Falsos bons costumes
Vejo na televisão:
BRASIL ESTÁ ENTRE OS PAÍSES QUE MAIS MATAM PESSOAS DO GRUPO LGBT.
Perplexo, fico me indagando: o que leva alguém a matar outro pelo simples fato de este ser homossexual?
Não tenho dúvida de que, para que isto aconteça, como tem acontecido com frequência, muito contribui a pregação homofóbica de elementos com mentalidade retrógrada, falsos moralistas, que se arrogam defensores da “família, da moral e dos bons costumes”. Esses elementos deviam convencer-se de que, assim procedendo, estão, de certa maneira, colocando a arma do crime na mão de cada assassino homofóbico.
Existe algo mais estúpido que o preconceito? Racismo e homofobia, entre outras manifestações preconceituosas, fazem-me ter vergonha de pertencer à espécie humana.
Irônico desencanto
Do poeta Israel Zangwill:
“Um dia, estando entre nós o Atlântico
senti a tua mão na minha.
Agora, tendo a tua mão na minha,
sinto entre nós o Atlântico.”
Esse poema, cujo autor eu desconhecia, tem o brilho, o lampejo de uma frase de efeito.
É tocante o irônico desencanto que há no último verso.
De vivências
“As experiências lidas talvez sejam mais importantes para mim do que as vividas”. Palavras do escritor e tradutor Paulo Ronai.
De vivências 2
Literatura é importante, porém mais importante é viver. Primum vivere deinde philosophari.
Literatura necessária
Admirável sob todos os aspectos, um ensaio que li, há algum tempo, por sugestão do amigo Thiago Gonzaga: “O Direito à Literatura”, capítulo do livro “Vários Escritos”, de Antonio Candido. Devia ser leitura obrigatória não só para todo estudante de letras, mas também para quantos se interessam pela arte da palavra.
Com objetividade e clareza, o autor argumenta de modo convincente que a literatura, no sentido amplo a que se refere, “parece corresponder a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito”.
Várias questões, como, por exemplo, o papel humanizador da literatura, o primado da forma numa obra literária (“o conteúdo atuante graças à forma constitui com ela um par indispensável”), a função da literatura engajada – merecem enfoques, neste estudo, mas, o intento maior é provar que o direito à literatura se insere na órbita dos direitos humanos.
Pai da coalhada!
Chove forte e -raro – troveja na noite sobre as dunas de Natal.
Tem gente que morre de medo de trovão. Para mim, trovão é alumbramento, coisa mágica, poética. Creio que esse fascínio me vem dos meus tempos de menino sertanejo.
No sertão castigado pelas secas, os trovões sempre são saudados com alegria e alvoroço.
Eita, pai da coalhada! – diz o matuto.
Cores e encantos
Manhãzinha, abro a janela do apartamento e me deparo com um céu de puríssimo azul, lavado pela chuva da noite passada. É bonito esse azul.
Azul é minha cor predileta. Mas, não renego o vermelho, nem desprezo o amarelo…. O verde me encanta só nas plantas e árvores. Evito o cinza e o preto me assusta. Detesto lilás.
Nostalgia
Véspera de São João. Do meu quarto, às voltas com a revisão de um novo livro, ouço o pipocar dos fogos na cidade. Canções juninas ressoam ao longe. A solidão, embora momentânea, se aguça, e uma onda de nostalgia me invade a alma.
No meu tempo de menino sertanejo, era a noite de São João a mais esperada do ano. Era na fazenda do meu pai, perto de Umarizal, onde passávamos as férias escolares. Soltávamos traques, rodinhas, busca-pés, numa alegria doida, em volta da fogueira armada no terreiro da casa-grande. Muito milho verde, canjica, pamonha, bolo, as espigas assadas nas brasas da fogueira. Balões já não havia, mas, em compensação, estrondavam bombas e traques peido-de-velha.
Tudo isto, hoje, é “um retrato na parede”. E como dói (Obrigado Drummond).
Grande Demétrio!
Chega-me, na tarde de chuva, uma notícia triste. A Indesejada das Gentes levou Demétrio Diniz para o Outro Lado. Grande figura humana e grande escritor, Demétrio era tão bom na poesia quanto no conto, com diversos livros publicados. Quanta falta ele vai fazer!