Os melhores filmes de comédia disponíveis na Netflix

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Se há um gênero generoso no cinema, ele é justamente o que nos faz rir. Isso porque não existe somente a comédia pura, crua. Ela vai se ramificando e alcançando quase todos os outros gêneros. Assim, existe a comédia romântica e também o “terrir”; a comédia dramática (e algumas de tão dramáticas podem nem ser vistas como parte do gênero); a de sátira, com suas críticas afiadas; e a pastelão.

Também há a comédia de situação (que extrai humor do dia a dia) e a de constrangimento. Há ainda as comédias de costumes, de personagem, vaudeville, a farsa e a clássica Commedia Dell’Arte. E existem mais… É tanta diversidade que construir uma lista curta com o intuito de atender a tudo acaba sendo totalmente impossível.

Pensando nisso, listei 15 dos melhores filmes de comédia para assistir na Netflix. Entre tantas produções, os filmes a seguir servem tanto para expandir o repertório de vocês de alguma forma quanto para serem revisitados e reviverem momentos divertidos (ou até dramáticos).

15. Um Tira da Pesada

Um dos maiores clássicos das comédias dos anos 1980, Um Tira da Pesada acompanha um policial (Eddie Murphy) em uma investigação de assassinato. Não demora para que ele passe a lidar com uma cultura muito diferente da que está acostumado em Beverly Hills.

Um Tira da Pesada pode seguir duas direções diferentes: ser visto como uma sátira perspicaz e contundente sobre as atitudes dos EUA, mostrando como os habitantes de Beverly Hills reagem a um policial negro de Detroit, ou pode ficar entregue às risadas mais fáceis e à conexão a um enredo padrão. Vai depender do humor e, de todo jeito, pode valer a pena.

14. Jumanji: Bem-Vindo à Selva

Entretenimento puro, do começo ao fim. Jumanji: Bem-Vindo à Selva entende seu lugar como poucos filmes do gênero e consegue, ainda, atualizar o filme de 1995. Cada função parece escorrer com leveza e, consequentemente, as ideias passam a se encaixar melhor.

É um filme que flerta com uma fluidez baseada em um todo muito coeso. Isso pode ser fundamental para que se entenda sobre limites, porque o roteiro de Jake Kasdan (que também dirige o filme), Jeff Pinkner e Scott Rosenberg contém-se em expor situações sem buscar se aprofundar.

Sem dúvidas, isso seria um péssimo sinal caso estivéssemos comentando sobre um filme que claramente procurasse mais camadas. Mas a verdade é que esse filme protagonizado por Dwayne Johnson está pouco se importando com a problemática dramática das situações e muito mais focado no entretenimento que, justamente, a falta dessa problemática pode ocasionar.

13. As Férias de Mr. Bean

Mr. Bean é um personagem amado por muitos e sem graça para outros tantos. No catálogo da Netflix ele aparece camuflado como o agente Johnny English em Johnny English 3.0 (de David Kerr, 2018) e no primeiro dos filmes estrelados pela personagem de Rowan Atkinson, Mr. Bean: O Filme ou Mr. Bean: Mais Atrapalhado do Que Nunca (de Mel Smith, 1997).

https://www.youtube.com/watch?v=C_Lw-JAcyG8

Em As Férias de Mr. Bean, tudo parece ganhar outros contornos. O sujeito coloca a França de cabeça para baixo em uma comédia com flertes de aventura que pode ser impagável se você estiver com disposição a esse tipo de humor.

Na história, Mr. Bean ganha uma viagem a Cannes, onde involuntariamente separa um menino de seu pai e deve ajudar os dois a se reunirem. No caminho, ele descobre a França, o ciclismo e o amor verdadeiro.

12. Minha Obra-Prima

Arturo é um negociante de arte inescrupuloso e Renzo seu pintor socialmente desajeitado e amigo de longa data. Dispostos a arriscar tudo, desenvolvem um plano extremo e ridículo para se salvarem.

A sinopse pode já conquistar. E é do mesmo diretor (Gastón Duprat) do excepcional O Cidadão Ilustre. Por outro lado, assim como O Cidadão Ilustre, trata-se de uma comédia dramática.

Então… o drama a partir do segundo ato pode pesar o filme. Minha Obra-Prima, portanto, acaba por ter um resultado agridoce, mas se a procura for para assistir algo menos raso, é uma das boas indicações.

11. Cassim, O Comediante

Mesmo que o tema da história possa ser batido, clichê mesmo, o filme é bem interessante especialmente por levar uma contextualização de uma realidade sul-africana raramente exposta no cinema.

