10 perguntas à escritora-poeta Jania Souza

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A escritora-poeta natalense Jania Souza é também artista plástica e articuladora cultural. É sócia em entidades literárias nacionais e internacionais, laureada com reconhecimento literário no Brasil e exterior. Escreve literatura infantil, juvenil e adulta com 18 livros solos. Recentemente publicou mais um: “Flores, laranja, pimenta – raízes em andanças”. Deste livro e de mais alguma coisa, se tece essa entrevista com a autora.

ENTREVISTA – JANIA SOUZA

1.   Por que a poesia em sua vida?

A poesia em minha vida é cultural, familiar, coletiva, existencial, do dia a dia; é minha respiração, razão maior do sentido do meu existir. Digo cultural, porque ninguém nasce fazendo poemas, embora aprecie a poesia habitante dos mínimos detalhes do universo, que vai se enraizando em suas tramas de beleza e de delírios nas percepções do indivíduo a partir de seus primeiros contatos com esse mundo. Assim me acheguei à poesia, totalmente inocente de sua capacidade de envolvimento.

No seio de minha família, foi iniciado o processo. Mamãe lia muito e compartilhava sua declamação, inclusive na hora das lições. Comecei esparramando-me pelo chão como a batatinha dos versos. Na adolescência, estreei meus tímidos poemetos com os coleguinhas de turma.

Esse exercício voltou muito forte em minha terceira década, e desde então não parei mais por me sentir feliz e realizada entre poemas e poetas como ativista da palavra na Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN.

2.   Para a literatura infantil, juvenil e adulta, é um processo diferente de inspiração e expiração?

Verdade, para a literatura infantil, juvenil e adulta há um processo apropriado de inspiração e expiração. São leitores com demandas de conteúdo específicos. O desafio reside em como levar o texto a motivar e atrair com encantamento esses leitores.

Nessa questão reside o retrabalho e a afirmação de que é necessário reescrever, reescrever até encontrar o equilíbrio ideal da comunicação a ser passada ao leitor. O autor produz livros para serem lidos. Não há nenhuma razão para laborar um texto sem magia e destituído de arte. Tal procedimento não seria literatura. A estética da arte leva ao deslumbramento e a busca de novas obras pelo público.

Há um processo diferente de inspiração e expiração. Por acreditar que literatura é uma maneira de dialogar com o outro. Comunicando minhas crenças e experiências, identifico para quem desejo falar e a melhor metodologia para alcançar esse objetivo com clareza; então escolho uma forma fictícia ou realista para abordar o tema, que pode ser em verso ou prosa. Essa escolha vem sempre atrelada à inspiração, por essa dar corpo a subjetividade interior. A inspiração instiga a criação do texto. Ela força o escritor em seu ato de expressar-se. A motivação atiça a inspiração, dando início ao labor. Ao deparar-me com um desafio externo que mexe com minhas emoções, sentimentos, crenças ou simplesmente é um tema proposto por um editor, reajo escrevendo. Essa reação pode ser proporcionada por uma notícia nos meios de comunicação ou uma analogia com um fato presenciado ou uma lembrança ou qualquer outro estímulo que me instigue a uma resposta, dando inicio ao processo de criação, que pode ser dirigido a qualquer um dos públicos leitores.

Lembro que literatura infantil, juvenil ou adulta pode ser apreciada por qualquer apaixonado da leitura em qualquer idade. Porém, é importante que ela seja adequadamente adaptada a cada público para o qual se destine.

3.   E as artes plásticas lhe invadiram de que forma? Quais as matizes de Natal?

Fui invadida pelas artes plásticas desde a infância, pois gostava de desenhar e pintar. Rabiscar. Contudo somente vim a conhecer as tintas e as telas com Thomé Filgueira no Ateliê Comunitário da Capitania das Artes. Fui apresentada por ele na exposição “Artistas apresentam novos talentos” em 26/07/1999.

Nossa cidade é reflexo de cores vivas e vibrantes em todas as suas gradações, do mais escuro ao suave com leveza e graça. A luz brinca ao refletir os tons das formas que impressionam nossa visão. Verdadeira delícia à contemplação.

Gosto de falar do céu em seus diferentes matizes a cobrir Natal com um manto ímpar e muito distante dos nossos olhos e de outras percepções, mas sempre bastante encantador e aconchegante. Aqui, pela proximidade do Equador, o céu mantém um maior distanciamento da Terra do que nos trópicos, onde o percebo mais baixo. Para mim é um grande diferencial, pois nessas regiões me sinto sufocar. Sinto prazer em pincelar o pôr do sol, praias, o rio, a energia invisível da beleza desse chão que tanto amo. Minha identidade.

4.   Novo livro de poesia na praça. Explique a obra a partir do título.

Realmente encontro-me com novo livro de poemas em circulação, intitulado Flores, laranja, pimenta, raízes em andanças, cujo nascituro ocorreu entre 2019 e 2020, período massacrante da pandemia provocada pelo covid 19, na qual ainda vamos nos arrastar até que seja efetivada a imunização global.

Em 2019, dentro de meu planejamento literário, decidi lançar dois livros, um infantil e outro de poemas. Consegui realizar o infantil A abelhinha Jurema, porém o de versos não foi concluído.

