O encanto dos pássaros

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Há dezenas de anos, frequento um local onde se sobressai a natureza, tanto com os vegetais ali presentes quanto com os pequenos animais que se movem livres nos espaços.

A grama, a relva, as pequenas plantas são repouso para os olhos no verde que se espraia. Plantas de jardim também são cuidadas, algumas com floradas alegres e coloridas. Três palmeiras se elevam tão lindas, tamanho médio, e exigem pouco para se manterem sempre airosas e sorridentes.

Em área contígua, existe um pomar com diversas árvores frutíferas, tais como pés de acerola, manga rosa e espada, pitanga, coco e jaca.  As polpas das frutas não chegam pra quem quer.  Vizinho à jaqueira, a mais alta e a mais robusta das espécimes do pomar, floresce um bonito Pau-brasil, a árvore nacional do país, que deu o nome à nossa Pátria.  Chamo-o de Rei, e a jaqueira, de Rainha, alcunhas merecidas, pela altivez com que se destacam.

Os pássaros que povoam esse espaço onde o verde domina dão um show à parte com seus cantos belíssimos, sinfonia natural, tocada por orquestra que dispensa regentes. Sei que há um regente invisível, diáfano, tão oculto e, ao mesmo tempo, tão presente, capaz de revelar a beleza na forma mais pura da criação.

De todos os cantos dos pássaros desse viveiro a céu aberto, ressalto o dos sabiás, pelo timbre suave que encanta e enleva. O sabiá é citado como o pássaro que canta o amor e a primavera. O poema Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias (1823-1864), é famoso pelo apreço à natureza e aos sabiás: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o sabiá”. Desde 2002, o sabiá laranjeira passou a ser, por ato presidencial, a ave nacional do Brasil.

Mas, além do sabiá, existem os lindos bem-te-vis, as rolinhas, os beija-flores, os sanhaços, e muitos outros.

Há poucos dias, noto que essa alegre e bela cena sonora e visual dos seres alados desse aviário sem barreiras tornou-se meio silente, com menos cursos de voos, enfim, uma calmaria fora do comum.  Passei a torcer para que uma construção vizinha logo chegasse ao fim, pois fiquei certo de que o ruído e a poeira eram a causa dessa reação desagradável para os atores do espetáculo da natureza, bem como para os espectadores.

Em dias recentes, li uma crônica da neurocientista brasileira Suzana Herculano – Houzel, na qual ela aponta que o canto dos pássaros melhora com o menor barulho urbano. Ela se referiu a uma pesquisa da U. do Tennessee que comparou o canto dos pássaros em pleno ruído da cidade de São Francisco, CA, com o tempo do lockdown – abril a junho de 2020 –, e verificou que os gorjeios das aves se tornaram bem mais cheios de conteúdo e mais completos, durante a fase de menor barulho.

A conclusão da pesquisa foi que, no auge da pandemia, os pássaros urbanos voltaram a cantar com o mesmo esmero dos seus primos da área rural. Bela e sábia natureza.

Daladier Pessoa Cunha Lima

Daladier Pessoa Cunha Lima

Primeiro reitor eleito da UFRN. Exerceu o cargo de 1987 a 1991. Graduado em Medicina pela UFRN (1965), tem especialização em Medicina do Trabalho e Administração Universitária, com vivência em instituições universitárias no exterior. Ao se aposentar, abdicou da Medicina e optou pela Educação, tendo se dedicado à instalação da FARN, atual UNI-RN, no ano de 1999. É, ainda, membro da Academia de Medicina do RN e do Instituto Histórico e Geográfico do RN. É autor dos livros Noilde Ramalho – uma história de amor à educação e Retratos da Vida, além de outras publicações. E em abril/2017 foi eleito para a cadeira nº 3, da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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