Newton Navarro – Uma ponte para a modernidade

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Não é apenas figura de retórica dizer-se que Newton Navarro representa, no Rio Grande do Norte, uma ponte para a modernidade. Foi ele um dos introdutores da Arte Moderna em Natal, aqui realizando exposição de pinturas, que escandalizou, pelo seu vanguardismo, a cidade acanhada e provinciana, até então presa a uma arte acadêmica, passadista. Com ele juntou-se Dorian Gray Caldas numa espécie de apostolado modernista, embora tardio.

Mas, Newton, tal como Dorian, foi muito mais do que artista plástico: escritor, dos maiores que já tivemos, incursionou por diversos gêneros literários – conto, crônica, poesia, dramaturgia, ensaio – com maestria incomparável, e teve por temática a sua amada cidade Natal, especialmente alguns recantos desta. No livro de sua autoria, “Beira Rio”, cantou o Potengi velho de guerra, o bairro da Ribeira, seus mistérios e encantos boêmios; “Do Outro Lado do Rio, Entre os Morros”, outra coletânea de suas crônicas, gravou o lirismo da Redinha, a praia, os veranistas, a vida “risonha e franca” dos bons tempos. E não ficou só aí, mas, em quase tudo que criou, seja como escritor, seja como artista plástico, Newton deixa transparecer seu amor por Natal. Sempre no mais alto padrão de qualidade. Sem dúvidas, é o nosso maior contista, e ao lado de Dorian Gray, um dos nossos melhores artistas plásticos.

Como reconhecimento a tudo que fez de bom e de belo, tem recebido algumas homenagens in memoriam, destacando-se a que lhe foi prestada pela governadora Wilma de Faria, que deu o seu nome à ponte, construída pelo seu Governo, sobre o rio Potengi. Justa homenagem a quem tanto exaltou, em páginas lindas, os dois lados do rio sobre o qual salta a ponte.

Pois, caros leitores, imaginem o meu espanto quando soube que um deputado estadual, cujo nome não me ocorre, quer mudar o nome da ponte para Wilma de Faria. É lamentável! Não que a ex-governadora desmereça a homenagem; pelo contrário, Wilma de Faria tem o seu lugar garantido na História do Estado; não poderia faltar num panteão que se erigisse em honra das nossas grandes personalidades, notadamente pelo seu pioneirismo, como mulher, na vida pública. Sensível à cultura, ela teve, inclusive, o mérito de dar o nome de um grande artista de sua terra à ponte que construiu.

Tenho certeza de que, se viva fosse, ela seria a primeira a protestar contra o verdadeiro atentado que se quer cometer contra a memória de Newton Navarro, vale dizer: contra a Cultura e a Tradição.

Em tempo: o Conselho Estadual de Cultura, a Academia Norte-rio-grandense de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico, a UBE-RN, bem como o jornalista Vicente Serejo e outros já se manifestaram contra a pretendida mudança de nome da ponte.

NEWTON NAVARRO: O ARTISTA PLÁSTICO

Segundo Iaperi Araújo, Navarro é o maior de todos, no Rio Grande do Norte. Sem dúvidas, o melhor dos nossos desenhistas. Domina a técnica da pintura a óleo e da aquarela, mas não produziu muito, nestas modalidades. Menos ainda na gravura: deixou duas, apenas. Painéis seus encontram-se em vários prédios de Natal.

“Ele não se situa em nenhuma Escola de Pintura. Vincula-se a um grafismo pleno, permanente” (Profa. Marlene Gouveia Galvão-Coleção Textos Acadêmicos, nº 73, UFRN. Natal, 1982).

Sua carreira divide-se em três fases distintas: a) A primeira, dos tempos iniciais, ainda no Recife, sob a influência de pintores recifenses, especialmente Cícero Dias; b) a segunda fase, “caracterizada pelo telúrico, pela busca das coisas do povo, do chão, numa tentativa de se libertar da influência de Cícero Dias, mas, sensivelmente, preso à pintura de Lula Cardoso Ayres, seu mestre”; c) a terceira fase: “Hoje, a minha criatividade limpa, onde eu uso o pescador, a rendeira, o vaqueiro, os santos, o Cristo… que eu tentava reproduzir, desde os 5 anos, na calçada alta da minha casa” (depoimento de Navarro, ob. cit.).

Sua temática preponderante é o Nordeste, tanto o sertão do seu pai, quanto a cidade do Natal, onde nasceu e morreu (1928-1991).

BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL

Os Mortos São Estrangeiros. Contos. (Natal: 3a. ed. AS Editores, 2003)

De Como se Perdeu o Gajeiro Curió – Novela (Natal: 2a. ed. Fundação José Augusto/FIERN, 1998).

Beira Rio. Crônicas. (Natal: 2a. ed. Fundação José Augusto/FIERN, 1998).

Do Outro Lado do Rio, Entre os Morros. Crônicas (Natal: 2a. ed. Fundação José Augusto/FIERN, 1998).

30 Crônicas Não Selecionadas. (Natal: 2a. ed. Fundação José Augusto/FIERN, 1998).

Sete Poemas Quase Inéditos & outras Crônicas Não Selecionadas. Obra póstuma. Organizadores: Paulo de Tarso Correia de Melo e Gustavo Sobral. (Natal: EDUFRN-Editora da UFRN, 2013).

ABC do Cantador Clarimundo (Natal: 2a. ed. Fundação José Augusto/FIERN, 1998).

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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