Eu e Macca, apenas mais um dia na longa e sinuosa estrada da vida

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

Ontem meus problemas pareciam tão distantes… “Yesterday” me surgiu naquele período de dúvidas e rebeldias adolescentes. De alguma solidão, também. Todo adolescente é um pouco só, com suas neuras e desejos inconfessáveis. E eu, mais ainda. Tímido, retraído, encontrei quatro novos amigos que mostraram um mundo novo de possibilidades e sons.

Aos 13 anos.

Lennon sempre me pareceu o líder da banda. A simpatia de Ringo destoava, mas faltava empatia. George era insosso e só fui descobrir a genialidade muito tempo depois. McCartney foi mesmo meu melhor amigo naquele período. Dividia comigo essas horas angustiantes. Suas canções traziam conforto e emoções diferentes. E Yesterday foi meu padre, por um tempo. Sempre que escutava desabafava comigo mesmo alguns pensamentos.

Lembro de um especial sobre os Beatles na TV. A fase yeah yeah yeah era mesmo contagiante. Mas ao final, ouvi “Let it be” e a emoção vivida com “Yesterday” ressurgiu fulminante. “Deixe estar”. Duas palavras singelas que me reafirmavam: tenha paciência, tudo vai dar certo. E aquela impressão de uma conversa amiga, íntima, de dois amigos que se conheciam.

Dos Beatles, o desejo de uma coleção de vinis, às visitas a lojas de discos e gravadores da K7 e novos sons à espera. Stones, Cream, Doors, Beach Boys e toda uma aura cultural que cercava aqueles anos mágicos da década de 60. Mas os Beatles sempre me pareceram muito além. E tinha o meu amigo Macca. Aquele que voava comigo em um pássaro negro, cantando na calada da noite.

E se McCartney fechou a porta daquela década entoando ao mundo que “no fim, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá”, Maybe I’m Amazed surgia em seguida, em seu primeiro disco solo, para reafirmar nossa amizade de solidões. “Talvez eu seja um homem solitário que está no meio de alguma coisa que não entende de verdade”.

Desde então tem sido assim. São 30 anos de amizade e descobertas. Saí em fuga da monotonia dos dias com ele e sua banda, enquanto o marinheiro Sam nos procurava. Curtimos amores cantando agudos por aí “Wo-wo-wo-wo, my love..”; canções bobas de amor… Viajamos na paz natural de Mull of Kintyre sob o som de flautas da paz. Vivemos e nos deixamos morrer em noites solitárias. E “O que isso significa?”. Nada. É apenas “outro dia”.

E mesmo sendo um happy “Birthday” para o cara, é mesmo apenas mais um dia na longa e sinuosa estrada da vida. Deixe estar, amigo Macca, deixe estar!

 

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidos do mês