
Aproveito a tarde de domingo para reler ‘Roseira Brava’, de Palmyra Wanderley. Despertam-me especial interesse, nesse livro de poemas, uns versos sem grande preocupação quanto à forma, mas que contêm, na essência, uma musicalidade quase imperceptível.
Outras virtudes podem ser destacadas: graça, simplicidade, sentimento telúrico. Algo que se posso associar à ideia de uma manhã verãnica, plena de sons e cores.
Dizem que Palmyra faz lembrar Tagore. A poetisa não esconde sua admiração pelo grande artista do verso. Mas, não se trata de imitação, e sim de uma coincidência de gostos e valores estéticos. Almas irmãs, Palmyra e Tagore.
Vejam se estes versos não são dignos do vate detentor do Prêmio Nobel de Literatura (1913).
“A brisa é quem nos traz
O som da serenata
Num bafejo cheirando
A flor de cajueiro:
A resina escorrendo na alvorada,
O fruto azedo e doce,
Amadurecendo de madrugada.”“Ai, como sabe amar
O pescador!
Bem o quisera saber
O homem da cidade,
Seu coração é sempre um preamar
De amor e de saudade. ”
Pena que em poemas de tão boas imagens, como estes, haja expressões caducas: “voz perra de sono”, “tasca do vício”, “em convulsões rouqueja” etc. Resquícios de classicismo superado, de uma língua mais portuguesa que brasileira.
A bem da verdade devo dizer que ‘Roseira Brava’ é obra irregular, ou seja, tem muitos altos e baixos. Além dos momentos felizes já referidos, e outros mais, como, por exemplo, o soneto “Pitangueira”, a qualidade despenca, notadamente nos versos com teor modernista forçado.
Urge que este livro, tido e havido como uma das culminâncias da literatura potiguar, seja devidamente reavaliado.