Quando comecei no jornalismo há trinta anos as máquinas de escrever – lendárias Remingtons e Olivettis – ensurdeciam as enfumaçadas redações pelos cigarros de nervosos redatores que corriam contra o tirano relógio. A hora do fechamento se impunha contra todos e era preciso colocar o jornal na rua no outro dia.
Era também o tempo de grandes repórteres – aqueles que buscavam notícias, gastando a sola dos sapatos para brigar pelas manchetes. Tempo de homens que contavam histórias com alma, narradores do cotidiano, dos dramas e das alegrias do mundo.
Conheci grandes repórteres – mesmo sem ter sido um – mas sabia enxergar a qualidade de um texto bem escrito por quem amava o jornalismo como um padre se ajoelha diante da imagem de Jesus crucificado.
Um destes partiu recente, sem fazer alarde, em mim deixando o rastro da admiração pela pena de quem sabia escrever grandes reportagens, aquelas de fôlego sobre temas que requeriam dedicação, paciência e sobretudo talento.
Carlos Alberto Morais era um magnifico jornalista, desses que abraçou a literatura como melhor suporte para a matéria prima do seu trabalho. Leitor de clássicos, era repórter de imensas matérias, algumas épicas, escritas especialmente nas páginas de O Poti. Impressionava-me o estilo vigoroso e sua capacidade em escrever materiais como se fossem pequenos livros diários. O que nos oferecia deliciosas leituras.
Admirava igualmente o humano por demais humano que havia nele, simples, gentil, humilde e sorridente, sempre a tratar novatos com respeito e atenção. Era imenso meu prazer em encontra-lo nas redações ou nas ruas para falarmos da vida, política, arte e futebol. Foi um grandíssimo companheiro na época em que trabalhamos no extinto Jornal de Hoje.
Há pouco mais de dois meses me chega a notícia de sua morte, quase escondida, da qual não soubemos sequer sobre o velório e sepultamento. Não vi qualquer menção ao seu nome nas indispensáveis redes sociais.
Morreu pobre e esquecido, com pouco reconhecimento à contribuição que deu ao jornalismo do Rio Grande do Norte.
Das últimas vezes que o encontrei estava em dificuldades, perguntando por qualquer trabalho que fosse possível para sobreviver. Um pedido feito a quem estava também procurando por oportunidades.
Os novos tempos muito cruéis o empurraram para a inacreditável vala de intelectuais em estado de quase miséria.
Esta é a era em que vivemos hoje, na qual o saber, hoje massacrado e perseguido, não nos oferece grandes chances!
Carlos Morais não será lembrado pelas novas gerações, pois o que realizou está perdido nas cinzas de um jornalismo já devidamente enterrado.
2 Comments
Linda homenagem, obrigada pela lembrança!
Também tive o prazer de conviver com Carlos Morais, escritor, jornalista e desportista de pena solta. Excelente jogador de futebol de salão, no tempo em que Natal era palco repleto de craques da “bola pesada”. As farras, também não foram poucas. Foi uma amizade muito saudável e bonita, por isso inesquecível. Esteja em paz, amigo.