MPB, política no quartel e outros assuntos

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Tenho em mãos uma obra de grande importância para o estudo da MPB, o Dicionário Houaiss – Música Popular Brasileira, criação e supervisão geral de Ricardo Cravo Albin, com a chancela do Instituto Antônio Houaiss. Um tijolaço contendo cerca de sete mil verbetes sobre compositores, intérpretes e musicólogos.

Coube aos pesquisadores do Instituto Antônio Houaiss, com reconhecida experiência no campo da lexicografia, compactar os dados fornecidos, digamos, a granel, pelo Instituto Cultural Cravo Albin.

Como toda obra do gênero, esta também peca por omissões e falhas outras. Mas, quantos pecados mortais!…

Estive folheando-a à cata de informações sobre nomes norte-rio-grandenses. Em primeiro lugar busquei o de Glorinha Oliveira. Todo mundo sabe que Glorinha é a nossa maior cantora, uma intérprete que nada fica a dever às estrelas da era do rádio, só que preferiu radicar-se em sua terra, e assim não teve a desejável projeção nacional. Pois bem, Glorinha não está no referido dicionário. Omissão gritante, imperdoável. Falha como esta deslustra o trabalho de pesquisa.

Outra omissão não menos lastimável: Eduardo Medeiros e Othoniel Meneses, autores de “Serenata do Pescador” (“Praieira”), canção que está para Natal assim como “Cidade Maravilhosa” está para o Rio de Janeiro. Eu até compreenderia a exclusão de Othoniel, pois este é, antes de tudo, poeta, aliás bom poeta. Mas, Eduardo Medeiros?… Como ignorar o compositor e músico, dos maiores que já tivemos?

Dos nossos pesquisadores de MPB encontrei apenas, em sucintos verbetes, Câmara Cascudo e Leide Câmara; faltam Oswaldo de Souza, autor de monumental estudo – “Música Folclórica do Médio São Francisco” -, também compositor, maestro e pianista; Grácio Barbalho, Gumercindo Saraiva, Cláudio Galvão e Damião Nobre.

Para não ter mais raiva desisti da busca, fechei o livro. É claro que voltarei a abri-lo, e não poucas vezes, já que se trata de uma obra de consulta obrigatória, feita por profissionais ditos competentes.

NAS ACADEMIAS DE LETRAS

Nas academias de letras, como, de resto, em toda e qualquer agremiação cultural com caráter honorário, encontram-se, não raro, no quadro de associados, elementos sem merecimento intelectual, que, por determinadas circunstâncias (prestígio social, apadrinhamento, etc) conseguiram nelas ingressar. Isso tem acontecido, inclusive, na Academia Brasileira de Letras. Entre os fundadores da instituição figuram ilustres desconhecidos: Urbano Duarte, Teixeira de Melo, J.M. Pereira da Silva e o Barão de Loreto. Astros de primeira grandeza, somente quatorze: Machado de Assis, Rui Barbosa, Coelho Neto, Aluísio de Azevedo, Raimundo Corrreia, Alberto de Oliveira, Visconde de Taunay, Clóvis Beviláqua, Olavo Bilac, Sílvio Romero, José Veríssimo, Joaquim Nabuco, Graça Aranha  e Oliveira Lima.

Figuras inexpressivas, do ponto de vista literário, integraram a Casa de Machado, ao longo das décadas, tantas aliás, que seria cansativo enumerá-las. Enquanto isso, grandes escritores, como Lima Barreto e Mário Quintana, foram barrados.

Mas, nem todo escritor almeja a imortalidade acadêmica. Câmara Cascudo, Gilberto Freyre e Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, passaram ao largo da ABL. Cascudo dizia-se “noivo” da vetusta entidade, mas nunca decidiu-se a casar-se com ela. Certa vez, me confessou:

– Não pedi a mão da minha mulher. Quem pediu foi o meu pai. Como então pedir votos para eleger-me acadêmico? – Não tenho coragem.

PASSIONALIDADE POLÍTICA

Passando recentemente, pela Av. Hermes da Fonseca, deparei-me com uma manifestação pública, contrária ao resultado da última eleição. Várias pessoas, usando os símbolos nacionais – bandeira, hino -, pediam, em altos brados, a intervenção das forças armadas. Uma faixa, ali afixada, ostentava os dizeres- “Supremo é o povo” -, evidente alusão ao Supremo Tribunal Federal, no intuito de desacreditá-lo. Perplexo, refletí: Sim, supremo é o povo, que elegeu, pela sua maioria, o Presidente da República. Respeitemos a vontade da maioria, ainda que divergindo dela.

Vale aqui ressaltar que, em matéria de política partidária, não torço por A ou B. Se há uma coisa que detesto é o passionalismo político-ideológico – seja de direita, seja de esquerda -, passionalismo que me lembra as torcidas do cordão azul e do cordão encarnado, no meu tempo de menino em Martins.

SINÔNIMO DA BARBÁRIE

Todo estudante de Direito sabe que a Democracia assenta em três pilares:

1- Respeito aos direitos e garantia do cidadão;

2- Representação popular através de eleições disciplinadas pelos órgãos competentes;

3- Independência e harmonia dos poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário.

Sem esses fundamentos, caracteriza-se a ditadura, regime de força bruta, sinônimo de barbárie.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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