Da arquitetura de Natal

Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, por Sergio Vilar

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

Natal é cidade de rio e mar, dunas, sol, ar aprazível. Belezas naturais arquitetadas e esculpidas como dádiva. As ruas largas parecem refletir o estilo acolhedor da cidade e dos natalenses. O litoral é dos mais belos do país. Peculiaridades que elevam a capital potiguar em revistas de turismo e estatísticas de qualidade de vida. Mas o que torna Natal singular e senhora de si é sua arquitetura: reflexo vivo de sua história e de seu povo. Não é a toa que mais das vezes os verbos Viver e Morar são usados como sinônimos. Um passeio calmo pelas ruas e avenidas, em observância minuciosa do patrimônio histórico, cultural e artístico pode nos revelar segredos escondidos em edificações de uma cidade até então incompreendida.

Descobrir o significado de traços e formas de monumentos arquitetônicos é materializar a ideia de tempo – esse viajante insólito a deixar marcas em tudo o que há. E a arquitetura é perfumada pelo tempo; é um elemento artístico da representação humana. Estudar a arquitetura da cidade constitui-se uma autodescoberta enquanto pessoa inserida dentro de um contexto. O escritor Nelson Bissac Peixoto, no texto O olhar do estrangeiro, fala sobre a figura do flanêur: um escritor francês do século 19, que perambulava pelas ruas e cafés parisienses. Um estrangeiro que, amparado no ócio da visita turística, percebe os cenários em minúcias e reconhece detalhes das construções arquitetônicas; capta melhor as sensações e os detalhes do ambiente.

A cidade se torna uma paisagem para o flâneur. Ele não é um turista entusiasmado em busca de pontos turísticos convencionais. O flanêur busca uma nova percepção da cidade. A Paris vista por este observador é uma cidade de histórias e personagens, contadas a partir de lugares, fachadas e monumentos arquitetônicos. Em Saint-Germain-des-Prés, por exemplo, o flanêur descobre o trio de cafés que reuniam intelectuais e artistas. Entre eles, Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre. Quando fala do Marais, gueto judeu, conta toda a sua história. E assim ele conhece segredos guardados em edificações aparentemente banais.

Se caminhasse pelas ruas e avenidas de Natal, o flanêur descobriria uma cidade arquitetada de costas para o Rio Potengi por influência dos missionários católicos. É que as cidades brasileiras foram fundadas a partir da construção de uma igreja, erguida em local alto. A igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação foi construída estrategicamente na Cidade Alta. E toda a estrutura de edificações foi erguida voltada à Igreja. Foi assim que Natal se desenvolveu. E passeando pelas ruas do Centro, o flanêur se encantaria pela descontração e o aroma do Café São Luís. Ali, a “velha guarda” lhe contaria de tempos líricos no Grande Ponto, na Rua João Pessoa, hoje dominada pelo comércio. E imaginaria a paisagem de uma cidade bucólica e romântica. Mas, ali, o mirar atento do flanêur notaria um único edifício de arquitetura antiga, neoclássica, que um dia recebeu toda a magia de uma geração de intelectuais e boêmios. E na certa se perguntará o porquê das ruínas.   

E de pouco o flanêur saberá da história potiguar se procurar desvendar os traços arquitetônicos das nossas igrejas. Se não estão em ruínas, como a memória da cidade, as igrejas foram tristemente mutiladas em sua arquitetura original. O professor Câmara Cascudo já alertava, em seu livro Viajando o Sertão (1934), para o fato: “Era natural que a fisionomia arquitetural mais típica das cidades e vilas fosse a sua igreja. Mas tal não se dá. A mania da remodelação, para pior, ataca os nervos de muita gente bem intencionada (…). Seria indispensável a cadeira de Arte Religiosa Brasileira para ensinar aos nossos párocos um mais profundo amor pelos monumentos legados pelas gerações desaparecidas”.

Antes, os párocos tivessem a visão conceitual dos arquitetos e artistas, de que o homem sempre produziu arquitetura como reflexo de sua cultura, de seus valores, de seus símbolos e de sua história. A busca pela funcionalidade na arquitetura não necessariamente sobrepuja a estética. Mesmo considerada arte impura, a arquitetura é uma representação artística humana. O próprio Oscar Niemeyer – dos mais importantes defensores da concepção da arquitetura enquanto arte – reconhecia que a busca da beleza artística era uma força motriz de sua obra. E rebatia as críticas afirmando que, na arquitetura a Forma transcende a Função: “Quando uma forma cria beleza ela tem uma função e das mais importantes na arquitetura”, dizia ele, no Pequeno diálogo socrático.

