Aos 50 anos de idade, Alexandre Santos escreve seu primeiro cordel.
Nunca é tarde para experimentar o novo! mesmo que o novo seja o nosso velho folheto de cordel, uma tradicional forma de narrativa no Nordeste brasileiro, sendo, há algumas décadas, um elemento importantíssimo da cultura nordestina e também nortista, já que o cordel também é um elemento propagador das tradições dessas regiões.
O novo aqui, se revela na experimentação da linguagem. A origem desta forma de literatura vem dos trovadores medievais, que, com a possibilidade de imprimir em grande escala, criaram não só os cordéis, como também deram início à imprensa.
A linguagem rítmica e rimada acabou chamando a atenção do garoto de 10 anos que teve na literatura de cordel um meio auxiliar para desenvolver o hábito pela leitura.
“Sou um amante da cultura popular. Quando criança adorava ir pra feira ouvir os cordelistas, emboladores e repentistas e foi em meio a este universo popular que tomei gosto pelos folhetos e para minha sorte eu tinha acesso aos cordéis que minha irmã colecionava e guardava em uma mala”, confessa Alexandre Santos.
Cordelíricas Nordestinas
Em 2010 o jornalista recebeu das mãos da então ministra da cultura Anna Buarque de Holanda o Prêmio Patativa do Assaré para produção do documentário Cordelíricas Nordestinas, o que permitiu adentrar durante dois anos no universo multifacetado da literatura de cordel.
Alexandre afirma que “o Prêmio foi importante por possibilitar a nossa equipe um contato direto com os artistas populares e mesmo durante a pesquisa eu pude conhecer o trabalho do poeta Zé Limeira, que ficou conhecido através do livro publicado pelo jornalista pernambucano Orlando Tejo. A partir daquele momento me apaixonei pelo modo surrealista do poeta”.
Mas foi somente em 2015 Alexandre iniciou a escritura do cordel: “Comecei a entrar na brincadeira de misturar a história, vultos e personagens e fiz cerca de trinta estrofes e deixei parado. Ano passado terminei o cordel que ficou com 48 estrofes. Aproveitei a reclusão imposta pela pandemia e tomei coragem para inscrever no edital de publicações da Lei Aldir Blanc do Governo do Estado”.
Além de relacionar vultos históricos em situações inimagináveis, o cordel “ O dia em que entrei na brincadeira do poeta Zé Limeira” também traz referências locais sempre de forma bem humorada, como na estrofe em que Osama Bin Laden teria se escondido por estas bandas:
“Bin Laden já se escondeu / pras bandas de Caicó / passou quase cinco anos / no Vale do Piancó / e viram ele pescando / piaba no Piató”.
Ou mesmo na estrofe em que o Rio Mossoró é invadido pelos americanos:” Invadiram sem sucesso / nosso Rio Mossoró / toda a tropa americana / chegou aqui sem ter dó / mas ficou tudo atolado / com lama no mocotó”.
O cordel foi realizado com recursos da Lei Aldir Blanc Rio Grande do Norte Fundação José Augusto, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal e pode ser baixado gratuitamente na íntegra em formato PDF.
Para acessar o cordel, clique AQUI.