Nelson Patriota lança livro “Caderno de Espantos” nesta quarta na Academia de Letras

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O jornalista, escritor e crítico literário Nelson Patriota lançará um livro de “repositórios de fatos da vida interior”, pela Editora 8, em uma noitada de autógrafos na sede da Academia Norte-rio-grandense de Letras, nesta quarta-feira (20), a partir das 18h. A obra, composta por dois propósitos unidos em um só, tem o pomposo título ‘Caderno de Espantos seguido de Vaticínios da Língua do Não’, cuja apresentação o próprio autor nos enviou logo abaixo.

Por Nelson Patriota

Na linguagem musical, fala-se, sugestivamente, da música que “gruda” na memória como um “verme de ouvido” (earworm, em inglês), música insistente que nos surpreende nas ocasiões mais inesperadas, nos levando a solfejá-la ou cantarolá-la mudamente, mecanicamente, sem que nos apercebamos. Como um cacoete.

O que denominamos aqui de “caderno de espantos” – repositório de fatos da vida interior –, guarda alguma similitude com os earworms. Dito de outra forma, são mensagens que passam sub-repticiamente pelo pensamento e que, de tão casuais, raramente lhes damos alguma importância. Como quando solfejamos uma canção que se faz presente em nós, mas que não sabemos explicar por quê.

Quando registradas, porém – prática que alguns cultivam para preservar a lembrança de um sonho especialmente significativo, ou o nome de alguém que lhe escapara até havia pouco – podem constituir um acervo de informações surpreendentemente rico em surpresas (e espantos) para quem as escreve ou as lê. E como seriam de ordem diferente, se amiúde emergem direto à consciência pela via do inconsciente?

Creio que todo autor já foi tentado a ter o seu “caderno de espantos”, embora sem sabê-lo claramente. Creio que todo leitor deveria cultivá-lo, especialmente se algum dia já acalentou o sonho de escrever um diário no qual coletasse os fatos mesmo os mais banais do seu dia a dia. Por que não cultivar também as sugestões que nos chegam do lado da sombra (do ser), o que ela segrega, sussurra, sugere à meia-voz, com meias-palavras, à maneira de um devaneio? Algo há aí que se aproveite como matéria de autoconhecimento; algo aí semelha uma narrativa atemporal, mas sempre há tempo de aí reconhecermos o nosso Eu.

Nossa vivência dessa vigília do silêncio e da noite – condição que lhe reputamos indispensável – resultou na coleta dos textos aqui apresentados sob a dupla rubrica de Caderno de Espantos e Vaticínios na Língua do Não, inspirados por uma multiplicidade de motivos. Ressalte-se que constituem um conjunto híbrido escrito ao longo dos últimos dois anos, sem que pudéssemos atinar, até quase o último momento, a que finalidade se prestariam. Ecos de conversas, leituras, sonhos e pesadelos, lembranças longínquas e recentes, acontecimentos que protagonizamos ou nos tocaram de perto. Mais tarde, tudo foi filtrado pela linguagem que nos pareceu mais adequada para acomodá-lo num espaço próprio onde textos “inclassificáveis” pudessem se abrigar no seu lugar de direito. Ao atilado leitor, à perspicaz leitora não passará despercebido o fato de que esses textos tão díspares, se considerados em sua temática, compartilham um viés introspectivo comum, próprio do trabalho solitário do fazer literário. Os resíduos desse labor podem ser mesmo rastreados, em grande parte dos escritos. O pequeno bloco condensado sob o verbete Vaticínios na Língua do Não guarda íntima proximidade com o de Caderno, razão suficiente para que integre o espaço deste livro bifronte, caráter que se manifesta não só em sua dúplice constituição, mas também na alternância entre claridade e sombra, que perpassa suas páginas.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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