Filmes baseados em fatos, ok. Filmes baseados em fatos sobre montanhismo e escalada, chega! Pelo menos uns três que assisti contavam a mesma história. Aquela dureza infinita para chegar ao cume, e as histórias de heroísmo e perda durante o processo. Mas ‘Escalando Dawn Wall’ reinventou o gênero e não à toa foi indicado ao Oscar de melhor documentário.
O filme documenta e humaniza a saga de Tommy Caldwell, filho de um fisiculturista grosseirão que o criou junto às intempéries da natureza para acostumar a cria às dificuldades. Mas Tommy se tornou uma criança tímida e até “retardada” na escola. A guinada veio aos 16 anos quando se inscreveu num concurso de escalada e, mesmo sem currículo, alcançou uma marca inédita na competição. Daí a crescente foi vertiginosa e logo foi considerado dos maiores do esporte no mundo.
Anos depois, Tommy foi convidado, junto à apaixonada esposa e mais dois profissionais para uma escalada no Quirguistão, na Ásia Central. Lá a equipe foi tomada como refém de rebeldes. Foram seis dias de fome e medo. E só esse episódio já renderia um filme. Mas condensaram o acontecimento a um detalhe influenciador na carreira de Tommy.
Um inferno astral se seguiria com o fim do casamento, a perda de um dedo numa serra de marcenaria e uma obstinação rara de superação. Volta-se a possibilidade de clichê de uma trajetória de heroismo. Mas é diferente. Tem algo de mais técnico na seara audiovisual, tem algo mais humano e ainda uma ironia fina com a repercussão midiática dos feitos de Tommy, afora o tom biográfico do filme.
É um documentário que vale assistir. Se acaba com sorriso no rosto e, aos mais sensíveis, talvez até um cisco ou lágrima de cebola ralada.