Relacionar-se quando você é uma mulher proativa, independente e dona do próprio tempo — ou da falta dele — é um ato de resistência. A rotina frenética já consome energia suficiente sem a necessidade de explicar que autonomia não é um ataque pessoal, que ambição não diminui a capacidade de amar e que ter uma agenda cheia não significa ausência de sentimentos. No entanto, explicar cansa. Mais que isso: esgota. A cada encontro com um ego frágil, a mulher que resolve a vida sozinha se vê presa a um ciclo de autojustificativas que não deveria existir.
Sabe o que mais cansa? Eu explico: homens que tropeçam no próprio ego quando cruzam com mulheres como a gente. Aquela que acorda cedo, resolve a vida, paga os próprios boletos e ainda tem pique para um happy hour com as amigas. A independência, caros leitores, é bela e assustadora como uma dose tripla de realidade. E eles, os homens, falam aos quatro cantos que querem mulheres fortes… até descobrirem que força não vem com botão de desligar.
Já notou como a maturidade feminina os desestabiliza? Eu sou o furacão, e ele o barraco mal pregado. Ele se perde quando percebe que você não precisa ser salva. A síndrome do príncipe encantado se esfarela quando a princesa não cabe mais no castelo, mas tem um escritório próprio e um plano de saúde empresarial.
De onde veio essa fixação pela subserviência? De tempos em que a mulher, coitada, era objeto decorativo com habilidades culinárias. A História, nossa velha amiga, não mente: o patriarcado adora uma cozinha. O Código Civil de 1916, por exemplo, dizia que o marido podia “corrigir” a mulher. Corrigir! Como se ela fosse um texto mal revisado e ele, um editor medíocre com caneta vermelha. Felizmente, as leis mudaram. Pena que alguns cérebros não evoluíram junto.
“Ah, mas as mulheres de hoje são muito exigentes”, eles dizem. Claro que somos. A vida nos obrigou. Não dá para negociar amor com quem acredita que lavar a louça é gentileza. Pedir o básico virou sinônimo de radicalismo. E quando a gente diz que não precisa de um homem, eles escutam que não queremos ninguém. Ego inflado tem audição seletiva.
E então, o que resta a eles? Recuar. “Ela me assusta”, confessam alguns. Assusta porque não dependemos. Assusta porque não aceitamos pouco. Assusta porque fazemos perguntas difíceis — aquelas que vêm com marca de fogo: “O que você traz para a mesa além de fome?”
Machismo é tão episódio passado quanto a ideia de que mulher trabalhadora não tem tempo para amar. Quem inventou isso certamente nunca ouviu ou leu uma frase que diz: “não quero ser a mulher por trás de um grande homem. quero ser a grande mulher.” E eu nem lembro agora quem escreveu, mas concordo plenamente! Simples assim. Não buscamos papéis secundários; buscamos vida compartilhada, não moldada.
Se a sorte sorri para um homem e ele encontra uma mulher que é assim, ele precisa entender que ganhou um bilhete premiado, mas sem a senha para resgatar o prêmio. É preciso estar atento para decifrar o código. Como? Primeiro, admiração genuína: mulher autônoma não precisa de bajulação vazia, mas se alimenta de reconhecimento verdadeiro. Segundo, parceria sem paternalismo — ajudar não é fazer por ela, é caminhar ao lado. É entrar com as mãos para a massa, não com elas apenas para aplaudir.
Quer um exemplo prático? Se a vida dela for um projeto de muitos andares, que ele seja o arquiteto que revisa a planta com atenção, e não o pedreiro que aparece só na hora de subir na laje para a foto. Acompanhe os processos, torça, celebre. E quando ela brilhar, não encoste no reflexo achando que é seu. Homens que compreendem isso descobrem que um relacionamento com uma mulher empoderada é como ter Wi-Fi de fibra: conexão forte, estabilidade emocional e sem necessidade de “reconfigurações manuais” frequentes.
Mulheres como nós estão cansadas daqueles que não oferecem nem o mínimo, mas pedem o máximo. Homens que acreditam que só eles têm problemas, cansaço e uma agenda cheia. Como se a vida de uma mulher fosse um intervalo confortável entre cuidar dele e cuidar do resto do mundo. São os mesmos que esperam paciência infinita, carinho incondicional e ainda se surpreendem quando você não tem energia para lidar com o ego desproporcional deles depois de um dia que começou às seis da manhã e terminou com a entrega de um projeto gigante. Eles são especialistas em desconsiderar seu cansaço enquanto se queixam da fila no pão.
Os tempos são outros. E, cá entre nós, a maioria dos relacionamentos não dá certo hoje em dia porque as pessoas inventaram regras e réguas nas quais nem elas mesmas se enquadram. Querem lealdade, mas não têm disciplina; buscam reciprocidade, mas oferecem migalhas. Fazem listas intermináveis de qualidades exigidas sem notar que, se aplicassem esses critérios a si mesmos, ficariam solteiros por décadas. A lógica é simples: se você quer a plenitude de uma parceria, precisa trazer à mesa muito mais do que fome e reclamações.
A prática do amor requer vulnerabilidade mútua, e não o peso de um fardo unilateral. Relacionar-se com uma mulher empoderada, que caminha com os próprios pés, é uma oportunidade para construir um novo tipo de intimidade, onde ambos compartilham o peso da vida. “O amor como ato de liberdade começa quando reconhecemos que cuidar de si mesmo e dos outros não são tarefas excludentes, mas complementares”, diz Bell Hooks em “Comunhão: A Busca das mulheres pelo amor”.
Finalizo com uma sugestão prática: da próxima vez que topar com uma mulher que sustenta o próprio mundo, não tente podá-la. Ofereça sombra, apoio e um pouco de água fresca. E lembre-se: igualdade é parceria, não ameaça.
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Exatamente 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Sabias palavras