Só quem sobe a Serra do Doutor, rasgando a BR 226 até chegar à cabeceira da Chapada da Borborema, deixando para trás os serrotes agresteiros no horizonte, consegue ver a tradição literária que há em Currais Novos, uma cidade cercada pelo mato ralo da caatinga e dos facheiros, onde começa o sertão.
Naquela terra, onde é possível ouvir dos velhos vaqueiros o aboio, há uma gama de poetas e romancistas conhecidos pela qualidade da literatura cultivada nesse chão.
É nesse cenário árido seridoense que a escritora currais-novense Maria Gomes, ou Maria Maria como gosta de assinar seus escritos, ambienta seu romance “Na Sétima Curva do Sol”, lançado no final do ano passado pela 8 Editora, de Natal.
Posso afirmar sem medo de errar que esse romance de Maria Maria é o livro mais importante da Literatura Currais-novense desde o clássico “Os Brutos”, do cultuado escritor José Bezerra Gomes.
A obra tem todo tempero de uma narrativa madura com personagens redondos, literatura fantástica, cenários sertanejos descritos poeticamente e um importante resgate social com a descrição de antigos costumes de um povo cigano que permeia o sertão nordestino.
Como todo bom romance de cavalaria, o herói é o cigano Talismã, do grupo Calon que se estabeleceu na Ribeira do Seridó; é o protagonista que adentra o sertão vivendo aventuras, numa jornada fantástica procurando sua irmã Sara, levada por um fazendeiro rico para a região central do Brasil. O cigano faz uma viagem montado a cavalo de Currais à Goiás num percurso cheio de aventura e desventuras.
O romance é desses livros que o bom leitor ler de uma vez só, como se estivesse saboreando um cacho de pitombas doce.
Da paisagem sertaneja e seu mato miúdo, a caatinga permeia boa parte do livro. Em Currais, a vegetação é magra e o vento que foge das encostas das serras já não carrega a frescura que abranda o calor do telhado do conforto da casa que o cigano Talismã deixou pra trás. Numa intrépida passagem numa vereda de viajante, o protagonista encontra um cangaceiro solitário chamado Julian, que passa a viajar ao seu lado, vivenciando aventuras contadas por uma autora oniciente e onipresente que, por vezes, interfere na narrativa para dar explicações ao leitor, como se houvesse necessidade.
Em determinado momento, o cigano e o pistoleiro encontram uma moça chamada Maria Rosa, “que cuidava dos dois andantes com excessiva dose de carinho”, descreve a autora já anunciando um romance entre os três.
Apesar de toda prosa poética que permeia o livro, a narrativa de Maria Maria fica devendo os pormenores na hora do “menage a trois”, descrevendo pifiamente uma cena que deveria ser picante, cheia de libertinagens entre os três personagens que transam na beira do açude. A autora se acanhou na hora de se debruçar na narrativa erótica.
Maria Maria começou a escrever poemas ainda na pré-adolescência, a partir das leituras de textos literários em livros didáticos. Hoje, com 11 livros publicados (entre poesias e romances) e participações em 3 antologias, incluindo o E-book ‘Cartas para Zila Mamede’, editado pela EDUFRN. Além de ter escrito artigos e poemas nas revistas Papangu de Mossoró e Fatos & Feitos, de Natal, Maria Maria se credencia para ser citada em qualquer antologia literária que se faça sobre a Literatura Norte-riograndense.
O romance ‘Na Sétima Curva do Sol’ narrando as aventuras quixotescas do cigano Talismã e seu fiel escudeiro, o pistoleiro Julian, está sendo vendido em Natal e Currais Novos.
A autora Maria Maria trabalha freneticamente com aproximadamente seis livros para edição. Atualmente, se dedica na compilação e organização de um livro de contos eróticos chamado “Borboletas no quarto”, em parceria com o escritor potiguar/carioca Nei Leandro de Castro.
Enquanto isso, o leitor pode se deliciar com esse romance que enaltece a Literatura currais-novense, dando mais qualidade à Literatura Potiguar.
SERVIÇO
Romance “Na Sétima Curva do Sol”
Local de venda: Ótica Gracinha (Currais Novos) e Livraria Nobel (Natal)
Site www.caatingueirices.webnode.com
Ou pelo WhatsApp: 9 9702 2052
Preço: R$ 25
FOTOS: JOSÉ MARK PEREIRA
2 Comments
Alex-velho vi agora teu texto sobre Maria Maria. Porreta velho!
Tanto teu texto quanto o belo romance de Maria Maria. Uma boa trama que me fez lembrar meus antepassados romah.
A Literatura Potiguar tá amadurecendo!
Precisa é acabar com os guetos e fragmentações.
Se é, naturalmente, uma colcha de retalhos – que seja!
Mas que seja uma colcha produzida por toda a escribalhada – juntos!
Na força da união!
Abração
Ruben G Nunes
Alex, muito grata, “esse menino”, por escrever uma resenha tão bem acentuada, colocada nos devidos lugares das boas e sinceras expressões.Parabéns pelo texto!
Um abraço,