Rino Levi, outro pioneiro da arquitetura moderna brasileira, sintetizou a questão da seguinte maneira: “Arquitetura é arte e ciência. Se com tal expressão se quer significar que a arquitetura, como fenômeno artístico, está sujeita a uma classificação à parte, comete-se um grave erro. A arte é uma só. Ela se manifesta de várias maneiras: quer pela pintura, pela escultura, pela música ou pela literatura, como também pela arquitetura. Tais manifestações constituem fenômenos afins, sem diferenças substanciais na parte que realmente caracteriza a arte como manifestação do espírito”.

E se a arquitetura é vista como elemento artístico, e a arte é uma manifestação poética, há que se perceber, em alguns monumentos arquitetônicos, alguma poesia. O arquiteto se confunde mais das vezes com o trabalho do artista plástico e do poeta, quando precisa conhecer as matérias de construção, a madeira, o ferro, o barro, e transformar o concreto em uma forma minuciosamente arquitetada, pensada, esculpida; lapidada. A finalidade, como disse o filósofo grego Sócrates, “é trabalhar a pedra até que a fachada cante”. Infelizmente – e como retrato desses tempos – a arquitetura do mundo-hoje canta em uníssono. A globalização se impôs como filosofia verticalizadora de poder, formulando seu próprio tempo de ação sem apoiar-se em conceitos que não fossem as leis internacionais do capital privado. É um novo colonialismo a interferir diretamente na paisagem da cidade; na arquitetura das paulicéias desvairadas.

TENDÊNCIAS

“Tudo que se faz é consequência de um passo dado atrás. Nada é por acaso”. A afirmação do arquiteto potiguar Marconi Grevi – responsável pelo projeto arquitetônico da Catedral Metropolitana de Natal – está calcada na ideia de transição dos estilos arquitetônicos. Como explica, a arquitetura é a resposta de cada época. A arquitetura moderna é vista hoje com naturalidade porque está inserida dentro do contexto atual. E dessa forma, a arquitetura responde também pelos valores e costumes de uma dada cultura.

A arquitetura dita globalizada – tendência incorporada nos grandes centros urbanos do mundo –, segundo Grevi, sempre existiu. Devido à lentidão dos transportes e da comunicação da época medieval, onde predominou o estilo barroco, na Europa, o estilo arquitetônico chegava séculos depois ao Brasil. O mundo pós-moderno eliminou distâncias. A internet transformou o planeta numa grande rede globalizada. E a arquitetura passa então a ser a resposta não só de uma localização, de um povo, mas da percepção do mundo.

Grevi metaforiza a rapidez com que as feiras de matérias de construção e arquitetura se modernizam e interagem com as tendências mundiais, com o novo modelo de organização social. Segundo o arquiteto, tudo está se unificando: o pensamento e a arquitetura. E embora os tipos de materiais se renovem, e a cada momento se descubra novos tipos de concreto, como o aço carbono, mais maleável e resistente, o homem continua – e desde a pré-história – a procurar vencer vãos e encurtar espaços.

Como exemplos claros, o arquiteto cita a nova ponte estaiada que se ergue sobre o Rio Potengi e a verticalização crescente da cidade, com prédios cada vez mais altos. É que, como lembra Grevi, a tendência mundial é de que os terrenos se acabem com o crescimento populacional vertiginoso. Um retrato desse vislumbre são a expansão e desenvolvimento de bairros natalenses e até municípios, vistos antes como afastados. “A Grande Natal está começando a se emendar”.

E se as tendências mudam e os estilos arquitetônicos transitam entre as épocas, Grevi concorda que a arquitetura continua equilibrada em três fatores básicos que, segundo ele, sempre a nortearam; princípios criados pelo arquiteto e engenheiro romano, Vitruvio (70-24 a.C), já na Grécia Antiga: a estética (forma plástica), a função e a estrutura. E a realidade contemporânea tem colaborado para transformar a estética em padrão; a função, em necessidade; e a estrutura, em defesa contra as variantes do mundo pós-moderno: violência, inchaço da cidade, calor, meio ambiente, etc.

