Depois de tanto tempo me escondendo com sucesso da Covid, finalmente fui pego. A sensação de ter Covid em meados de 2022 é algo como ver um filme da Marvel dois anos depois de sua estreia, já sem o hype,demodê.
Aquela sensação quase palpável de medo da morte que envolvia as pessoas adoecidas pelo corona vírus agora é, na maioria dos casos, uma sensação apenas de mal estar, de desconforto e uma certa preocupação que não extrapola o limite do bom senso.
Verdade que ter tomado as três doses de vacina a que tive direito ajuda a reduzir a sensação de horror, embora faça pensar no horror das milhares de vidas que deixaram de ser salvas por desleixo, crueldade e banditismo político.
O isolamento em que a médica me pôs é de sete dias, o que já parece bem menor do que se fazia no começo da pandemia. Os tais sintomas leves são leves apenas para quem não está doente: garganta inflamada, nariz obstruído, perda do olfato e paladar, irritabilidade, estômago e cabeça doendo o tempo todo, dores no corpo, febre moderada, calafrios, náuseas… se tudo isso é leve, acho que eu não sobreviveria aos sintomas pesados.
É curioso pensar que passei dois anos temendo e me escondendo dessa doença para, na última volta do relógio, encontrá-la na esquina, sem esperar, e tombar contra ela quase imperceptivelmente. É como um lutador que está vencendo seu combate por pontos, larga vantagem, e a sensação de proximidade da vitória faz com que baixe suas luvas e deixe uma brecha na guarda por onde receberá um cruzado de esquerda improvável que o levará a nocaute.
Baixei a guarda. Tinha a certeza de que conseguiria me esquivar. Mas a luva do adversário veio precisa na ponta do queixo e a lona é onde está o corpo inerte, de olhos vidrados, do lutador que sou.
Agora resta esperar: a contagem do juiz, que me ponham de pé, descansar, aceitar a próxima luta e estar pronto para ela. Sem baixar a guarda desta vez.
Por enquanto, sou um daqueles números na estatística da covid antes dos jogos de futebol. Fora de moda e para o qual ninguém dá mais a mínima importância.
3 Comments
Excelente crônica. Importante alerta para mim que, vez por outra, sinto-me tentado a baixar a guarda.
Te desejo uma recuperação rápida e efetiva.
Muito grato, meu querido!