Fragmentos de um jornal literário

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Poesia torta

Confesso que sou um tanto avesso à poesia. Refiro-me à poesia versificada.

Por que essa implicância com “o mais nobre dos gêneros literários”?

Ainda adolescente, lendo poemas românticos e parnasianos, eu rejeitava a rima e a métrica, ao meu ver, simples artifícios pueris, algo assim como brincadeira verbal, passatempo. Literatura não é coisa séria? – refletia.

Depois, descobri a poesia  modernista, com o verso livre, mas esta me pareceu ou demasiado prosaica ou extremamente enigmática, cheia de estranhas metáforas, numa linguagem como que codificada.

Diz a sabedoria popular que pau que nasce torto morre torto.

Até hoje não consegui me tornar um bom leitor de poesia.

Pilulas para o Silêncio

Releio, deliciado, o livro “Pilulas para o Silêncio”, de Clauder Arcanjo, um bisaco repleto de aforismos, esquetes e breves poemas em prosa.

Alguns aforismos refletem muito da sabedoria da vida. Estes, por exemplo:

-“Talvez haja mais fé em um obstinado descrente do que em um desleixado crédulo”.

-“Não se deve clamar por ajuda na porta da casa de um suicida.”

-“Assoberbado pelas rotineiras obrigações, não se deu conta da vacância, há anos, de si mesmo.”

-“Toda rigidez tem um quê de cadavérico”.

-“Há mais idiotice nos plenos de certeza do que sequer podem imaginar os acumulados de desconfiança.”

Método simpático

“Não ter método já é um método, com a vantagem de ser mais simpático e mais confortável”.

Triztan Tzara (citado por Câmara Cascudo em entrevista na Revista de Cultura Brasileña).

Paulo Onofre Jr

Diálogo num “sebo” de Natal :

– Os exemplares do livro “Chão dos Simples” que o senhor deixou aqui em consignação, foram todos vendidos.

-Ah! Já estou me sentindo um Paulo Coelho.

Disse, mas logo acrescentei :

-Quanto às vendas, quanto às vendas, apenas.

Alguém ouviu e comentou:

-Paulo Coelho, o mago da enrolação literária !

Soro poético

Em crônica publicada, há algum tempo, no jornal “Tribuna do Norte”, o poeta e escritor Lìvio Oliveira cita Nietzsche :

“De tudo o que  se escreve, aprecio somente o que alguém escreve com seu próprio sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espirito” (Assim falou Zarastustra).

“Não penso diferente disso”- afirma Lívio. “E, de fato, tudo que almejo na vida é mostrar a cor do meu sangue nas palavras que imprimo”.

Mais à frente, diz :

“O Poeta até pode ser pequeno, não a poesia. Se for pequena, não é poesia”. Palavras lapidares. Que sirvam de lição a muita gente que anda por aí escrevendo poemas a torto e  a direito – uns com água e açúcar, outros somente com água.

Fitzcarraldo

Um dos melhores filmes que assisti (em dvd), ultimamente: “Fitzcarraldo”, de Werner Herzog. Belíssima parábola sobre a capacidade que o ser humano tem de sonhar e de superar obstáculos para a realização do sonho. Interpretação memorável de Klaus Kinski, no papel principal. Os brasileiros José Lewgoy e Grande Otelo, coadjuvantes, em boas atuações.

Filmes italianos

Divulgam-se listas disto e daquilo, frequentemente, nas redes sociais. Pois vou fazer também a minha, escolhendo alguns filmes italianos que retratam o drama (ou seria melhor dizer, a tragédia) do fascismo na Itália da primeira metade do século XX.

Que vem a ser fascismo? “Regime estabelecido na Itália, fundado sob a ditadura de um partido único, a exaltação nacionalista e o corporativismo. 2. Atitude ou procedimento próprio de fascista.” ( Dicionário Enciclopédico Ilustrado Veja Larousse, vol, 9).

Além da Itália, o fascismo difundiu-se, com diferentes roupagens, em outros regimes ditatoriais, como, por exemplo, o de Salazar, em Portugal, e o de Franco, na Espanha.

Mas, vamos à lista:

1-UM DIA MUITO ESPECIAL (1977),  de Ettore Scola, com Marcello Mastroianni, Sophia Loren.

2- SALÓ OU OS CENTO E VINTE DIAS DE SODOMA ( 1975), de Pier Paolo Pasolini, com Paolo Bonacelli e Giorgio Cataldi.

3- O CONFORMISTA ( 1970), de Bernardo Bertolucci, com Jean-Louis Trintignant e Stefania Sandrelli.

4- O JARDIM DOS FINZI CONTINI ( 1971), de Vittorio de Sica, com Dominique Sanda, Helmut Berger,

5- AMARCORD ( 1973), de Federico Fellini, com Magali Noel, Bruno Zanin.

6- A NOITE DE SÃO LOURENÇO ( 1981), dos irmãos Taviani, com Omero Antonnutti, Margarita Lozano.

Vale a pena ver ou rever esses filmes, até mesmo para que se reforce a convicção de que a Democracia, com todos os seus defeitos, é o melhor regime político.

Ditadura nunca mais.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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