“A tendência é a da precisão de ar-condicionado nos ambientes por causa do calor crescente. Por outro lado, há o problema da estufa. Afora as praias, as cidades não terão ventilação suficiente. A água está acabando. A tecnologia e a arquitetura precisam trabalhar em busca de soluções para estes fatores. A violência também é crescente e impedirá os espaços abertos. A insegurança é um problema que enfeia a arquitetura. Está difícil de arquitetar uma parede vazada. Tem-se que levantar muros. Mesmo casas pequenas precisam ou precisarão de grades e cercas elétricas”.

Os espaços hoje são poucos. A especulação imobiliária, sobretudo estrangeira, numa cidade turística como Natal, mira a geografia da cidade com mega-projetos em mente, na busca de terrenos e belas paisagens para seu empreendimento. E pensar que há milhares de anos, na Grécia antiga, consultava-se o oráculo de Apolo para se saber aonde construir uma cidade… E o oráculo respondia, num triste retrato de uma época perdida no tempo: “Onde houver oliveiras para dar o azeite das candeias; onde houver uma várzea, para que se plante trigo para o pão; onde houver um prado, para crescerem os borregos e as ovelhas para darem a carne e a lã. E a uva, para o seu vinho”.

ARQUITETURA SACRA POTIGUAR

A arquitetura sacra ocupa importante espaço dentro da tradição brasileira. O país é dos mais ecléticos do mundo. Além de abrigar grande variedade de religiões tem também na figura do índio, do negro e do branco o seu pilar cultural. E parte daí a valorização da arte sacra. É que a primeira concepção de uma arte figurativa onde estejam presentes elementos da cultura negra, indígena e branca está presente nas igrejas brasileiras, fundamentalmente nas construções barrocas. No entanto, são poucas as igrejas antigas restauradas ou preservadas em sua plenitude. Por trás da beleza dos vitrais, mosaicos e elementos de hoje que justificam o título de patrimônio cultural, estão tradições e manifestações artísticas apagadas.

Foto: Sergio Vilar

Em Natal, quatro igrejas mereceram destaque na visão do historiador John Alex Xavier. O professor tem especialização em história da cultura. Sua dissertação de mestrado pretendeu mostrar a originalidade das igrejas barrocas do Nordeste. Para Alex, a igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação, na Cidade Alta é das poucas igrejas com arquitetura original preservada. Ainda assim, sofreu modificações. Segundo o professor, relatos indicam que por volta de 1599 existia uma capela onde está hoje a igreja matriz. As reformas na igreja se sucedem até o início do século 20 e deformam a originalidade de sua arquitetura sacra.

“Acredita-se que a Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, em função da época em que foi erguida, teve um frontão clássico, triangular. Atualmente o frontão é barroco, com curvas. Uma prova disso é o óculo (uma abertura circular) ainda existente na entrada principal, que remete a um amadurecimento do que eram as rosáceas (que serviam para dar maior luminosidade ao ambiente) do período gótico. Sendo que, o que seria a base desse frontão triangular, atualmente está cheio de volutas, que são elementos em forma de caracóis, que caracterizam o barroco. Então, encontramos na igreja elementos que lembram o clássico e o barroco”.

Na época da última reforma da igreja, entre os séculos 19 e 20, o estilo arquitetônico predominante no Brasil era o ecletismo. Segundo Alex, a igreja sofreu influências deste estilo. As igrejas construídas nessa época de transição entre renascimento e barroco são apontadas pelos historiadores como maneiristas. “Seria prepotência afirmar que a igreja matriz é barroca. Pode-se dizer que é maneirista, já que apresentou processo de transformação em sua feição durante a transição. E dentro da perspectiva do maneirismo, não afirmo, como historiador, qual o estilo arquitetônico preciso da igreja porque não existe resquício dessa primeira construção”, disse Alex.