Tudo é centrado em uma comunidade de muçulmanos membros da diáspora indiana e, em meio a isso, as situações são simples, fáceis de acompanhar e o riso é espontaneamente alcançado.

Se procura algo diferente dentro do gênero, Cassim, O Comediante deve ser uma das melhores pedidas da lista.

10. Um Parto de Viagem

O ansioso futuro pai Peter Highman (Robert Downey Jr.) é forçado a pegar uma carona com o aspirante a ator Ethan Tremblay (Zach Galifianakis) em uma viagem para chegar ao nascimento de seu filho a tempo.

Com o protagonismo de dois atores carismáticos, o filme provavelmente contém risos suficientes para satisfazer como filme de final de domingo, repondo as energias para o início da semana.

Tudo bem que não é lá uma obra-prima, nem de longe, mas tem chance de divertir bastante. A direção de Todd Phillips (de Coringa), inclusive, consegue deixar intensas as situações mais estapafúrdias. Vale a pena.

9. Matilda

Começar a lista com um filme tão querido é sempre bom, ainda mais quando esse filme é dirigido de uma maneira que parece abraçar o espectador e por um sujeito que é igualmente apreciado.

O que Danny DeVito faz com o roteiro de Nicholas Kazan e Robin Swicord é, aliás, não somente de uma demonstração de carinho enorme pelo cinema, é de uma sinceridade com o livro de Roald Dahl que deixa Matilda com um ar de seriedade tão intenso que, felizmente, nada é condescendente com as crianças.

Ao mesmo tempo, o filme fica aberto para o encantamento dos adultos sem duvidar de suas inteligências. De quebra, ainda consegue ser engraçado. Um grande filme.

8. O Centenário Que Saiu Sem Pagar a Conta e Sumiu

A comédia sueca é a continuação do sensacional O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu e acompanha um homem de 101 anos de idade Allan Karlsson (Robert Gustafsson) que percorre a Europa em busca de uma receita de refrigerante russo perdida no início dos anos 1970. Infelizmente, ele não é o único que está procurando por isso.

O humor do filme é mais direto e simples do que o antecessor, como se tudo estivesse sendo feito com medo de não alcançar o sucesso, visto que não se trata de uma adaptação como antes. De todo modo, para quem procura uma boa comédia é um entretenimento dos mais divertidos.

7. O Virgem de 40 Anos

Instigado por seus amigos, um sujeito nerd que nunca “praticou o crime” só sente a pressão aumentando quando conhece uma mãe solteira.

Cheio de frases curtas que são perfeitas e cirúrgicas para o riso, O Virgem de 40 Anos é dirigido por Judd Apatow (do recente A Arte de Ser Adulto) e conta com um inspirado Steve Carell (que coescreveu o roteiro junto a Apatow).

O humor do filme é mais direto e simples do que o antecessor, como se tudo estivesse sendo feito com medo de não alcançar o sucesso, visto que não se trata de uma adaptação como antes. De todo modo, para quem procura uma boa comédia é um entretenimento dos mais divertidos.

É tudo tão divertido no filme que, ao final, sem nenhuma boa razão, exceto pela consciência e segurança de que conseguiu conquistar o público, o elenco executa uma versão de Bollywood de “Age of Aquarius”. A verdade é que poderiam ter feito qualquer coisa depois das quase duas horas hilárias de O Virgem de 40 Anos.

6. Loucademia de Polícia

A comédia nonsense teve um auge entre a década de 1980 e o início dos anos 1990. Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu (1980), Corra que a Polícia Vem Aí! (1988), Top Gang! Ases Muito Loucos (1991)… são tantas e de tanta qualidade no fazer rir – para quem consegue embarcar no subgênero, claro – que é bem complicado comentar sobre indicações de comédias sem visitar esse período.

Loucademia de Polícia é um representante dessa era. Mas não somente. O filme gerou seis sequências, com Loucademia de Polícia 7: Missão Moscou sendo o último.

É inusitado, é sem noção, é escrachado e até tem toques de sátira… e deve fazer quem nunca assistiu querer acompanhar a história do grupo de desajustados de bom coração que entram para a academia de polícia para tentar a vida como policiais.

Dá certo? Para eles (os personagens) só assistindo. Para o público, é só conseguir se entregar às maluquices.

5. Um Príncipe em Nova York

A década de 1980 marcou o cinema de ação, com seus brucutus. Mas a comédia também teve um destaque grande nesse período. Em Um Príncipe em Nova York, Eddie Murphy interpreta um monarca africano extremamente mimado que viaja para os EUA e se disfarça de plebeu para encontrar uma esposa que ele possa respeitar pela inteligência.

