NATAL DO SÉCULO XX, de Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. Natal: 8 Editora, 2010.
Tendo estreado em 2009, com o livro “Dos Bondes ao Hippie Drive-in”, os autores – nossos irmãos Goncourt – enveredam mais uma vez “em busca do tempo perdido”. Aliás, o verbo enveredar não está aqui bem empregado; “Natal do Século XX” abre caminhos. Misto de memórias e documentário, com muitos dados e fotos, repassa, também, um tanto da crônica sentimental da cidade.
Na prosa ágil e leve, aparentada com a objetividade jornalística, a narrativa, do meio para o fim, torna-se, plenamente, memorialística. Episódios, curiosidades, fatos pitorescos deixam entrever um certo ar de almanaque. Alguns erros de revisão e omissões não chegam a comprometer a obra.
“Natal do Século XX” não pode faltar na estante de todo bom natalense.
SINOS, de Clauder Arcanjo. Mossoró: Sarau das Letras; Salamanca (Espanha): Trilce Ediciones, 2019.
A magia dos sinos tem inspirado muitos poetas, pelo mundo afora; é temática fascinante. Clauder Arcanjo, poeta consumado, soube explorar essa mina, tirando ouro de um veio, aparentemente, esgotado. Vejam os versos a seguir:
“Nem se sabe de onde vieram
Dependurados na manhã fria
Eles espalhavam seus dobres
Por cima dos telhados altos, e
A província ressumava a altar.”
Repassada de lirismo, a poesia de Clauder Arcanjo, não só neste fragmento, mas em todo o seu livro, flui, simples e clara, não precisa de chave para se abrir e decifrar.
A edição, bilíngue, valorizada pela tradução para o espanhol, do escritor Alfredo Pérez Alencart, conta com desenhos de João Helder e Miguel Elias, e numerosas fotografias, de Jose Amador Martin, Marcão Melo e Ricardo Chrisóstomo, verdadeiras obras de arte, à altura do texto.
CORAÇÃO DE PEDRA & OUTRAS HISTÓRIAS, de Damião Gomes. Natal; CJA Edições, 2016.
Doze histórias compõem esta coletânea, com grande variedade temática e formal. O conto inicial, “O Amigo da Onça”, por exemplo, é uma peça de humor sobre fatos cotidianos, beirando a anedota. No conto que dá nome ao livro, narrativa mais densa e impactante, evidencia-se a versatilidade do autor, que também incursiona, com desenvoltura, pelos domínios do maravilhoso e do fantástico, em outros contos.
A prosa fluente, despida de ornamentos, prende o leitor, envolve-o prazerosamente em sua malha. Um certo viés kitsch, presente, inclusive, nos títulos de alguns contos (“Não Maltrate o Coração de uma Mãe”, “Mar de Rosas”) confere à obra especial característica.
VELHOS COSTUMES DO MEU SERTÃO, de Juvenal Lamartine de Faria. 3ª. ed. Natal; Sebo Vermelho Edições; Mossoró: Fundação Guimarães Duque, 2006.
No fim de vida, já cego, o autor ditava aos netos artigos diversos, quase sempre versando sobre temática regional. Dentre estes destacam-se os da série “Velhos Costumes do Meu Sertão”, publicados originalmente em jornal (1954), depois enfeixados em livro.
Trata-se de um repositório imenso de informações acerca do sertão antigo, a vida nas fazendas, de modo especial.
Região semi-árida, que ficou como que parada no tempo, até ao início do século XX, esse sertão, meio medieval, revive nos artigos de quem nele viveu, intensamente.
Político de primeira plana, Presidente (Governador) do Estado, mas, também, homem de letras, espírito cosmopolita, Juvenal Lamartine jamais distanciou-se do seu Seridó, queria bem a ele. A prova está neste livro admirável.
Leia também: 10 anos sem Oswaldo Lamartine. Sua última entrevista
DICA BÔNUS
OS MALAVOGLIA, de Giovanni Verga; tradução Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade, São Paulo: Abril Coleções, 2010.
Obra-prima do grande escritor italiano, narra a comovente história de uma família de aldeões sicilianos pobres e infelizes. O Realismo em toda a sua crueza.
Publicado em 1881, o livro não envelheceu e até apresenta uns traços de modernidade.
Nota curiosa: a inserção de provérbios em grande número no decorrer da narrativa.