O Crepúsculo dos Deuses

orlando silva

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Em 1984, quando estive no Rio para divulgar meu primeiro LP eu tive a oportunidade de conhecer vários comunicadores e pessoas ligadas ao Rádio e à TV e fiz também algumas amizades. Eu queria conhecer os meandros do mundo musical e sempre que podia conversava com apresentadores, locutores e discotecários para matar a minha curiosidade. Certa vez, depois de participar do programa de Luiz Vieira na rádio Nacional, fui almoçar com o discotecário da emissora em um restaurante da praça Mauá.

Foi um encontro bastante agradável e o discotecário, que era funcionário da emissora desde meados dos anos cinquenta, me falou coisas interessantíssimas sobre a “era de ouro” do rádio. Ele havia conhecido de perto artistas famosos como Paulo Gracindo, Cézar de Alencar, Linda Batista e sua irmã Dircinha, Orlando Silva, Silvio Caldas, Cauby Peixoto, Dalva de Oliveira e Ângela Maria, entre outros.

Ele me contou algumas histórias sobre a luta, o sucesso e até o declínio de alguns famosos da época, mas dentre todas as que ele me contou, a que mais chamou a minha atenção foi a história sobre os últimos anos da vida de Orlando Silva.

O carioca Orlando Garcia da Silva se apresentou pela primeira vez no programa de Francisco Alves na Rádio Cajuti, em junho de 1934.  Seis meses depois passou a fazer parte do cast da RCA Victor e em1935 gravou seu primeiro disco. Aos poucos se tornou um artista consagrado em todo o Brasil, perseguido por milhares de fãs onde se apresentava, o que fez o locutor Oduvaldo Cozzi anunciá-lo como “o cantor das multidões”.

Nos anos cinquenta sua carreira já estava em declínio, pois desde a década de quarente ele estava usando drogas. No ano de 1962, numa tentativa quase desesperada de reconquistar o seu espaço no cenário musical, o intérprete de músicas imortais como A Jardineira, Rosa, Carinhoso e Sertaneja, entre outras, gravou uma coletânea com 32 dos seus maiores sucessos pela RCA Victor, mas o disco foi um fracasso.

O discotecário da rádio Nacional me disse que Orlando Silva viveu os últimos anos de vida em sua casa na Ilha do Governador, onde passava a maior parte do tempo sentado em uma cadeira na área contemplando o mar e ouvindo seus antigos sucessos. O cantor das multidões morreu de isquemia cerebral no dia 7 de agosto de 1978.

Em 1950 o filme O Crepúsculo dos Deuses, protagonizado por Glória Swanson, conta a história de uma atriz decadente que quer reconquistar o sucesso a qualquer preço; essa é uma dura realidade que faz parte da vida de muitos artistas que não aceitam o ocaso da sua fase áurea.

No Rio de Janeiro, o Abrigo dos Artistas acolhe muitos que não souberam (ou não puderam) se preparar para o crepúsculo de suas carreiras. O local acolhe atores, atrizes, músicos, compositores, radialistas e muitos profissionais que contribuíram com seu trabalho para a arte e a cultura do Brasil. Localizado em Jacarepaguá, o Abrigo dos Artistas não é um asilo para idosos; é um lugar confortável com assistência médica e residências individuais. Vivem lá, entre outros, vários nomes como a ex-vedete Íris Bruzzi, o ator Rui Resende e até artistas que foram conhecidos internacionalmente como Airto Moreira (percussionista brasileiro de fama internacional) e sua esposa Flora Purim (uma das grandes cantoras de Jazz dos anos 70 e 80, que foi indicada ao Grammy).

O Crepúsculo dos Deuses chega para todos. Infelizmente, quase ninguém se prepara para a sua chegada.

Instagram: @fernandoluizcantor

Fernando Luiz

Fernando Luiz

Cantor, compositor, produtor cultural e apresentador do programa Talento Potiguar, que é exibido aos sábados, às 8 horas pela TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.

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