O anódino transante

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Ser maldito. Mas não há maldizer sem dizer, e de mim nada dizem, ou não mais que a média, logo o pior em sua totalidade. Sou o maldito de Taubaté, uma siriema em cio reverso, correndo da vernissage e da glória, ramos do embelezamento de cadáver. Mas o ocidental, já todo ele esteticista funerário, é sem exceção um artista. A coisa me preocupa. Não sei, acho taxidermia coisa de tarado, tanto mais se prospectiva: o afã da fama póstuma, a imortalidade tântrica, platônica. Platonismo é perversão, nada senão isto aplica-se platônica e universalmente. Donde o celibatário ser o tarado monumental, o tarado formal, e o não confiar sobrinho a matemático ou místico. Percebê-lo foi o mais útil adendo de Freud à história do pensamento e à perpetuidade humana na Terra.

Quero morrer como Glenn Gould, exilado do público no mato e fulminado por um aneurisma. Ou um meteorito, pra não pegar hospital, que me estraga o humor. Ou envelhecer como Pynchon, só raramente flagrado, tipo um Pé Grande, ou um cormorão australiano, tido até então por extinto, dada a falência da instituição familiar nuclear heteronormativa cormorônica, ou sei lá. Não há motéis Havan na savana, eis tudo, todo o imbróglio da extinção. Falta ao Green Peace esse foco moteleiro. A sassaricação salvará o mundo.

Claro, Salinger deve passar o dia vendo Friends e massacrando o mangalho. Eu sei, eu sei. O grande autor insulta a obra. É ler as cartas do gigante irlandês, mano Joyce, à sua webdate, Nora, e constatá-lo fatalmente. O trecho mais recitável em igrejas presbiterianas ortodoxas do Wisconsin não é sobre golden shower. Há, leitor, piores cores, piores banhos. Tudo sopesado, prefiram-nos os medianos, brasileirinhas e little fools fitzgeraldianas. O grande autor deprava a obra. É a hora e vez do transão da mediocridade.

Daniel Liberalino

Daniel Liberalino

Escritor, desenhista, músico e pesquisador.

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