Escritores mossoroenses (parte 2) – S. F. Gurgel Filho

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As novas gerações não sabem quem foi Sebastião Fernandes Gurgel Filho. É pena. S. F. Gurgel Filho (como se assinava) deixou obra literária considerável, que merece ser resgatada desse ostracismo.

Escritor temporão, estreou, com 71 anos de idade, publicando o livro Ensaios Literários e Políticos (Natal: Clima Editora, 1988), sem dúvidas, uma das melhores obras do gênero, produzidas no Rio Grande do Norte.

Em estilo ágil e claro (dois ou três escorregões não comprometem) revela aspectos da vida e da obra de alguns dos mais eminentes escritores universais, e apresenta fragmentos, pérolas escolhidas na produção deles. É um trabalho de divulgação e crítica muito interessante. Apreciei, especialmente, os ensaios sobre Anatole France e Eça de Queiroz. Creio que devem figurar no que de melhor já se escreveu, no Brasil, a respeito destes escritores.

No entanto, não concordo com várias coisas que Gurgel Filho diz. Não acho, por exemplo, que A Relíquia seja o melhor romance de Eça. Nem considero La Bruyére o maior escritor de todos os tempos. Proust e Baudelaire não me parecem ser uns dissolutos dotados de gênio literário E será que James Joyce é apenas um artificioso, com mania de originalidade? Apesar de tudo, tenho a convicção de que a leitura de Ensaios Literários e Políticos vale a pena.

Três Espaços em Três Novelas

Com Três Espaços em Três Novelas (Natal: Clima Editora, 1990), o autor enveredou, surpreendentemente, pela Ficção. Enveredou é bem o termo adequado. Não que tenha perpetrado obra medíocre. Não. As suas novelas (ou contos?) – “Uma História Sem Heróis”, “Leila e Sheila” e “A Bela Encapuzada” –na verdade, memórias com roupagem ficcional – despertam bastante interesse. Mas, indubitavelmente, não se acham no alto nível qualitativo que o autor já alcançara com os seus ensaios, notadamente as páginas sobre Anatole France e Eça de Queiroz.

Nem Sempre Venenos

Em dezembro de 1994, Gurgel Filho publicou, em tiragem limitada, Nem Sempre Venenos (Natal: edição do autor), livro em que reuniu ensaios e páginas de memórias. Não o lançou, todavia (*).

REGISTRO BIOGRÁFICO

Professor e jurista, com inúmeros trabalhos publicados em revistas especializadas, Sebastião Fernandes Gurgel Filho, somente depois de aposentado, encontrou tempo para dedicar-se às atividades literárias.

Filho de Sebastião Fernandes Gurgel e Elisa da Rocha Gurgel, nasceu em Mossoró no dia 27 de agosto de 1916. Formação escolar pelos seguintes estabelecimentos: Ginásio Diocesano Santa Luzia, de Mossoró; Atheneu Norte-rio-grandense, de Natal, e Faculdade de Direito do Recife. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (1937).

No ano seguinte ao da formatura, começou a advogar. Exerceu o cargo de Juiz Municipal de Augusto Severo (RN), substituto da Comarca de Assu. Foi, depois, Promotor Público, por concurso, de Assu, comissionado, por cinco anos, em Mossoró. Procurador de Justiça, ocupou o cargo de Procurador Geral (Chefe do Ministério Público no RGN) por cinco anos consecutivos. Aposentou-se como Procurador do Estado.

Na área do magistério público: Professor de Francês do Atheneu Norte-rio-grandense, por mais de oito anos, e Professor, durante dezessete anos, da Universidade Federal do RGN, titular da disciplina de História das Idéias Políticas e Sociais. Era casado com D. Suzete Fernandes Gurgel, de tradicional família oestana, com quem teve duas filhas: Sara e Suzana.

Não consegui apurar a data do seu falecimento.

(*) S. F. Gurgel Filho enviou-me os originais deste livro e de outro seu, pedindo-me opinião sobre os mesmos.

Enderecei-lhe carta, nos seguintes termos:

 

Natal, 5 de julho de 1997.

Caro Gurgel Filho:

 

Antes de mais nada, obrigado pela oportunidade, que me deu, de ler os originais dos seus novos livros – “Nem Sempre Venenos” e “Novos Estudos e Menores Contos”.

Não sei qual dos dois despertou-me interesse maior.

“Nem Sempre Venenos”, talvez, porque dá nome aos bois, é leitura mais absorvente. Quanta ironia! Quanto sarcasmo!

Eu posso até não concordar com inúmeras afirmativas contidas nesta obra, mas admiro a coragem e a honestidade intelectual do seu autor em dizer, sem papas na língua, a verdade – ou o que lhe parece ser a verdade. Poucos escritores procedem assim.

No mesmo nível do “Nem Sempre Venenos”, porém com um conteúdo heterogêneo, “Novos Estudos e Menores Contos” é livro gêmeo daquele, dado o teor crítico, mordaz.

O título, em parte – “Novos Estudos” – desconcertará algum leitor que não há de atinar com o sentido da palavra “estudos”, aí empregado (Estudos de caracteres? Esboços de personagens?).

Ambas as obras, extremamente polêmicas, vão causar grande frisson, quando do lançamento. Não devem ficar por mais tempo na gaveta. Espero que, publicadas, alcancem o êxito que bem merecem (1).

 

Grande abraço

Manoel Onofre Jr.

 

NOTA

1 – Permanecem inéditas.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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