Para além da pornográfica Libertinagem de sites de nudez e sexo, não haverá a dignidade da Liberdade humana, em seu trabalho diuturno de superação de si e de autorenascer?

É preciso, pois, um papo franco e cuidadoso, com a criançada, sobre as diferenças, as contradições – sobre os absurdos – que movem a vida humana.

Lembro as eternas palavras do velho Camus, em “O Mito de Sísifo”, 1942: “Viver é fazer viver o absurdo. Fazê-lo viver é, antes de tudo, encará-lo”.

Daí então é que não precisa mesmo da tal “discrição ao abrir” as belas imagens do vídeo que mostra uma ainda sedutora mulher madura. Essa mulha cinquentona precisa ser vista em toda sua pujança, cujança e vulvança!!!

Há certas belezas naturais, mesmo velhuscas, que precisam ser focadas primeiro com os olhos d’alma.

Depois, mas só nos depois, vem os amassos. Osso no osso. Enquanto as gaivotas drapejam desejos.

Há nelas, nas belezas maturadas e envelhadas, uma nudez moral-imoral curtida na experiência de vida. Que nos enleva pelo sentimento do belo, das rugas e dos longos cabelos brancos ao vento.

A “moçavéia” do vídeo de Enoch abre suas indiscrições num corposorriso que ilumina romantismos, vadiagens, burakeras e pecados subjacentes.

Se liga, mago-véio, nela o Tempo estancou admirado!

Arteviva, mano!  Ato de dignificação da idade.

Até penso que a corôa-boa do vídeo ainda está num padrão muito certinho de super-mulha.

Explico: há também “ôas-boas” cheias de lindas ruguinhas sensuais e camadas de pneus pra lá de fascinantes em suas dobras misteriosas. E até fatais…

Ora, pois, gajo!.. é preciso ter olhos encharcados de imaginação pra sentir a belezura daquelas fartas carnaduras esculpidas nas estrias dos tempos.

Como diria compadre Lavoisier, na natura nada se perde, tudo se transforma… e se come. Ou quase tudo.

Vai cinquentaça-velha-de-guerra!

Abre discrições e indiscrições!

Abre ancas e pelancas!

Abre tudo!

Mostra os mistérios, mostra os enganchos, mostra os xabadás sexi-enrugados das “ôas boas”!!!

Mais, ein!?


FOTO de capa: Damon Dahlen/Huffington Post

Ruben G Nunes

Ruben G Nunes

Desfilósofo-romancista & croniKero

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