Obviamente cheio de clichês do gênero, o filme do diretor John Landis (do já clássico Um Lobisomem Americano em Londres – filme de 1981) utiliza desses clichês para estruturar uma história engraçada, romântica e leve.

4. Toc Toc

O cinema espanhol tem se destacado dentro do catálogo da Netflix brasileira. E são muitos os filmes que trazem uma qualidade que alia tanto as questões da linguagem com o apelo popular, desde o primeiro boom que foi Um Contratempo. Toc Toc é uma comédia que brinca de maneira inocente e quase educativa com os portadores do transtorno obsessivo-compulsivo, tratando o tema com leveza e – por causa dessa leveza – com respeito. Talvez seja o filme a render as risadas mais empáticas da lista.

3. Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros

Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros está nem aí para muitas questões. Mas é um desleixo que, em revisões, demonstra um grande conhecimento de linguagem do cinema, tanto que, anos depois, um dos seus diretores teria um filme indicado ao Oscar. Claro que o tipo de humor de quem o assiste talvez precise estar afinado ao do filme. De todo modo, é um filme que consegue celebrar a frase mais conhecida de Confúcio: “O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante do idiota que quer bancar o inteligente.”

2. Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado

Seria praticamente um crime não colocar Monty Phyton aqui na lista. […] Em Busca do Cálice Sagrado é daqueles filmes que, se você está com disposição para se entregar e comprar a ideia dos Cavaleiros que dizem Ni, pescando as referências do humor cru e ao mesmo tempo refinado da trupe, é uma obra-prima incontestável.

1. O Cidadão Ilustre

O cinema argentino tem produzido filmes relevantes ano após ano (desde muito tempo). E, felizmente, não está restrito a Ricardo Darín. O ator, que encabeçou aquele que, para muitos (entre os quais me incluo), é o melhor filme do seu país em muitos anos (O Segredo dos Seus Olhos, de 2009) e é sinônimo de talento e, acima de tudo, competência, parece ter “somente” aberto alas em um novo período para nossos hermanos.

Se, em 1986, A História Oficial (1985) já havia recebido um Oscar, foi com a mais fácil difusão das produções (especialmente com o advento da internet e, mais recentemente, dos streamings) que houve uma merecida repercussão e grande reconhecimento público.

O Cidadão Ilustre trata de inspiração e criação como poucos filmes conseguem. De uma sutileza sem tamanho ao tratar o comportamento de um escritor com muito humor, o filme ainda consegue revelar os abismos culturais que cercam nossas vidas… ainda mais em um mundo globalizado.

No fim, a maneira como discorre sobre as diferenças entre realidade e ficção é das mais originais do cinema e, se fosse somente esse encerramento, ainda assim mereceria ser visto.

Bônus Adam Sandler: Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe

Repleto de diálogos realistas e, ao mesmo tempo, estranhos, Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe é de uma precisão cirúrgica na concepção da relação entre um pai e seus filhos.

Muito bem alicerçado nas atuações de Dustin Hoffmann (Harold), Ben Stiller (Matthew) e Adam Sandler (Danny), o diretor e roteirista Noah Baumbach (indicado ao Oscar pelo roteiro de A Lula e a Baleia, em 2006) fundamenta um filme cheio de humanidade, capaz de causar confusão, felicidade, acessos de raiva… sempre de uma maneira muito genuína e por meio da criação de sintonia entre filme e espectador.

Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe é, também, uma prova dupla: para os fãs e para os não-adeptos da carreira de Adam Sandler. Aqui, eles podem encontrar o ator em uma das suas atuações mais relevantes (ao lado de Reine Sobre Mim e Embriagado de Amor), tanto que o ator, merecidamente, foi ovacionado no Festival de Cannes de 2017.

Apesar do humor meio amargo do personagem coincidir com muito do que Sandler já fez, há detalhes que o levam muito além, são camadas e mais camadas de um homem que jamais desistiu de ser feliz, mas, mesmo assim, sente-se fracassado.


Texto publicado, originalmente, no Canaltech

Sihan Felix

Sihan Felix

Sihan Felix é crítico de cinema desde 2008, sendo membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) e cofundador e integrante da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN). Felix escreve para importantes mídias brasileiras, participa como jurado e palestrante em festivais dentro e fora do país, foi crítico de uma das maiores distribuidoras nacionais de clássicos e é contista. Além disso, quer comer gorgonzola sempre, mas a vida de professor de cinema e música o impede de ter muito contato.

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