O lindo lago do amor de Gonzaguinha

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Filho adotivo do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, o cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior nasceu no Rio de Janeiro, em 1945. Sua mãe, Odaleia Guedes dos Santos, era cantora do Dancing Brasil, no Rio.

Gonzaguinha, como era conhecido, morreu aos 45 anos, em 29 de abril de 1991, ao regressar de uma apresentação no Paraná, vítima de acidente automobilístico em uma rodovia no sudoeste daquele Estado. Deixando grande legado musical, ele poderia ter se tornado apenas “o filho de Luiz Gonzaga”. Mas, Gonzaguinha trilhou seu próprio caminho no universo da música cantando temas espinhosos para os anos 1970, como a resistência à Ditadura Militar, e sempre valorizando as sonoridades nacionais.

ANOS DE CHUMBO E CRIATIVIDADE

Extremamente criativo, transformava as dificuldades de sua vida em uma aguçada consciência política e social, que se tornaria matéria-prima fundamental de sua obra. O disco “Começaria Tudo Outra Vez” (1976) deu uma virada em sua carreira, com o grande sucesso da música título, e de “Espere por Mim, Morena”. A partir daí suas músicas se tornaram mais românticas, mesmo sem abandonar as preocupações sociais.

Ainda nos anos 70, na voz de Maria Bethânia, o compositor estourava no mercado musical com “Explode Coração”, que ficou conhecida como “Não Dá Mais Para Segurar”, e ainda a canção “Grito de Alerta” que também foi outro grande sucesso na voz de Bethânia.

LINDO LAGO DO AMOR

Durante a década de 80, com suas inovadoras canções, Gonzaguinha consagrou-se como um dos compositores mais requisitados do mercado brasileiro. Quem não se identificou com “Sangrando”, do LP “Gonzaguinha – De Volta ao Começo”, lançado em 1980? “Quando eu soltar a minha voz por favor entenda/Que palavra por palavra eis aqui uma pessoa se entregando/Coração na boca, peito aberto, vou sangrando/ São as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando …”.

Uma de suas canções mais expressivas, “Lindo Lago do Amor” foi lançada em 1984 como o primeiro single do LP, “Grávido”, que continha outro enorme sucesso, “Nunca pare de Sonhar (“Sementes Do Amanhã”): “Fé na vida, fé no homem, fé no que virá/Nós podemos tudo/Nós podemos mais/Vamos lá fazer o que será …”

Vejamos a letra de “Lindo Lago do Amor”:

“E bem que viu o bem-te-vi/A sabiá sabia já. /A lua só olhou pro sol/A chuva abençoou/O vento diz “ele é feliz” /A águia quis saber/Por quê, por quê, pourquoi será/O sapo entregou/Ele tomou um banho d’água fresca/No lindo lago do amor/Maravilhosamente clara água/No lindo lago do amor”.

Consideramos “Lindo Lago do Amor” um belo poema, uma fábula poética que faz relação com o amor puro, a felicidade e a natureza em sua forma mais singela, que os seres vivos e os astros compartilham e contemplam entre si. Interpretamos a mensagem contida nesta música como a assertiva de que a felicidade só é possível através do amor.

De outra maneira, tendo em vista o período em que a canção foi lançada, podemos interpretar, também, que “Lindo Lago do Amor” seria uma metáfora, uma forma de linguagem simbólica, falando do fim do regime militar no Brasil. O lindo lago do amor seria o Brasil; maravilhosamente clara a água, a democracia; a águia, os militares que só começam a observar; a sabiá, a justiça que sabia do fim do militarismo. E todos nós, o povo, tomávamos banho no lindo lago do amor chamado Brasil.

Mas isto é apenas um devaneio, uma simples interpretação, o que importa é que “Lindo Lago do Amor” possui melodia e letra belíssimas, com versos plenos de lirismo, e merece ser ouvida, infinitas vezes.
Que esse lindo lago do amor, e de esperança, se renove no povo brasileiro em tempos tão sombrios como os que vivemos hoje. Como disse Gonzaguinha em sua música: “E vamos à luta”: “Eu acredito é na rapaziada/ que segue em frente e segura o rojão/ eu ponho fé é na fé da moçada/ que foge da fera, enfrenta o leão. Eu vou à luta com essa juventude/ que não corre da raia a troco de nada. Eu vou no bloco dessa mocidade, que não tá na saudade e constrói a manhã desejada…”

 

Thiago Gonzaga

Thiago Gonzaga

Pesquisador da literatura potiguar e um amante dos livros.

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