POETA DA SEMANA: Emerson Sarmento

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Natural de Recife, o poeta e cantautor Emerson Sarmento ganhou em 2011 o Festival de Música Carnavalesca do Recife, época em que marcou presença em outros festivais locais. Com a poesia, concorreu ao Prêmio SESC de literatura. Na Era do Orkut ganhou quatro concursos nacionais promovidos pelas comunidades literárias. Já foi homenageado num sarau em Natal durante o qual seus poemas foram lidos por poetas locais. Em 2012, lançou seu primeiro livro Perfume do Sangue pela editora Moinhos de Vento e em 2016 publicou pela Editora Penalux sua segundo obra ‘Cromossonhos’.

Emerson Sarmento é nosso POETA DA SEMANA

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Soneto da amizade mútua

Pintemos, amor, a ode brutal
um futuro sistemático adormecido
onde a fúria do desejo é triunfal
e a penumbra é a glória do iludido.

Ora, cantemos como bichos no cio
transas fálicas são bacanais de versos
a plena purificação tardia é hostil
numa liberdade de segredos perversos.

As incertezas são desordens mútuas
explodindo arquitetura mal planejadas
sobrevivendo apenas devoções, de repente…

Amo-te, sem mais, como amigo, simplesmente!
Amo-te na mais perfeita primavera tua
e amarei a rosa desejada, aberta e nua.

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Soneto larmoyante

Deita os teus íntimos assombros
nos suspiros cansados d’meu peito
retira a languidez dos escombros
acende os ímpetos no amor refeito.

Deita os teus ínfimos tormentos
na palidez fervorosa d’meu leito
regressa às flores dos rebentos
que outrora velamos o amor eleito.

Adormece no mar dos meus olhos
acalma-te nesse mistério imenso
onde tua imagem reluz sentimento.

Que bebamos o veneno dos ópios
o langor dos corpos moribundos
e morramos nos desejos fecundos.

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Soneto ao sorriso desconhecido

Eis o espanto na ribalta dum sorriso
eram sossegos na simetria das luzes
na timidez hermética de um paraíso
libertou meus agouros das cruzes.

Eis o desconhecido encanto conciso
o sublime resvalado diante dos olhos
a entrega ao esquecimento contido
no alumbramento dos meus imbróglios.

Diante da epifânica paisagem dos lábios
a eloquência verve perdeu-se no ímpeto
do silêncio sagrado dos versos sábios.

E o âmago febril em seu ventre fecundo
executa o choro nas ruas de outono
reverberando o sorriso que silenciou o mundo.

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Soneto à mulher amada

Amada minha, ouve teu poeta!
espadas desejam nosso sangue
lâminas perfuram o que resta
e padeço-me na alma exangue.

Amada minha, ouve o teu poeta!
bendita és nos lírios da tarde
na ode duma açucena discreta
no beijo onde teu ventre arde.

A paisagem submersa nos lábios
é antídoto dum veneno infernal
sendo nosso os cuidados vários

E quando sentires as flores afinal
Saberás, é o meu amor nos amparos
do semblante vivo de teu sinal.

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Soneto ao filho amado

Nasceste no ímpeto da glória
no império sagrado dos sonhos
és luz no crepúsculo da trajetória
onde habitam vassalos tristonhos.

És Alquimia dum futuro amor
vagando na razão inconfessa
amo-te ameno em teu louvor
amo-te desde da infinita espera.

Habitavas meu íntimo variante
Entre engenharias sentimentais
e projetos de falácias racionais.

Chegaste numa aurora gritante
Do meu ventre imaginário e voraz
nasceste, nos olhamos! Amor! Paz!

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Soneto da canção envolvida

Embora recente a canção envolvida
a rosa secular adormece no mistério
sonhos esquecem a dor envelhecida
na masmorra dum tenebroso império

Ode à vossa delicadeza em roseirais!
Ode à vossa ardentia turva e sonora!
naufrágios aos pérfidos ônix teatrais
na imensidão de tua sabedoria afora

És adjacente a tentações grotescas
tua existência reluz o escuro sublime
E ressalvas a razão em tuas veredas

Por fim, tua beleza exalta a inveja vil
nesta alvura suave, pétalas, requinte
És quinta-essência da primavera anil.

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Ébria confissão de uma puta

Ouço o que a noite fala
e me calo!
Falo de amor por um trocado qualquer
dano-me em noite de lua cheia.
Encontra-me, Falo!
Outra vez me calo
a fundo,
entre a pausa
de um cigarro
e uma dose de uísque vagabundo,

a meia-noite ameaça
declamar o enigma
as cortinas fecham-se
onde penetra agonia
onde fazia frio
talvez em um prazer confuso
de absurdo choro,
envolvendo-me à redenção.

As rosas pretas absorvem
meu veneno selvagem
tento-te, atenta por milhares de maneiras suicidas
entregando-me a tal luto, pois,
esquecerei de morrer.

A noite explora a palidez
cínica do meu outro lado
do outro,
a brisa áspera condena-me em luzes mortais
deixando apenas
meu coração que chora – nunca de amor.

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Olimpíadas 2016

Do lucro
à queda
corpos
afundam
ossos
fraturados
o estado
inunda
em milhões
faturados.

Que onda é essa?
Nova modalidade?
Dead cycling?
Ou
Bike Lane of fear?
A vista:
Wonderful!
Really!

O céu
azul
Rio
Cidade
maravilhosa
futebol
passagem
(de)caída
dois
corpos
brozeando
a ausência
da vida.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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