O aforismo “Há males que vêm para o bem” se encaixou como luva para a 9ª edição do Fest Bossa & Jazz em Pipa. A perda de patrocínios importantes impediu a manutenção do tradicional formato de um suntuoso palco no amplo espaço do terminal de ônibus da praia. O jeito foi improvisar para evitar dois anos consecutivos sem a promoção do festival. Com a realização da secretaria estadual de Turismo e com recursos do Governo Cidadão, a produtora Juçara Figueiredo alarmou o trade de Pipa: ou ajudam ou o evento sai do calendário. E com as bases de receita do Governo e a colaboração dos comerciantes nativos, o Fest Bossa & Jazz se reinventou e para melhor. Veja resenha do festival clicando AQUI. Juçara conta mais nesta entrevista exclusiva:
ENTREVISTA – JUÇARA FIGUEIREDO
A perda de patrocínios importantes lhe levou a formular esse novo formato do festival?
A princípio, sim. Foram dois anos sem patrocínios de leis de incentivo. Isso inviabilizou que rolasse Pipa ano passado. No primeiro semestre deste ano liguei pra a diretoria da ASHTEP (associação dos hotéis e pousadas de Pipa) e marcamos uma reunião, expliquei que se não realizasse o festival em 2018 ele cairia no esquecimento. Eu disse: “Se acreditam ser importante pra o destino, então vamos nos mobilizar pra que ele aconteça. Eu topo mudar o formato pra realizar”. E pedi uma semana. Montamos o formato inicial com colaboração de Eugênio Graça (maestro da Sesi Big Band) e Luciano Prates (produtor), fizemos uma planilha com estimativas iniciais de custos e apresentei a eles, que gostaram. A partir daí começamos a nos mobilizar pra conseguir o dinheiro. Importante dizer que nesta planilha não tinha previsão de custos com mídia; era mesmo só pra não passar em branco mais um ano. Aí houve a conjectura público-privada: os hoteleiros se mobilizaram pra fazer um rateio para entrar com dinheiro. Depois chegamos juntos à prefeitura e Convention Bureau. Aí já tive um suporte para começar. Depois agregou uma verba pra complementar da secretaria estadual de Turismo com o Governo Cidadão, que tem sido o grande propulsor das últimas edições. E assim chegamos com o Fest Bossa & Jazz em novo formato pra Pipa.
O sucesso dessa ideia deve permanecer nas próximas edições, independentemente de novos patrocínios?
Não tenho dúvida. O novo formato caiu como uma luva pra Pipa e em agosto deste ano ele já foi enquadrado na Lei estadual neste formato. Espero conseguir a visibilidade necessária pra atrair novos patrocinadores, além de continuar contando com a participação do movimento Preserve Pipa, prefeitura de Tibau do Sul e Governo Cidadão. Mas pra arredondar e conseguir fazer sem tanto estresse, precisamos contar com adesão de outros patrocinadores, pois realizar com o mesmo orçamento é muito complicado; a mesma equipe técnica para as atividades de dia e de noite, e usando os mesmos equipamentos dos polos noturnos nos polos diurnos, ninguém mais topa fazer; é uma economia que gera muito estresse, desgaste e ocasiona falhas.
Já há alguma garantia ou algo definido pra próxima edição em Pipa?
Sim, agora me sinto mais segura. Acredito que com o resultado todos os envolvidos chegarão juntos. Isto que aconteceu aqui na Pipa não é novidade, quem conhece Gramado sabe que começou a se projetar assim. Gramado tem hoje um calendário anual de eventos depois da união dos hoteleiros, que decidiram não ficar esperando cair do céu investimentos pra isto e arregaçaram as mangas, investiram em eventos e desta forma atraíram as grandes empresas pra patrocinar. Quem não quer visibilidade? É assim mesmo, pra atrair patrocínios tem que investir primeiro.
O que se esperar das outras edições do Festival, em Mossoró, Gostoso e Natal no próximo ano?
Bom, aí já é uma outra história. No caso de Mossoró está enquadrado na Lei estadual Câmara Cascudo, como Pipa está, mas precisamos lutar pra mudar a lei estadual, estes 20% que é incentivado do próprio bolso pela empresa desencoraja e desestimula. Temos muitos gargalos na Lei estadual Câmara Cascudo, mas este é o principal e que os produtores têm que se unir pra falar a mesma língua, pra derrubar esta barreira. Então no caso de Natal tenho a lei municipal aprovada, enfim, tenho inclusive Rouanet aprovada no artigo 18, ou seja, as empresas podem aportar com 100% pra Pipa, Natal e São Miguel do Gostoso, mas para isto viabilizar tenho que ter tempo pra cair em campo, pois a captação de recursos é árdua, exige tempo e dinheiro, porque as grandes empresas que aportam recursos não estão aqui, ou pelo menos não se resolve aqui e sim em São Paulo.