A segunda igreja construída em Natal foi a Nossa Senhora dos Rosário dos Pretos, erguida por pessoas simples, negros e abastados. Segundo Alex, há registros sobre a igreja em 1713. Portanto, ela foi construída antes desta data. Cascudo cita que essa igreja tem a melhor localização da cidade: no alto, com visão privilegiada do rio Potengi. É também visível da Ribeira ou Cidade Alta. De costas para a antiga catedral e de frente para o rio. A construção termina pelo século 19, com a finalização da torre, com perspectiva estilística neoclássica. “O fato de uma obra ser construída no século 19 não necessariamente é neoclássica. Ela tem elementos clássicos na torre, mas a disposição dos elementos é barroca, como o frontão”, destaca Alex.

A igreja de Santo Antônio, ou do Galo, como é conhecida, foi o terceiro templo católico construído em Natal. Isso por volta de 1776. Seu estilo é típico do barroco. Um exemplo é a simetria, com uma única torre e a sensação clara de desequilíbrio. Na Igreja do Galo, essa simetria de contrastes é mais aparente que as outras. Mas, segundo Alex Xavier, o barroco nordestino sofreu uma evolução após ter chegado da Europa. Aqui no Brasil, o estilo obedeceu necessidades locais. O próprio material usado: cantaria, a pedra calcária, é típica do Nordeste. Outra evidência da evolução barroca, aponta o professor, é o frontão cheio de detalhes. “As fachadas nordestinas são relativamente simples, mas algumas mostram detalhes que mostram a evidência do barroco”.

Quarto templo religioso construído na cidade, a igreja de Bom Jesus das Dores, na Ribeira é a igreja mais desfigurada com as reformas. Encontram-se documentos de casamento celebrados na igreja, em 1734. As reformas que a desfiguraram, e concedeu mais ou menos a forma que possui hoje, se deu entre 1915 e 1918. “É uma igreja sem adorno, mas de uma beleza rara. Depois da reforma, ela ganhou características ecléticas”. O professor explica que, entre os séculos 19 e 20 ocorreu uma mistura de elementos arquitetônicos: mouros, orientais, elementos clássicos, góticos, que se misturaram e criaram o estilo eclético, também presente na fachada do prédio sede da prefeitura do Natal.

EVOLUÇÃO DOS ESTILOS ARQUITETÔNICOS

Antigamente, o patrimônio arquitetônico era chamado patrimônio histórico e artístico. Percebeu-se, atualmente, que essa percepção era limitada. Hoje é patrimônio cultural. E esse patrimônio cultural está dividido em três partes. A arquitetura; o conhecimento humano (o saber fazer, a técnica); e a natureza. O Rio Potengi é patrimônio natural da humanidade. E não se pode pensar de forma dissociada dos outros dois elementos, uma vez que o homem ocupou o espaço natural e ergueu sua morada. Dentro dessa perspectiva de preservação, e para se reconhecer enquanto memória e indivíduo, o elemento Natureza também foi incorporado ao patrimônio cultural.

Até chegar a esta evolução do pensamento, o historiador Alex Xavier analisa as construções antigas: armoriais, coloniais, intimamente ligadas ao tipo de vivência humana da época. O historiador explica que, nos séculos 16 e 17, o conceito de tempo era diferente. Andava-se a pé ou de carroça. Havia tempo para admirar paisagens. O reflexo na arquitetura eram fachadas ricas em detalhes, atrativos visuais, como no período barroco. Hoje, notícias chegam dos quatro cantos do mundo em tempo-real. Não há mais distâncias. As fachadas lisas eliminaram os detalhes em função da correria dos dias, da velocidade dos automóveis, do pouco tempo para admirar minúcias.

Os espaços foram se abrindo com o tempo. Após o barroco – quando os conceitos de volume e simetria vigentes no renascimento são substituídos pelo dinamismo e pela teatralidade – veio o rococó: estilo marcado pela sensibilidade, percebida na distribuição dos ambientes interiores, destinados a valorizar um modo de vida individual. Depois, o neoclássico. Esse retorno à época clássica, segundo Alex, é a tentativa de reaver o estilo grego-romano, com formas equilibradas, colunas, frontões. Esse tipo de arquitetura está presente na antiga Pinacoteca do Estado, ou no Instituto Histórico Geográfico do RN, na Cidade Alta.