Surge então o Fórum de Artes no RJ organizado pela escritora Maria Araújo e convida-me a participar junto com a Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares – ALAMP, presidida pela escritora Flauzineide Moura. Decido aceitar e agendo na programação desse evento o lançamento do meu livro no dia 5 de maio do ano que não aconteceu em contatos físicos, 2020. O encontro foi cancelado em virtude do isolamento necessário à sobrevivência.

Porém o livro foi produzido e fiquei empolgada com seu resultado. Ele revela minhas andanças em busca das minhas e das nossas raízes com o encanto de seus perfumes espalhados na paisagem humana e geográfica, na cultura e tradição diversificada através das rotas terrestres, deparando-me com sabores doces ou azedos e prazeres vários nesses contatos e descobertas manifestados na palavra.

5.   Houve um lançamento virtual no último dezembro. Onde pode ser encontrado hoje?

No dia 21 de dezembro do ano passado, ocorreu o lançamento virtual do livro em live no Instagram da Editora B3S do designer Bruno Obos, editor da obra. O vídeo encontra-se disponível em @Editorab3s onde pode ser conferido. Pode ser encontrado no whatsapp da editora – 84 98802 5303; nas Revistarias do Nordestão de Lagoa Nova e da Cidade Jardim; na Livraria Manimbu atrás da Fundação José Augusto e na Cooperativa Cultural Universitária no Centro de Convivência da UFRN.

Foi beneficiado com a aquisição de obras de autores potiguares pela Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural pela FUNCARTE e pela Fundação José Augusto em chamadas e editais públicos para ser doado com outros livros para a população de Natal e do estado. Uma providência oportuna que reaqueceu o mercado editorial local e escoou parte da produção de livros represados pelo isolamento imposto por essa pandemia.

Assim, em breve, espero, teremos lançamento físico quando da distribuição dessas obras. Com o final da pandemia, deverá ocorrer a Feira de Livros e Quadrinhos de Natal – Fliq, que não aconteceu o ano passado. Nesse importante evento literário da cidade, Flores, laranja, pimenta, raízes em andanças terá seu lançamento físico no estande da  Editora B3S.

6.   Qual a razão do destaque de tantas mulheres na poesia potiguar?

As mulheres potiguares são letradas, artistas, intelectuais, criativas, inquietas em sua necessidade de produzir poesia e compartilhar suas criações. Essa atitude é excelente por dinamizar essa ebulição feminina na voz poética local; revelar novas linguagens com seus estilos peculiares e incentivar o surgimento de novos talentos. É a multiplicidade da escrita e da verve feminina tomando consciência de seu empoderamento cada vez mais forte na poesia.

Aplausos à presença das mulheres em qualquer área profissional com muita categoria e eficiência. O mundo precisa de mais mulheres em atuação contribuindo para a construção de um mundo melhor para todos.

7.   Quais os seus destaques, sejam locais ou de alhures?

Não gosto de citar um destaque, pois acredito que todos são exemplos e contribuem com suas obras para minha evolução. Encontro-me sempre em crescimento. A aprendizagem é uma forte característica minha. Isso ocorre quando me aproprio da mensagem contida no texto, na fala, no gesto, na face do poeta ou artista ao entregar seu espírito ao público. Gosto da diversidade e sou eclética. Deleito-me em ler, ouvir e apreciar. Todos são destaques e têm minha admiração e agradecimento por compartilharem sua arte e alma.

8.   Existe literatura ou poesia feminina?

Se há no universo dos seres humanos o grupo feminino e o masculino e se há poesia produzida no grupo feminino, então há poesia feminina. Explicação encontrada na Lógica Matemática da racionalidade.

Na literatura, a voz feminina encanta com seu universo peculiar e faz suas reivindicações. Fala de suas dores, lutas, alegrias e sugere a necessidade de que dias melhores sejam alcançados.

Contudo a alma poeta não tem gênero, embora o substantivo alma seja feminino. Essa alma é quem sente e com a razão escreve e trabalha o poema. O poeta assume qualquer essência, pode transformar-se no perfume da rosa; na fome que dilacera corpo e espírito ou pode atravessar o espelho da invisibilidade visível de Oscar Wilde, somente para descobrir em que consiste a beleza.

A mulher faz tão bem literatura quanto o homem. Ambos são literatos e contribuem com suas escritas para a evolução do pensamento da humanidade.

9.   O que sobra e o que falta aos movimentos e instituições literárias em nosso Estado?

Considero muito importante movimentos e instituições literárias em qualquer sociedade. Eles são vitais para a preservação da memória literária e de sua continuidade ao agregar novos talentos saídos de escolas, de universidades, de associações, do povo e das próprias organizações, para conduzir esse segmento ao futuro. Sem eles deverá ocorrer uma estagnação e até o desaparecimento da cultura literária de um povo.

Noto em nosso Estado o fortalecimento desses organismos que prestam um grande serviço de valorização da escrita e da leitura à nossa população, a qual responde revelando novos talentos literários engajados com o mercado editorial que cresce com dificuldade, mas já mostra resultados, principalmente quando recebe apoio e fomento do setor público. Ainda é muito pouco esse apoio, mas já faz muita diferença em nossa realidade. Sobremodo nesse período de pandemia.

União é o ponto chave para o crescimento. Cada entidade com sua peculiaridade e missão, mas todos unidos pelo mesmo propósito do reconhecimento do escritor potiguar.

10. Do que é feita a poesia?

De vida.


Blog de Jania Souza

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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