Ao fazer o passeio matinal esta semana, eu e Snow – claro – desfrutamos do testemunho desse milagre da natureza: a floração dos ipês.
Ao passar pela avenida, nossos olhos foram capturados pela linda visão dos três exemplares de ipês amarelos! Ou, como ouvi, rindo, na expressão de simplicidade de um obreiro da loja que os abrigam: aqueles pés de pau que o povo vem olhar!
Ipê vem de yb + pé, pau cascudo, em tupi. O mais frondoso deles impressiona! Chamo-o de ipê-pai. Após ter se despido totalmente das folhas verdes que há pouco o agasalhava, veste-se, agora, em floração esplêndida, como que a saudar o ano novo. Quem sabe até chuvoso, né?
Imponente e respeitável, seus braços erguidos apresentam, orgulhosamente, as novas vestes florais que seduzem não apenas pássaros e insetos – beija-flores e abelhas – mas também o homo sapiens transeunte. Olha, são desses espetáculos da natureza que ficamos a contemplar: “coisas que pra mode ver, o cristão tem de andar a pé”. Ah, mas percebi que mesmo quem passa de automóvel fica maravilhado com a beleza do pau cascudo!
Vamos, eu e Snow, caminhando em câmera lenta e desfrutando da cena, observando que a brisa vai soltando do ipê-pai as delicadas flores em formato de pequenas cornetas. As lufadas de zéfiro fazem-nas caírem como leve pluma no tapete amarelo-ouro do solo.
Diferentemente do ipê descrito por José de Alencar, o ipê-pai é vida que se transforma. Não é caule morto. É tronco forte que suporta o espetáculo da natureza a nos lembrar do devir de Heráclito.
Acredito que, se o ipê-pai guardar algum segredo, é segredo bom e belo, a nos confidenciar que tudo se transforma, renovando-se o ciclo da vida.
CRÉDITO DA FOTO: Adriano Abreu