O Teatro Alberto Maranhão é o retrato típico do ecletismo, estilo pós-neoclássico que ocorre entre os séculos 19 e 20. Segundo Alex, a antiga construção (Teatro Carlos Gomes), tinha estilo neoclássico, com frontão grande e triangular. As reformas no TAM deram-lhe elementos que lembram o ecletismo e a arte noveau. E o ecletismo, como explica o historiador, é o período onde o homem tenta se encontrar. O homem sai do ruralismo, mas ao mesmo tempo não se insere em grandes cidades. Em termos de arquitetura, o ecletismo torna-se mais funcional para atender a demanda das cidades que cresciam.  É a influência francesa e inglesa; dos países da belle époque.

Após o advento de 1922, o estilo modernista se impõe como modelo arquitetônico. É o uso constante do concreto nas edificações. A partir daí passa-se a se preocupar com o espaço interno do ambiente. Um reflexo aos paradigmas sociais da época. Nesse mesmo período, a Semana da Arte Moderna abre uma nova fase no pensamento crítico, literário e influencia novas ideias e reflexões. Mais tarde, a arquitetura de Oscar Niemeyer e a construção de Brasília se mostram um divisor de águas e abrem perspectivas para o estilo pós-modernista.

Entramos na dita fase pós-moderna. O revestimento adere ao concreto. É o reflexo da preocupação com a imagem externa, com a “aparência”, sobrepondo a valorização dos elementos internos. Aparecem com mais intensidade os letreiros para identificar locais. É que os pós-moderninhos andam cada vez mais rápidos, alienados e apressados. É preciso chamar a atenção do passante. E os letreiros são cada vez maiores, para atingir também o motorista do automóvel. E os letreiros são cada vez mais chamativos, eletrônicos, a acompanhar a “onda” cibernética, robótica, digital. A arquitetura externa também procura chamar mais atenção. E, claro, a semelhança com o convívio social não é mera coincidência.

CATEDRAL METROPOLITANA DE NATAL

Um dos monumentos arquitetônicos mais significativos da cidade, a Catedral Metropolitana de Natal está próxima de completar 20 anos de sua inauguração. O projeto inicial foi elaborado em 1972, pelo então arquiteto recém-formado, Marconi Grevi. A execução teve início em 1974 e foi concluída em 1988. Grevi comenta que foi uma obra considerada de conclusão rápida. E cita como exemplo a catedral de Galdi, em Barcelona, em construção há mais de 300 anos. É que, como lembra o arquiteto, a igreja se mantém de donativos, que emprega na obra à medida que recebe.

A Catedral herdou as influências do estilo modernista de Oscar Niemeyer. Grevi conta que a tendência modernista na arquitetura, e do vislumbre da recém-inaugurada Brasília era muito forte na época e muito estudada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde se formou. Grevi lembra que Oscar Niemeyer também recebeu influências. Foi do arquiteto francês Le Corbusier. “Muito da arquitetura moderna hoje ainda segue essa influência. Os pilotis, as fachadas planas de vidro, os tetos-jardins. Tudo é idéia de Corbusier”.

As características da Catedral é a da chamada arquitetura brutalista, onde o concreto é bem aparente, sem máscaras, revestimentos ou rebocados. Há linhas baixas com tendências de subida para o céu, intencionalmente para designar o caminho ao Divino. Afora o concreto, o piso é tudo em tijolo, cerâmica e ardósia. Grevi lembra que se o projeto da Catedral fosse feito cerca de quatro anos antes a execução seria impossibilitada. É que quatro anos antes de iniciada a construção ainda não existia o concreto protendido, empregado na obra – e também na nova ponte sobre o Rio Potengi – e que hoje ainda é novidade em termos mundiais.

Grevi lembra da fase de aprovação do projeto arquitetônico da Catedral. Ele recorda que durante cinco anos a cidade recebeu projetos variados de alunos de engenharia. “Houve as ruínas de um projeto que não vingou. A arquitetura era muito pesada para um espaço pequeno. Tomava a praça toda e só tinha lugar para 300 pessoas sentadas. Viram que não era projeto para uma catedral. Cheguei de Recife, elaborei um projeto e apresentei à Arquidiocese. O arcebispo era dom Nivaldo Monte, que se reuniu com todo o clero para aprovar o projeto em unanimidade. Houve ainda uma reunião da Arquidiocese com toda a representação do estado: diretores lojistas e de colégio, governos. Criou-se uma comissão e a execução teve início em 1974”.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *