“O “diário” é o melhor companheiro para conversar. A gente fala. Ele não responde. Mas, um dia conta tudo que ouviu”. Quem diz isto é o escritor Alvaro Moreyra em “As Amargas, não…”, livro injustamente esquecido, em boa hora reeditado pela Academia Brasileira de Letras, no qual pesco esta outra pérola:
“Se um anjo do Senhor me participasse – Vou te levar para o Paraíso – eu lhe pediria, olhando Florença – Não, não me leve para o Paraiso… estou tão bem aqui…”
Na extrema-unção…
Padre Mota, vigário de Mossoró, estava para morrer, já recebera a extrema-unção. Nisto aproxima-se dele uma beata e lhe diz:
-Padre Mota, console-se, o senhor vai para o céu.
E ele, choroso:
– Mas, eu gosto tanto de Mossoró.
A culminância do minuto
Há algum tempo, encontrei num texto de Gilberto Amado uma frase que guardei na memória: “O minuto é uma culminância. Galgai-a”.
Agora, lendo o poema “O Relógio” de Baudelaire, deparei-me com estes versos:
“O minuto é uma ganga, ó frívolo mortal,
De que não deixarás de extrair todo o ouro!”
E os chatos?
“Se é verdade que tens pena dos cegos, dos coxos, por que não tens pena dos maus? Os maus, por sua desgraça, são aleijados também.”
Epiteto, citado por Alvaro Moreyra em “As Amargas, não…”
Eu diria: E os chatos? Por que não tens pena dos chatos?
Botânico x jardineiro
Resposta do escritor Jules Renard (1864-1910) a um crítico literário:
– O crítico é botânico. Eu sou jardineiro.
Rico = pobre
Palavras de outro escritor famoso, Anatole France (1844-1924):
“A lei é igual para todos. A lei proíbe tanto ao rico quanto ao pobre, dormir debaixo das pontes e roubar um pedaço de pão.”
Raça inferior para sempre
No fecho do seu livro “A Sedição do Juazeiro” Rodolfo Teofilo, referindo-se às mazelas políticas do Ceará do seu tempo, afirma: “Os nossos males não terão fim tão cedo. A sua origem é a mestiçagem com todos os vícios e defeitos das raças inferiores”.
Que diria Gilberto Freyre de tamanho disparate?
A tese da pureza racial como fator civilizatório, levantada pelo Conde de Gobineau e outros pseudocientistas, está inteiramente superada. No tempo de Rodolfo Teófilo estava na crista da onda; daria, inclusive, respaldo a regimes políticos despóticos como o nazismo e o fascismo.
Sadomasoquismo
“O sofrimento purifica”.
Dostoievski.
Será….
Admiração e um muito obrigado
Nas horas tortas da vida que seria de nós sem a Música?
Obrigado, São Jorge Gershwin; obrigado, São João Sebastião Bach.
Em toda minha vida nunca me deixei fanatizar. Não é do meu feitio idolatrar nada nem ninguém. No entanto, admiro alguns vultos que exerceram forte influência em minha formação intelectual. Quais? Na literatura, Eça de Queiroz, Machado de Assis e os romancistas regionalistas da década de 1930, especialmente Graciliano Ramos; na música, George Gershwin, os Beatles e Noel Rosa; nas artes plásticas, Van Gogh e os Impressionistas; no cinema, Alfred Hitchcock e Billy Wilder.
De perto ninguém é normal
“A familiaridade gera o desprezo e raramente traz a admiração”. Frase de Apuleio (c. 124-c. 170), autor de “O Asno de Ouro”, precursor do romance moderno. Sábias palavras, ressaltam uma das mais desconcertantes ironias da vida: a banalização dos relacionamentos.
Amor, ridículo
Macedonio Fernandes costumava dizer a Jorge Luís Borges:
– A Morte é uma falácia.
Será que é, mesmo?
Parodiando o escritor argentino, eu diria que, em relação ao Amor, a Palavra é uma falácia. Na verdade, os que se amam entendem-se, de preferência, por olhares, gestos, atitudes e até pelo silêncio.
“Eu te amo”. Existe expressão mais gasta e inócua do que esta? Como empregá-la sem cair no ridículo?
Fernando Pessoa já disse que todas as cartas de amor são ridículas.
A dúvida da certeza
Mário Quintana, no livro “Porta Giratória”, falando a um padre proselitista:
-Sempre tive o bom senso de duvidar não só das minhas certezas mas também das minhas dúvidas.
Melhor o silêncio
Ligo o aparelho de televisão enquanto degusto (que palavra feia!) uma fatia de queijo. Sintonizo canal especializado em notícias. O apresentador informa que, na BR 101, um ônibus capotou, causando a morte de duas pessoas. Mudo de canal, e surgem, na tela, uns senhores a comentar jogos de futebol. Outro canal: programa de auditório. Mais outro: novela. Haja saco! Chega. Desligo o aparelho.
Salvação
“Yo soy yo y mi circustancia y si no la salvo a ella no me salvo yo”
Ortega y Gasset.
Cita-se muito a primeira parte desta frase, mas, inexplicavelmente, ignora-se a segunda parte.
Demasiados minutos de fama
Em declaração à imprensa, Umberto Eco afirmou que, hoje em dia, com o advento da internet, os imbecis, de que o mundo está cheio, podem vir a público exibir os seus escritos execráveis. (Cito de memória).
Em seu livro “Da Preguiça como método de trabalho”, Mário Quintana refere-se a um poeta espanhol, don Pedro Manuel de Urrea, que florescendo na época da invenção da imprensa, empalidecia só de pensar que seus versos, com isso, corriam o risco de ser lidos até mesmo nas adegas e cozinhas”.
Garatujas da idade
Duas coisas que as novas gerações adoram e eu detesto: tatuagem e som alto demais. Também abomino grafite – não o grafite-arte, mas essas garatujas que emporcalham fachadas e muros das cidades. Ainda bem que nem todo jovem tem essas manias.
Ferrari CR7
Perguntado por que não aderia à moda da tatuagem, o jogador de futebol Cristiano Ronaldo disse:
– A uma Ferrari não se adesiva.
Vergonha alheia
‘Não me espanto com a perversidade dos homens, mas com a sua falta de vergonha”.
A frase de Jonathan Swift (1667-1745) vem a calhar quando se atenta para a corrupção que grassa nas altas esferas do poder.
Desde sempre e agora pior
Duas espécies de político infelicitam nosso país: o corrupto de sempre, e agora mais do que nunca, o medíocre, violento e desastrado.